Lideranças discutem desafios da qualidade do leite

Cerca de 60 pessoas ligadas ao agronegócio do leite estiveram reunidas em Brasília, nos dias 18 e 19 de novembro, no workshop "Qualidade do Leite: próximos desafios". O evento, realizado pela Embrapa Gado de Leite em parceria com outras instituições, colocou numa mesma rodada de debates agentes do setor produtivo, pesquisadores, professores, gestores do setor público e de empresas privadas, extensão rural, Senai, Sebrae, Sesi etc.

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Cerca de 60 pessoas ligadas ao agronegócio do leite estiveram reunidas em Brasília, nos dias 18 e 19 de novembro, no workshop "Qualidade do Leite: próximos desafios". O evento, realizado pela Embrapa Gado de Leite em parceria com outras instituições, colocou numa mesma rodada de debates agentes do setor produtivo, pesquisadores, professores, gestores do setor público e de empresas privadas, extensão rural, Senai, Sebrae, Sesi etc. Desde que a Instrução Normativa 51 (IN 51) entrou em vigor, esse foi o encontro mais representativo do setor para se discutir qualidade do leite no Brasil.

Na pauta, estavam temas como a situação atual da qualidade do leite segundo os resultados das análises da Rede Brasileira de Qualidade do Leite (RBQL) e os avanços na implementação da IN 51. As discussões apontaram para uma realidade nada otimista: após dez anos, quando o foco do setor se voltou para a qualidade, o leite brasileiro ainda está longe de competir em pé de igualdade com os principais países produtores e exportadores de lácteos.

Embora existam "ilhas de excelência" (no Paraná, por exemplo, 20% das amostras analisadas pelo Laboratório de Qualidade do Leite daquele Estado possuem índices melhores dos que os exigidos pela IN 51), no geral, os índices de Controle de Células Somáticas (CCS) e Contagem Total de Bactérias (CTB) estão aquém dos padrões internacionais. Em Goiás, por exemplo, 30% das amostras analisadas possuem mais de 750 mil unidades formadoras de colônia de bactérias/ml (limite estabelecido pela IN 51).

A melhoria da qualidade do leite nacional pode resolver questões estruturais da cadeia produtiva, como o excesso de oferta do produto que o país vive hoje. Investir no mercado externo é a saída para equilibrar a equação oferta/demanda interna. Os grandes laticínios do País apostam nisso. A Itambé já exporta para países do Oriente Médio, África, Venezuela e México. Executivos da Leite DPA disseram durante o Workshop que, em 15 anos, o Brasil será um grande exportador de lácteos. Mas, para isso, há que se resolver o problema crucial da qualidade do leite. Segundo Duarte Vilela, chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, a solução passa pela capacitação do produtor. "Há uma série de programas de treinamento, mas isso não tem sido suficiente para implementar a cultura da qualidade no setor produtivo", diz. Para Vilela, a convergência entre esses diversos programas pode potencializar os resultados.

A convergência das ações entre as diversas instituições foi uma das questões discutidas durante o workshop. Senar, Senai e Sebrae, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), instituições públicas e privadas poderiam concentrar esforços na realização de um amplo programa de capacitação. O objetivo é motivar o produtor a adotar as Boas Práticas na Fazenda.

Outra medida sugerida durante a reunião foi a re-estruturação da RBQL. A Rede de Laboratórios está em processo de ampliação. Em breve, serão dez laboratórios (atualmente são oito). Serão credenciados laboratórios em Pelotas-RS e em Belém do Pará-PA. Há ainda o projeto para a instalação de um laboratório em Porto Velho-RO. O secretário especial do Mapa, Newton Pohl Ribas, sugere que o RBQL coordene ações de educação continuada de Boas Práticas em parceria com a Emater, Senar, Sescoop e Senai. Ribas disse ainda que os Laboratórios de Qualidade do Leite da Rede devem expandir os seus serviços, criando um programa de análise de rebanhos leiteiros, com foco no acompanhamento e na rastreabilidade dos rebanhos. Atualmente, cada Laboratório possui um pacote próprio de serviços.

A convergência das ações passa também pela uniformização dos modos como os Laboratórios da Rede operam. O objetivo, segundo Ribas, é fazer com que todos os Laboratórios de Qualidade do Leite tenham o mesmo pacote de serviços dos Laboratórios de São Paulo e Paraná. A Embrapa Gado de Leite já estuda expandir os serviços do Laboratório que opera em Juiz de Fora-MG.

O workshop não chegou a um consenso sobre quais medidas práticas devem ser adotadas de imediato. Para Duarte Vilela, os debates sobre os próximos desafios para a melhoria da qualidade do leite devem se intensificar e as ações práticas surgirão em breve. De qualquer maneira, na visão de Vilela, a reunião serviu para "levantar a poeira" que se acumulava sobre o tema. Qualidade do leite no Brasil é um assunto que não deve sair, pelo menos nos próximos anos, da pauta da cadeia produtiva.

Figura 1

A matéria é de Rubens Neiva, com informações da Embrapa Gado de Leite, adaptada e resumida pela Equipe MilkPoint.
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Sidney Lacerda Marcelino do Carmo
SIDNEY LACERDA MARCELINO DO CARMO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 24/11/2008

A qualidade de leite vêm sendo rebatida apenas à adequação dos produtores às boas práticas de produção em que uma delas incluiu a implementação da IN 51. No entanto, a adequação não tem se mostrado eficiente porque a logística de coleta dos leites não passam por uma pré-seleção do leite produzido, esta parte do programa de qualidade cairia para as indústrias qualificando profissionais e readequando os caminhões de coleta com compartimentos individualizados, com finalidade de selecionar os leites separando o leite de boa qualidade do má qualidade.

Um caso a estudo é que os profissionais fariam a amostragem e pronunciariam as medidas de qualidades por algum equipamento que possibilitaria a medida de leitura dos parâmetros de qualidade. Isto porque hoje no processo de coleta de leite na fazenda o leite de um produtor com qualidade é misturado a um leite de qualidade inferior. Como falar e exportar qualidade deste modo?
antonio patrus de sousa filho
ANTONIO PATRUS DE SOUSA FILHO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/11/2008

Com o preço pago pelos laticinios ao produtor, fica difícil investir em qualidade. Hoje a preocupação do produtor é sobreviver! Como incentivar seu empregado a seguir normas técnicas com salario minimo? Incrível que um artigo deste porte não cite que um dos grandes entraves é a qualidade do leite e justamente o péssimo preço pago pelos laticinios. Não basta qualificar o produtor como cita Duarte Vilela! É necessário remunerá-lo melhor, para que possa remunerar melhor também seu retireiro, capacitando-o a seguir corretamente as normas técnicas. Ninguém trabalha sem motivação. E no nosso setor só os laticinios, varejos e burocratas de plantão estão motivados. Se o objetivo é motivar o produtor a adotar boas praticas na fazenda, como cita o texto acima, remunerem melhor o leite e a partir dai o resto é conseqüência!
renato finazzi porto
RENATO FINAZZI PORTO

SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 23/11/2008

Possuo um laboratório de análises e tenho uma certa experiência com a implementação de boas práticas, mas o processo é muito lento no que tange a aplicação junto ao homem do campo. Este está desqualificado e os operadores (funcionários), nem se fala.
L. Aguiar
L. AGUIAR

ARAXÁ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/11/2008

Se as regras da IN 51 ainda não deram o resultado esperado, a culpa com certeza não é do produtor, que tem boa vontade a se adequar às normas.

Para melhorar qualidade é necessário investimentos em infraestrura, como a concretagem de curral de espera, compra de ordenhadeira canalizada, tanques de expansão, melhoramentos na sala de ordenha e sala de leite. Acima de tudo, motivação para estar sempre cobrando e fiscalizando seus funcionários.

E com custos de produção tão altos e baixa renumeração do produtor. A única conclusão que se chega é de que é impossível produzir leite com qualidade e usando tecnologia no Brasil. Se alguém quiser produzir leite nesse país, esqueça todas as regras, abandone suas ordenhadeiras, deixe de fornecer ração e volte a tirar leite uma vez por dia com vacas azebuadas que produzem até quatro litros de leite por dia. Como fez um competente presidente de uma indústria de laticínios na região do alto Paranaíba. Senão estaremos fadados a falência em pouco tempo.

Talvez seja mais vantajoso para o País plantar cana e eucalipto e importar leite de países com uma política seria de apoio ao produtor, como a Nova Zelândia.
RICARDO JOSÉ BASTOS
RICARDO JOSÉ BASTOS

OUTRO - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/11/2008

Entendo ser este o assunto mais relevante da cadeia produtiva do leite, porem acredito que só com o pagamento por qualidade teremos grande avanço nesta questão.
Qual a sua dúvida hoje?