Nestlé devolve US$ 20 bi a acionistas e crescimento nas vendas é impulsionado por Brasil e EUA

A Nestlé, maior fabricante de alimentos e bebidas do mundo, prometeu devolver 20 bilhões de francos suíços (US$ 20,2 bilhões) para seus acionistas nos próximos três anos, após concluir a venda de sua unidade de produtos dermatológicos.

O anúncio da devolução, na forma de recompra de ações ou dividendos especiais, foi feito ontem juntamente com a divulgação do desempenho do terceiro trimestre e é o mais recente sinal de como os esforços do CEO Mark Schneider para reformular a companhia vêm ganhando ritmo.

O objetivo do plano do executivo alemão é aumentar o ritmo de crescimento das vendas e as margens de lucro da empresa, que fabrica produtos como o Nescafé, os chocolates KitKat e os alimentos para bebês Gerber.

Além da venda de algumas unidades, como a de produtos dermatológicos, que não é mais essencial para a estratégia da Nestlé, o plano inclui a saída de categorias que vêm perdendo popularidade entre os consumidores. Um exemplo é Herta, uma fabricante de embutidos, colocada à venda.

A Nestlé e outras fabricantes de bens de consumo vêm tentando acompanhar as rápidas mudanças no gosto dos consumidores e os novos comportamentos de compra na era do comércio eletrônico.

“Precisamos ser mais velozes em categorias em crescimento e sair de áreas que não são boas oportunidades”, disse Schneider. “Esperem pois há mais por vir no futuro”, acrescentou, quando perguntado se há planos de mais mudanças em suas linhas de produtos. Ele acrescentou que não se trata de alguma única grande transação, mas de um processo no qual as fusões e aquisições são parte do repertório para impulsionar o crescimento orgânico. “Sempre fomos um comprador e vendedor de empresas bastante atuante, para nos manter em sintonia com os desejos dos consumidores.”

Para esse fim, a Nestlé reservou-se a opção de ajustar o plano de recompra de ações se quiser realizar “qualquer aquisição considerável” durante o período, destacando que o conselho de administração e os executivos dão preferência a “investimentos que criem valor para expandir as operações principais da companhia”, citando alimentos, bebidas e produtos nutricionais para a saúde.

Em sinal de que as aquisições podem estar ganhando importância em sua agenda, a Nestlé promoveu Sanjay Bahadur, que comanda a área de desenvolvimento de negócios e aquisições, para o conselho executivo. Seu novo posto tem o objetivo de “identificar oportunidades de crescimento internas e externas”.

Operacionalmente, a Nestlé, sob o comando de Schneider, cresceu de forma constante neste ano, com bom desempenho de suas operações de café, ração para animais de estimação e alimentos para bebês, o que lhe permite reiterar as metas anuais.

A unidade de água engarrafada, que é o menor de seus sete segmentos de negócios, foi um ponto negativo, já que as receitas ficaram estagnadas e as vendas em volume caíram 2% neste ano. A divisão enfrentou aumento na competição e custos maiores e a Nestlé anunciou ontem uma reorganização. A unidade deixará de ser administrada como uma entidade independente, comandada globalmente a partir da sede na França. Agora, passará a ser gerida localmente pelas operações regionais da Nestlé. O atual chefe da Nestlé Waters, Maurizio Patarnello, deixará a empresa.

Crescimento nas vendas

A Nestlé relatou um crescimento de 2,9% nas vendas acumuladas de janeiro a setembro de 2019 em relação a igual período do ano anterior, para 68,37 bilhões de francos suíços. O desempenho foi impulsionado especialmente pelos mercados brasileiro e americano.

As operações da Nestlé no Brasil reportaram avanço de um dígito "médio" — em torno de 5% — neste período, com destaque para os produtos das linhas de laticínios, de nutrição infantil e os chocolates KitKat. O avanço na América do Norte também foi de um dígito médio. Parte importante das vendas na América do Sul e na América do Norte foi relacionada a produtos com a licença da rede de cafés Starbucks, segundo a empresa.

O crescimento orgânico global foi de 3,7%, sendo 3% correspondente ao crescimento de volumes e 0,7% ligado a aumento de preços. De acordo com a estimativa de analistas, a receita total ficou levemente abaixo do esperado, que era de 68,74 bilhões de francos suíços. A Nestlé reiterou as projeções para 2019 de que o crescimento orgânico alcançará os 3,5%, com uma margem de lucro operacional de ao menos 17,5%. 

O desempenho foi melhor do que o da Unilever, que teve crescimento orgânico de vendas de 3,4% no mesmo período, e aumentou a diferença na avaliação das respectivas ações.

As ações da Nestlé acumulam valorização de cerca de 30% neste ano, superando a alta em torno de 20% do índice MSCI Europa de bens de consumo, o que tem levado analistas a se perguntar se o valor relativo dos papéis da empresa já teria alcançado seu pico. “Embora tenhamos interpretado a atualização dos números como sólida e tranquilizadora, o contexto é de uma valorização consensual longa e elevada”, escreveu o analista Martin Debbo, do banco de investimento Jefferies, em nota a investidores.

As informações são do Valor Econômico, adaptadas pela Equipe MilkPoint.