Os resultados fazem parte de uma pesquisa feita no início deste mês com quase 5,5 mil pais em sete regiões metropolitanas do País pelo Instituto Locomotiva em parceria com a Dotz.
Filhos com idade entre 4 e 12 anos são os que mais interferem nas compras de supermercado, especialmente de guloseimas, como chocolates, refrigerantes e achocolatados. Isso é atestado pela representante comercial autônoma Monique Olsson, de 33 anos, mãe de Lorena, de 6 anos. “Vou toda a semana ao supermercado e quando levo minha filha gasto muito mais porque acabamos comprando sorvete, bolacha recheada”, conta a mãe.
A cada visita ao supermercado, Monique gasta R$ 500. Se fosse sem a filha, calcula que desembolsaria R$ 400. Ela diz que atende aos pedidos da filha na hora de escolher os produtos, mas não dá sinal verde para tudo que ela quer comprar. Essa situação hoje é completamente diferente da época em que Monique era criança. “No meu tempo, refrigerante era só no final de semana, tudo era mais restrito e os pais decidiam”, lembra.
Surpresa
Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, os resultados da pesquisa foram uma surpresa. “O poder das crianças é maior do que o senso comum imagina, quando 88% dos pais admitem a influência dos filhos na hora da compra de todos os produtos vendidos nos supermercados, não apenas guloseimas.”
Não é sem motivos que 92% dos entrevistados declararam que levam os filhos ao supermercado só de vez em quando e 30% disseram que estão sempre acompanhados eles. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que existem no Brasil 38,2 milhões de crianças com até 12 anos de idade. As regiões Norte e Nordeste reúnem a maior parte dos pequenos: 15,5 milhões de crianças. A grande maioria (88%) pertence às famílias de menor renda, das classes C, D e E.
Meirelles observa que o cruzamento das informações sobre o perfil dessa população com os resultados da pesquisa explica o motivo pelo qual os pais de famílias de menor renda evitam de levar os filhos quando vão às compras.
A enquete revelou também que 70% dos pais dão mais importância para as marcas de produtos usados pelos filhos do que as preferidas por eles mesmos. Refrigerantes (68%), achocolatados (62%) e chocolates (60%) são itens com marcas mais conhecidas dos filhos.
Diante da forte legislação existente em relação à publicidade infantil, Meirelles acredita que a influência das marcas vem da internet e também dos amigos de escola. A mãe de Lorena, por exemplo, diz que o que a filha consome tem bastante influência dos amiguinhos. “Mas também ela sabe o que ela gosta”, pondera.
Lógica
Dados qualitativos da enquete revelaram informações, no mínimo, curiosas sobre o comportamento de pais em relação ao consumo dos filhos. Meirelles conta que as respostas dos entrevistados mostraram que as classes de maior renda aprovam o consumo infantil como um sinal de indulgência. “Dão um chocolate para a criança ficar feliz.”
Para as famílias de menor renda essa lógica é diferente, diz o presidente do Instituto Locomotiva. Querem proporcionar para os filhos tudo o que não eles tiveram acesso. “Se meu filho se alimentar melhor, ele cresce saudável e terá mais condições de ter sucesso.”
Na opinião de Meirelles, para os mais pobres vale no consumo a lógica do investimento e a aposta de que o filho bem sucedido pode ser um arrimo da família no futuro. Isso, segundo ele, abre uma grande possibilidade para o varejo e a indústria na venda de produtos premium, de melhor qualidade.
As informações são do jornal O Estado de São Paulo.