“Com exceção de algumas regiões, o preço praticado é mais alto que o da tabela porque estamos em um momento de muita demanda, que deve permanecer até fevereiro e março, quando o Brasil colher outra safra recorde de grãos”, afirmou ao Valor Edeon Vaz Ferreira, diretor-executivo do movimento Pro-logística da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja).
Depois de março, os valores tendem a cair um pouco e a tabela só será efetivamente cumprida se as empresas forem obrigadas. “Continuamos defendendo que qualquer tabelamento é inconstitucional e distorce o mercado”, disse.
Em nota divulgada na sexta-feira, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que representa as principais tradings, também criticou a tabela do frete. “Uma medida que impede a livre negociação de um segmento importantíssimo da economia nacional e que está em total de desarmonia com o procedimento liberal do atual governo”, avaliou.
Críticos de primeira hora do tabelamento do frete - medida implementada no governo Michel Temer para contar a paralisação dos caminhoneiros -, o setor de agronegócios aguarda o julgamento sobre a validade da tabela no Supremo Tribunal Federal (STF). O tema está na pauta do dia 19 de fevereiro e, ao que tudo indica, será de fato julgado.
“O momento é propício porque não há pressão dos caminhoneiros e não há boatos de novas greves”, avaliou Frederico Favacho, consultor jurídico da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que assim como a Aprosoja e outras entidades do agronegócio é contra o tabelamento. “Acredito que o STF pode permitir uma tabela referencial, não mais que isso”.
Para o consultor jurídico da associação, outro problema na atualização feita na semana passada foi a inclusão de novos itens no cálculo de custos. “Incluir novos elementos a cada atualização traz insegurança jurídica”, disse.
A tabela que entra em vigor na segunda-feira trouxe como novidade no cálculo de valor a obrigação do pagamento do frete de retorno para algumas cargas, como combustível. O texto também incluiu a cobrança de diárias de estadia e de refeição do caminhoneiro e um novo tipo de carga, a pressurizada. Com isso, a regulamentação passou a abranger, ao todo, 12 categorias.
“A estimativa da EsalqLog [que elabora a tabela] é muito aberta. Não há controle e transparência dos critérios. De onde tiram o custo de hospedagem?”, questiona Favacho.
Em relação ao percentual de correção dos valores, entre 11% e 15%, os representantes das entidades disseram que já eram esperados porque a decisão da ANTT foi precedida de audiências públicas.
Na avaliação de caminhoneiros, o reajuste ficou aquém da necessidade. Wallace Landim, conhecido como Chorão, considera que o aumento deveria ter sido entre 15% e 18% para compensar o desgaste de pneus, gastos com diária dos motoristas e a alta do diesel dos últimos seis meses.
Apesar da diferença entre os percentuais, Chorão não defende qualquer movimento dos caminhoneiros contra o governo.“Nós queremos apenas que a tabela seja cumprida e por isso esperamos o julgamento do STF", disse ele.
Após o julgamento no STF, Chorão pretende ampliar pauta dos caminhoneiros. "Vamos ampliar a pauta para redução do diesel, com a exigência, por exemplo, de uma alíquota única de ICMS sobre os combustíveis para todos os Estados”, afirmou. O combustível representa 38% dos custos do transporte rodoviário.
Para outro líder da categoria, Fabiano Márcio da Silva, o Careca, somente a constitucionalidade da tabela garantirá a remuneração justa do motorista. “Atualmente, empresas de gesso e sal do Nordeste não têm cumprido a tabela e alguns motoristas aceitam porque precisam. Se for lei e tiver fiscalização, registro no Ciot e tal, duvido que não cumpram”.
Para ele, a medida mais importante da ANTT foi publicada no mês passado e entrou em vigor dia 17, e visa a obrigatoriedade do registro do Código Identificador da Operação de Transporte (Ciot) para todas as cargas. “Algumas empresas desonestas pagavam uma coisa no papel e depois faziam o caminhoneiro devolver parte do dinheiro”, conta Careca.
Agora, a empresa que deixar de cadastrar a operação com Ciot receberá multa de R$ 5 mil. Burlar a fiscalização com dados falsos passou a ser infração com multa entre R$ 550 e R$ 10,5 mil. Em nota, a Abiove criticou o estabelecimento do cadastro. "Prejudica ainda mais o setor produtivo, aumentando custos e gerando burocracia, sem permitir que as partes tenham prazo adequado para se adaptar à nova resolução", avaliou a associação.
Para o caminhoneiro Careca, outra notícia positiva foi o fim da carta-frete, que funcionava como um voucher dado pela empresa contratante ao caminhoneiro. Ele podia trocar a carta-frete por produtos e serviços em postos parceiros da empresa contratante, mas todos os caminhoneiros reclamavam que os preços nesses locais eram sempre mais elevados que em concorrentes. “Agora o pagamento terá que ser em conta. Não dá para burlar”, ressaltou ele.
As informações são do Valor Econômico.