O agronegócio mundial no século 21
A demanda por alimentos deverá ter comportamento distinto entre países em desenvolvimento e desenvolvidos. Nos primeiros, espera-se um elevado crescimento do consumo de alimentos, nos países desenvolvidos, a tônica não deve ser o aumento quantitativo da demanda, mas, sim, qualitativo . Nesse cenário de extraordinárias mudanças na produção e no consumo de alimentos, espera-se uma expansão sem precedentes do mercado agrícola mundial, com destaque para as carnes e os lácteos.
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A demanda por alimentos deverá ter comportamento distinto entre países em desenvolvimento e desenvolvidos. Nos primeiros, espera-se um elevado crescimento do consumo de alimentos, empurrado por três fatores: crescimento populacional, aumento da renda per capita e urbanização. De acordo com as projeções, em 2050 mais de 85% da população mundial estará vivendo nos países em desenvolvimento.
Chama a atenção o preocupante crescimento populacional da África Subsaariana (130% até 2050), países árabes (79%) e Índia (44%). A tendência de maior urbanização é global, porém muito mais acentuada na África e na Ásia, onde cerca de 60% das pessoas ainda vivem em zona rural. Estima-se que mais de 1,5 bilhão de pessoas irão deixar a zona rural em busca de melhores oportunidades de trabalho na área urbana nas próximas décadas. Aumento da renda per capita e da urbanização são os vetores que explicam o processo de mudança nos padrões alimentares nos países em desenvolvimento (o chamado "efeito graduação"), com a contínua substituição de grãos, amidos e vegetais por carnes, lácteos, doces e frutas.
Nos países desenvolvidos, a tônica não deve ser o aumento quantitativo da demanda, que já se encontra em patamares demasiadamente elevados, mas, sim, a demanda qualitativa: conveniência e praticidade (fast food, serviços de alimentação, etc.) e crescente preocupação com aspectos relacionados à saúde e ao bem-estar (nutrição, qualidade e segurança do alimento), decorrentes do rápido envelhecimento da população e do aumento de problemas como obesidade (que nos EUA já acomete 25% da população com mais de 20 anos) e diabetes. Dessa forma, regulamentações associadas à sanidade animal e vegetal, rastreabilidade, rotulagens, boas práticas ambientais e laborais e certificações serão cada vez mais presentes e rigorosas.
Pelo lado da oferta, a escassez de recursos naturais deve limitar cada vez mais a produção de alimentos, principalmente no norte da África, no Oriente Médio e no sudeste da Ásia, tornando-se fator de expansão em outras regiões. O Brasil é o país que possui a melhor combinação de fatores de produção para expandir a oferta agropecuária de forma sustentável: água, terras, clima e, principalmente, alta tecnologia e possibilidades de aproveitamento de economias de escala e escopo.
A expansão recente dos biocombustíveis provocou o surgimento de previsões neomalthusianas, que antevêem uma explosão de preços nas commodities agropecuárias e o conseqüente aumento da fome nos países mais pobres. É obvio que pode haver algum aumento de preços no curto prazo, principalmente se EUA e União Européia insistirem em produzir enormes volumes de biocombustíveis com matérias-primas caras e de baixa produtividade e conversão energética, como o milho e o óleo de canola. No entanto, se prevalecer a lucidez por meio de uma progressiva abertura dos mercados de combustíveis renováveis, o risco é muito menor, já que plantas tropicais, como cana-de-açúcar e palma (dendê), e, no futuro, forragens tropicais e pinhão-manso certamente serão imbatíveis ante as alternativas de clima temperado.
Ocorre que as previsões catastrofistas feitas pelo economista britânico Thomas Malthus por volta de 1800 subestimaram o poder do progresso tecnológico, que permitiu que hoje se utilize apenas 1 hectare agrícola para alimentar cada habitante em zona urbana, ante 3,5 hectares no início dos anos 60. O problema da fome no mundo não vem da falta de alimentos, mas sim da falta de renda.
O progresso tecnológico explica a famosa "tendência secular de declínio dos preços reais dos produtos agropecuários" e a redução das despesas com alimentação à medida que a renda familiar aumenta (a chamada Lei de Engel, de 1857). Portanto, erram grosseiramente aqueles que, desconhecendo a literatura pertinente, afirmam que as commodities agropecuárias terão os seus preços elevados na mesma proporção do petróleo e de alguns minerais, o que justificaria uma taxação "à la Argentina". Se o petróleo é cada vez mais escasso (e, portanto, mais caro), as commodities agrícolas são por natureza renováveis e dispõem de novas fronteiras tecnológicas - como a biotecnologia e a engenharia genética -, que permitirão novos saltos de produtividade e a continuidade da redução secular dos seus preços reais.
Nesse cenário de extraordinárias mudanças na produção e no consumo de alimentos, espera-se uma expansão sem precedentes do mercado agrícola mundial, com destaque para as carnes (bovina, suína e avícola) e os lácteos, que deverão dobrar as suas exportações até 2015, seguidos pela soja, arroz e açúcar. O eixo dinâmico da oferta exportadora de commodities competitivas será deslocado dos países ricos para os emergentes, que dispõem de recursos naturais, tecnologia e sistemas agrários eficientes (o maior potencial está na América do Sul e no Leste da Europa), e a demanda por importações migrará dos países ricos para os emergentes da Ásia e do Oriente Médio.
Neste contexto, as políticas agrícolas que nos parecem mais importantes para o futuro do setor no Brasil são reduzir a volatilidade cambial, abrir mercados e investir pesadamente em infra-estrutura, defesa agropecuária e biotecnologia.
Material escrito por:
Marcos Sawaya Jank
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Luciano Rodrigues*
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Daniel Furlan Amaral
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LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 10/01/2010
Tecnólogo em Irrigação-Centec
SÃO SEBASTIÃO DA GRAMA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 29/12/2009

MATIPÓ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 26/12/2009
Para o senhor Nei Antonio Kulka meus parabéns pelo comentario.

PRESIDENTE PRUDENTE - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 04/09/2007

CANOAS - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO
EM 29/08/2007
O Brasil é o único país do mundo com capacidade de aumentar sua área agricultável em condições de plantar, criar e colher. O problema maior é o desacato ao meio ambiente. Se não houver atitudes que impeçam a degradação da natureza de nosso país, a sustentabilidade, tão preconizada, resultará em efeitos contrários aos esperados.
UNIÃO DA VITÓRIA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 09/07/2007
Aqueles agricultores que ouvem a palavra dos técnicos, estão se preparando para atender a demanda, independente de serem agricultores familiares ou empresariais.
Da mesma forma, para aqueles técnicos que não possuem "viseiras" em suas fontes e buscam o aperfeiçoamento e o trabalho empreendedor, estes sempre terão trabalho!

CURITIBA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 15/05/2007

BENTO GONÇALVES - RIO GRANDE DO SUL - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO
EM 14/05/2007
Divirjo quando o senhor afirma que o valor dos alimentos continuará caindo, fruto de novas tecnologias e maior produtividade: é um fato que cada vez mais áreas serão destinadas à produção de combustíveis; isto me parece muito bom, pois deverá levar os alimentos a um preço justo neste país, onde costumo dizer que produzimos muito e bem, mas recebemos valores irrisórios pela nossa produção, porque este é um país que gosta de distribuir miséria.
É só darmos uma verificada no que está sendo pago pelos grãos, carne, etc. e veremos que os lucros do setor, tão propagandeados, não se repetem aqui.
É mais do que hora de que recebamos preços justos pela nossa produção.

SALVADOR - BAHIA - PESQUISA/ENSINO
EM 12/05/2007
Concordo que o Brasil precisa resolver seus problemas estruturais que tanto brecam o desenvolvimento do seu melhor negócio: o agronegócio não pode e não deve ser motivo de barganhas políticas.

AUGUSTO PESTANA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 09/05/2007
Nestes últimos 20 anos sempre defendi e continuo defendendo esta lógica para os pequenos produtores e implantando no município programas relativos às atividades abordadas no tema.
E nos dias de hoje os produtores que acreditaram nos técnicos e persistiram nas suas atividades agropecuárias estão colhendo os frutos, enquanto que aqueles imediatistas e sem persistencia estão cada vez mais dependentes das bolsas e vales.
Um grande abraço,
Valdir Goergen
Produtor de Leite, Sec. Municipal de Agricultura
e Técnico Agricola.

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - ESTUDANTE
EM 07/05/2007
Certamente teremos nesse futuro próximo a confirmação da "vocação de ser o celeiro agrícola do mundo". Nesta época inexistirá exploração agropecuária sem o controle dos fatores de produção: insumos estratégicos, irrigação, biotecnologia e condições ambientais. Faz-se necessário termos estes fatores internamente.
Será que as mudanças climáticas permitirão tal feito? Ou será o caos?
Estamos trabalhando agora para as gerações futuras. Sabemos que os recursos naturais são esgotáveis e que é perfeitamente possível produção com preservação e responsabilidade social.

SANT'ANA DO LIVRAMENTO - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE
EM 07/05/2007
Muito obrigado