Antônio Julião Bezerra Damasio, presidente da Cooperativa de Laticínios de Sorocaba (Colaso), vai na mesma linha. Para ele, os valores do leite longa vida estão cerca de 4% abaixo dos preços do mês anterior, e um pouco acima dos cotados no mesmo período de 2005, visto que no ano passado, houve uma queda nos preços do leite em geral.
O principal motivo apontado para o atual cenário do mercado é o aumento da safra sulista. Segundo Tunicelli, muitos agentes forçaram a venda do produto em virtude da probabilidade de aumento de oferta no Sul, o que pressionou uma queda dos preços.
Além disso, a menor exportação e, ao mesmo tempo, maior importação de leite em pó, também acabou afetando o mercado de longa vida. Segundo Damasio, a situação se deve à dificuldade de exportar leite, tendo o dólar relativamente baixo. Desse modo, muitos agentes do setor, tendo em vista a inviabilidade da comercialização externa, optam por produzir leite UHT porque o escoamento desse produto é melhor.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em julho, foram importadas cerca de 2,9 mil toneladas de leite em pó (produto mais exportado pelo Brasil), enquanto que a exportação desse mesmo produto foi de apenas 330 toneladas. Essa diferença pode justificar em parte uma influência negativa sobre o mercado de leites UHT.
No acumulado do ano, o Brasil importou 21 mil toneladas de leite em pó, enquanto exportou apenas 14,7 mil toneladas do produto, o que resultou em cerca de 6,3 mil toneladas a mais de leite em pó no mercado interno. Já para o leite longa vida, o cenário esteve mais equilibrado no mês de julho. Embora com menor representatividade no comercialização de lácteos do Brasil, houve importação de 1,065 mil toneladas e a exportação de 1,11 mil toneladas.

Fonte: Secex
Elaboração: Equipe MilkPoint
Gráfico 2. Exportação e importação brasileira de leites UHT em 2006, em quilos.

Fonte: Secex
Elaboração: Equipe MilkPoint
O aumento da produção também pode ser um fator responsável por essa queda. Segundo Roberto Tuniccelli, da CCL, em 2005 a produção aumentou cerca de 10% frente a 2004, e, neste ano, houve um acréscimo de 4% ou 5% sobre a produção do ano anterior.
Esses fatores, somados, podem explicar a desvalorização do leite UHT. A expectativa, de acordo com Tunicelli, é que os valores do leite longa vida se estabilizem, visto que neste mês houve volta às aulas. Damasio também acredita em estabilidade dos preços a partir deste momento em função dos valores do leite longa vida estarem ficando próximos aos custos da produção. E, para ele, o mercado dependerá das condições de exportação.
Os preços de exportação do leite longa vida tiveram uma queda de cerca de 18% em julho frente ao mês anterior. Mas, durante todo o ano, os valores estiveram acima dos obtidos em 2005.
Tabela 1. Preços médios do leite longa vida exportado de janeiro a julho de 2005 e 2006, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex)

Fonte: Secex
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Aline Ferro, da Equipe MilkPoint.