Na pauta, estavam temas como a situação atual da qualidade do leite segundo os resultados das análises da Rede Brasileira de Qualidade do Leite (RBQL) e os avanços na implementação da IN 51. As discussões apontaram para uma realidade nada otimista: após dez anos, quando o foco do setor se voltou para a qualidade, o leite brasileiro ainda está longe de competir em pé de igualdade com os principais países produtores e exportadores de lácteos.
Embora existam "ilhas de excelência" (no Paraná, por exemplo, 20% das amostras analisadas pelo Laboratório de Qualidade do Leite daquele Estado possuem índices melhores dos que os exigidos pela IN 51), no geral, os índices de Controle de Células Somáticas (CCS) e Contagem Total de Bactérias (CTB) estão aquém dos padrões internacionais. Em Goiás, por exemplo, 30% das amostras analisadas possuem mais de 750 mil unidades formadoras de colônia de bactérias/ml (limite estabelecido pela IN 51).
A melhoria da qualidade do leite nacional pode resolver questões estruturais da cadeia produtiva, como o excesso de oferta do produto que o país vive hoje. Investir no mercado externo é a saída para equilibrar a equação oferta/demanda interna. Os grandes laticínios do País apostam nisso. A Itambé já exporta para países do Oriente Médio, África, Venezuela e México. Executivos da Leite DPA disseram durante o Workshop que, em 15 anos, o Brasil será um grande exportador de lácteos. Mas, para isso, há que se resolver o problema crucial da qualidade do leite. Segundo Duarte Vilela, chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, a solução passa pela capacitação do produtor. "Há uma série de programas de treinamento, mas isso não tem sido suficiente para implementar a cultura da qualidade no setor produtivo", diz. Para Vilela, a convergência entre esses diversos programas pode potencializar os resultados.
A convergência das ações entre as diversas instituições foi uma das questões discutidas durante o workshop. Senar, Senai e Sebrae, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), instituições públicas e privadas poderiam concentrar esforços na realização de um amplo programa de capacitação. O objetivo é motivar o produtor a adotar as Boas Práticas na Fazenda.
Outra medida sugerida durante a reunião foi a re-estruturação da RBQL. A Rede de Laboratórios está em processo de ampliação. Em breve, serão dez laboratórios (atualmente são oito). Serão credenciados laboratórios em Pelotas-RS e em Belém do Pará-PA. Há ainda o projeto para a instalação de um laboratório em Porto Velho-RO. O secretário especial do Mapa, Newton Pohl Ribas, sugere que o RBQL coordene ações de educação continuada de Boas Práticas em parceria com a Emater, Senar, Sescoop e Senai. Ribas disse ainda que os Laboratórios de Qualidade do Leite da Rede devem expandir os seus serviços, criando um programa de análise de rebanhos leiteiros, com foco no acompanhamento e na rastreabilidade dos rebanhos. Atualmente, cada Laboratório possui um pacote próprio de serviços.
A convergência das ações passa também pela uniformização dos modos como os Laboratórios da Rede operam. O objetivo, segundo Ribas, é fazer com que todos os Laboratórios de Qualidade do Leite tenham o mesmo pacote de serviços dos Laboratórios de São Paulo e Paraná. A Embrapa Gado de Leite já estuda expandir os serviços do Laboratório que opera em Juiz de Fora-MG.
O workshop não chegou a um consenso sobre quais medidas práticas devem ser adotadas de imediato. Para Duarte Vilela, os debates sobre os próximos desafios para a melhoria da qualidade do leite devem se intensificar e as ações práticas surgirão em breve. De qualquer maneira, na visão de Vilela, a reunião serviu para "levantar a poeira" que se acumulava sobre o tema. Qualidade do leite no Brasil é um assunto que não deve sair, pelo menos nos próximos anos, da pauta da cadeia produtiva.

A matéria é de Rubens Neiva, com informações da Embrapa Gado de Leite, adaptada e resumida pela Equipe MilkPoint.
