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Leite e doenças cardiovasculares: uma revisão das evidências epidemiológicas

POR JULIANA SANTIN

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 05/11/2007

7 MIN DE LEITURA

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O consumo de leite aumenta o nível de colesterol e isso tem levado a uma marcada redução no consumo médio de leite. Entretanto, o leite também leva a uma redução na pressão sangüínea. Uma avaliação equilibrada sobre o consumo de leite e a incidência de doenças cardiovasculares pode somente ser baseada na observação direta dos ataques cardíacos e derrames em relação ao consumo de leite.

Com base nisso, o pesquisador Peter C. Elwood, professor da Universidade Cardiff, no Reino Unido, analisou dez grandes estudos de longo prazo sobre o consumo de leite e as doenças cardiovasculares. Considerando todos juntos, não foram fornecidas evidências de um aumento no caso de doenças cardiovasculares, mas sim, a incidência de derrame e doenças cardíacas foi menor em cerca de 15% em pessoas com maiores ingestões de leite.

O trabalho de Elwood foi apresentado em um seminário promovido pelo Dairy Australia em novembro de 2004 para rever estudos sobre o papel do leite nas doenças cardiovasculares.

Mecanismos biológicos

O leite vem sofrendo uma pressão negativa, principalmente gerada pela observação de que seu consumo aumenta os níveis de colesterol. Mais de mil estudos reportam esse efeito e a análise de uma seleção destes estudos mostra que os níveis de colesterol em pessoas com alto consumo de leite é cerca de 2% a 3% mais alto do que o nível em pessoas que consomem pouco ou nenhum leite. Apesar de o aumento ser pequeno, não pode ser ignorado (1).

É, entretanto, impossível julgar a importância deste efeito, porque o consumo de leite também reduz a pressão sangüínea. Mais de 200 estudos reportaram uma redução de cerca de 4 mmHg em consumidores de leite. Não somente é difícil estimar o provável efeito combinado dessas duas ações opostas, mas tentar fazer isso pode ignorar os efeitos que o leite pode ter em outros mecanismos biológicos relevantes para as doenças cardíacas.

Estudos ecológicos

Existem grandes diferenças nos padrões de consumo de alimentos em diferentes países e os estudos correlacionaram o consumo médio de leite em uma série de países com taxas de mortalidade de doenças cardiovasculares nos mesmos países. Uma correlação muito alta foi reportada, sugerindo que as diferenças no consumo de leite podem explicar muitas das diferenças entre os países no que diz respeito à taxa de mortalidade de doenças do coração (2).

Esta abordagem tem sérias limitações. Estimativas do consumo médio de leite são baseadas na produção total de leite dividida pela população total dentro de cada país. Isso dá uma média bruta. Além disso, em comparações entre países, é impossível levar em conta diferentes fatores relevantes para as doenças cardiovasculares, como estilo de vida, fumo, consumo de álcool, etc.

Evidências de estudos ecológicos podem, então, ter algum interesse, mas é uma base totalmente inadequada para que sejam tiradas conclusões.

Estudos caso-controle

A comparação da história anterior dos pacientes com a doença, e da história passada das pessoas do grupo controle do estudo sem a doença, é uma estratégia comum de pesquisa. Dois destes estudos foram reportados no qual o consumo anterior de leite dos pacientes admitidos em um hospital com ataque cardíaco agudo foi comparado com o consumo de leite do grupo controle (3,4). Nenhum estudo forneceu evidências de que o consumo de leite foi prejudicial. Na verdade, os resultados sugerem que o consumo de leite pode conferir um pequeno grau de proteção contra doenças cardíacas.

Existem, entretanto, sérias limitações nesta estratégia de pesquisa, em particular, a memória dos pacientes, que pode estar afetada após terem sobrevivido a um evento com ameaça de morte.

Estudos de intervenção

A mais poderosa estratégia de pesquisa é o estudo controlado randomizado. Neste tipo de estudo, um grande grupo de pessoas que concordam em cooperar são solicitadas a, de forma aleatória, beber pouco ou nada de leite; ou beber grandes quantidades de leite. A ocorrência de ataques cardíacos e derrame nos dois grupos é, então, comparada ao longo do tempo. Evidências deste tipo de estudo estabelecem se o caso é contra ou a favor do leite.

Entretanto, este tipo de estudo é quase certamente inaceitável. Para se ter força suficiente, cerca de 10 mil pessoas teriam que concordar em beber muito leite ou evitar o consumo de leite e derivados por pelo menos cinco anos.

Estudos prospectivos, de coorte

Na ausência de estudos de intervenção randomizados, os estudos de coorte são os que produzem as melhores evidências possíveis. Nestes estudos, um grande número de pessoas é examinado. Dados comparativos são coletados sobre o consumo de leite e uma ampla variedade de outros fatores de relevância para os riscos de doenças vasculares. O grupo, ou coorte, é acompanhado por um período à frente e detalhes de cada novo ataque cardíaco e derrame são registrados. O consumo de leite no início do estudo é então relacionado aos casos da doença e ajustes estatísticos são feitos para efeito de possíveis fatores de confusão, como fumo, consumo de álcool, atividade física, etc.

Dez destes estudos foram reportados (5-14). Juntos, eles envolveram quase 400 mil pessoas, 8 milhões de anos de observações e um total de 8500 casos de doenças vasculares. Com exceção de apenas um pequeno estudo baseado em vegetarianos selecionados, nenhum estudo forneceu evidências de qualquer aumento nos riscos de doenças vasculares associados com o consumo de leite.

Os resultados destes dez estudos mostram certa consistência sendo razoável unir seus dados e obter uma avaliação geral do papel do consumo de leite nas doenças cardíacas e derrame. Isso é feito simplesmente comparando o risco médio ponderado de ocorrência de doenças vasculares em todas as pessoas dentro de todos os estudos que reportaram o maior consumo de leite, com o risco médio ponderado de doenças em pessoas que reportaram que bebiam pouco ou nada de leite.

As comparações foram ajustadas para os efeitos de possíveis fatores de confusão. Para simplificar a interpretação, o risco de ambos os grupos foi aumentado em escala de forma que o risco no grupo controle fosse considerado 1,0. O risco do grupo de alta ingestão de leite pode, desta forma, ser facilmente interpretado - um risco de 1,2 indicaria um aumento de aproximadamente 20% no risco, enquanto 0,8 sugeriria uma redução de 20% no risco.

Uma avaliação geral dos dados combinados dos dez estudos de coorte indicaram que, comparado com pessoas que consomem pouco ou nenhum leite, os riscos nas pessoas que consomem bastante leite foi reduzido:

- 0,83 para derrame;
- 0,87 para ataque cardíaco;
- 0,84 para qualquer ocorrência de doença vascular.


Os resultados destes dez estudos de coorte são consideravelmente consistentes, mas existem duas possíveis áreas de incertezas. Os dados iniciais do consumo de leite podem não ser confiáveis e pode haver fatores residuais de confusão por alguns fatores desconhecidos relevantes tanto para o consumo de leite como para as doenças vasculares. Essas incertezas foram discutidas detalhadamente (15) e a conclusão foi que os resultados de forma geral podem ser aceitos.

Referências bibliográficas

1. HMSO. Nutritional Aspects of Cardiovascular Disease: Report of the Cardiovascular Review Group: the Committee on Medical Aspects of Food Policy HMSO. 1994.

2. Moss, M. & Freed, D. The cow and the coronary, biochemistry and immunology. Internat. J. Cardiology. 87: 203-16 (2003).

3. Gramenzi, A., Gentile, A., Fasoli, M., Negri, E., Parazzini, F & Vecchi, C.L. Association between certain foods and risk of acute myocardial infarction in women. BMJ 300: 771-3 (1990).

4. Tavani, A., Gallus, S., Negri, E. Al & Vecchia, C. Milk, dairy products and coronary heart disease. J. Epidemiology Community Health. 56: 471-2 (2002).

5. Abbott, R.D., Curb, J.D., Rodriguez, B.L., Sharp, D.S., Birchfield, C.M. & Yano, K. Effect of dietary calcium and milk consumption on risk of thrombo-embolic stroke in older middle aged men: The Honolulu Heart Program. Stroke. 27: 813-8 (1996).

6. Bostic, R.M., Kushi, L.H., Wu, Y., Meyer, K.A., Sellers, T.A. & Folsom, A.R. Relation of calcium, vitamin D, and dairy food intake to ischaemic heart disease mortality among postmenopausal women. Am. J. Epidemiol. 149:151-61(1999).

7. Elwood, P.C., Pickering, J.E., Fehily, A.M., Hughes, J. & Ness, A. Milk drinking, ischaemic heart disease & ischaemic stroke. I. Evidence from the Caerphilly Cohort. Eur. J. Clin. Nutr. 58: 711-717 (2004).

8. Iso, H., Stampfer, M.J., Manson, J.E., Rexrode, K., Hennekens, C.H., Colditz, G.A., Speizer, F.E. & Willett, W.C. Prospective study of calcium, potassium and magnesium intake and risk of stroke in women. Stroke. 30: 1772-9 (1999).

9. Kinjo, Y., Beral, V., Akiba, S., Key, T., Mizuno, S., Appleby, P., Yamaguchi, N., Watanabe, S. & Doll, R. Possible protective effect of milk and fish for cerebrovascular disease mortality in Japan. Journal of Epidemiology. 9: 268-74 (1999).

10. Mann, J.I., Appleby, P.N., Key, T.J. & Thorogood, M. Dietary determinants of ischaemic heart disease in health conscious individuals. Heart. 78: 450-5 (1997).

11. Ness, A.R., Davey Smith, G. & Hart, C. Milk, coronary heart disease and mortality. J. Epidemiol Community Health. 55, 379-82 (2001).

12. Shaper, A.G., Wannamethee, G. & Walker, M. Milk, butter and heart disease. BMJ 302,786-7 (1991).

13. Snowdon, D.A., Phillips, R.L. & Frazer, G.E. Meat consumption and fatal ischaemic heart disease. Preventive Medicine. 13, 490-500 (1984).

14. Vijver, L. Van der., Wall, M. Van der., Wetterings, K.G.C., Dekker, J.M., Schouten, E.G. & Kok, F.J. Calcium intake and 28-year cardiovascular and coronary heart disease mortality in Dutch civil servants. International J. Epidemiology 21, 36-9 (1992).

15. Elwood,P.C., Pickering, J.E., Hughes, J., Fehily, A.M. & Ness, A.R. Milk drinking, ischaemic heart disease & ischaemic stroke II. Evidence from cohort studies. Eur. J. Clin. Nutr. 58: 718-724 (2004).

JULIANA SANTIN

Médica veterinária formada pela FMVZ/USP. Contribuo com a geração de conteúdo nos portais da AgriPoint nas áreas de mercado internacional, além de ser responsável pelo Blog Novidades e Lançamentos em Lácteos do MilkPoint Indústria.

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PAULO MARCOS RIBEIRO DA VEIGA

PASSOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/03/2008

Excelente artigo. Nóos produtores de leite temos que nos organizar para divulgar estes resultados, e desmentir aquelas pessoas que volta e meia vem à mídia dizer que o consumo de leite faz mal à saúde. Pessoas estas que atendem a grandes interesses em diminuir o consumo de leite.

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