Laep quer ficar só com a Parmalat
Endividada, sem caixa e com a credibilidade arranhada no mercado, a Laep, controladora da Parmalat, decidiu colocar boa parte dos seus ativos à venda. Nos últimos dias, começou a oferecer a concorrentes e fundos de private equity imóveis, fábricas e marcas consideradas não estratégicas, como a Glória. O fundador da Laep, o empresário Marcus Elias, está disposto a vender tudo. Menos a marca Parmalat.
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A proposta de venda de ativos - já aprovada em reunião de Conselho de Administração e enviada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - será discutida na assembléia de acionistas convocada para o dia 12 de dezembro. A decisão alteraria o plano original apresentado aos investidores no prospecto do IPO (oferta inicial de ações), feito em outubro do ano passado.
Até o início do ano, a Laep era a quarta maior produtora de lácteos do País, atrás apenas de Nestlé, Perdigão e Itambé. Depois de uma série de aquisições, chegou a captar 4 milhões de litros de leite por dia. Agora, sua captação caiu pela metade e pelo menos três fábricas estão paradas. A situação é dramática: as ações caíram mais de 90% este ano e valem R$ 0,47. Para piorar, os bancos pequenos e médios, que costumavam emprestar dinheiro para a Laep, cortaram o crédito. Procurada, a empresa não quis dar entrevista.
As negociações estão só no começo, segundo fontes próximas à companhia. Mas a expectativa de arrecadação não é muito grande. Afinal, o momento não é propício e boa parte dos ativos tem baixa liquidez.
Depois de comprar a Parmalat em recuperação judicial, há dois anos e meio, Elias elaborou um ambicioso plano de negócios de longo prazo, que incluía a verticalização da indústria do leite, estratégia inédita no setor. O projeto vendido ao mercado antes do IPO previa a compra de fazendas, vacas e embriões, além da aquisição de novas marcas e unidades de produção. A promessa era profissionalizar o setor e melhorar a produtividade, uma das mais baixas do mundo. O empresário convenceu investidores e captou R$ 507 milhões - menos, porém, do que o esperado.
A grandiosidade do plano foi só o começo dos problemas financeiros. Dias antes da estréia na Bolsa, a Laep foi envolvida na operação Ouro Branco, da Polícia Federal, acusada de adulterar leite. Depois do escândalo, as vendas caíram 10%. A seqüência de problemas não parou. A Laep cometeu um erro grave no mercado de capitais ao descumprir o plano inicial apresentado aos investidores. A empresa prometeu investir 60% do dinheiro captado na subsidiária Integralat, o projeto de verticalização da indústria. Passado o IPO, apenas R$ 80 milhões (ou 30% do dinheiro) foram investidos nesse negócio. O restante foi gasto em aquisições - algumas já vendidas, como é o caso da fábrica de requeijão Poços de Caldas - e em capital de giro.
Em junho, o banco de investimentos UBS Pactual rebaixou o preço-alvo de suas ações de R$ 11,50 para R$ 4. A marca ainda sofreria um grande golpe no mesmo mês, quando a rede Pão de Açúcar devolveu 30 mil litros de leite da Parmalat por problemas de qualidade.
A má gestão financeira deixou o caixa esvaziado, situação que só piorou com a crise de crédito. Agora, uma das saídas que Elias busca é se concentrar na marca Parmalat e reduzir a dependência do leite longa-vida, responsável por 60% do faturamento. Nesse segmento, a concorrência é grande e as margens, apertadas.
A matéria é de Mariana Barbosa e Patrícia Cançado, publicada no jornal O Estado de SP, adaptada pela Equipe MilkPoint.
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GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 29/11/2008
Logo no inicio, gerou uma insatifação muito grande dos produtores de leite da região com relação ao fornecimento de leite a Laep. Pois logo que assumiu o laticínio Ibituruna, atrasou o pagamento de leite por alguns dias. Ibituruna é uma empresa que tem mais de 40 anos e nunca tinha atrasado pagamento a seus cooperados e fornecedores.
Um grupo de produtores adquiriu no mês de outubro cerca de 340 animais entre novilhas e vacas da Laep que estavam em Cruzilhas Sul de Minas por um preço bem em conta.
Há rumores na região que a Ibituruna, que foi adiquirida por cerca de 120 milhões, foi oferecida ao grupo Perdigão por 1/4 do preço de compra e a Pedigão não quis comprar.
Como trabalhei lá por vários anos e tenho contato com vários funcionários de lá, fiquei sabendo que os funcionários vão trabalhar um dia e não sabe se vão trabalhar no outro e a coisa está muito feia. Também sei que prestadores de serviço terceirizados não estão recebendo em dia.
Fico muito triste, pois uma região onde produz cerca de 3 milhões de litros de leite além de ter que preocupar o preço baixo do leite no mercado não ter certeza que vai receber seu produto no mês seguinte. Literalmente nossos produtores estão entregando seu leite sem saber se vão receber. Tomara que isso seja passageiro pois nossos produtores merecem mais respeito.

POUSO ALEGRE - MINAS GERAIS - DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS (CARNES, LÁCTEOS, CAFÉ)
EM 29/11/2008
Fiquei impressionado com a análise dos profissionais de investimentos do UBS PACTUAL, se não me engano participaram da capitação dos recursos para LAEP. Logo após a captação rebaixaram o alvo das ações, sublime.
Fui informado que a CVM não encontrou nenhuma irregularidade na aplicação dos recursos captados e na administração do Sr. Marcus Elias na LAEP. Ao que me parece, este Sr. administrou e recuperou grandes empresas, tais como: Gomes da Costa, Camil e Unidas.
Sobre o acontecimento do leite adulterado, foi estranho o comportamento da mídia, porque no universo de 4 milhões litro/dia, foi detectado o problema em 3 mil litros com a marca Parmalat. Agora, segundo as jornalistas, em meio a 2 milhões de litro dia, 60 milhões de litro/mês surgiu um descarte de um supermercado de 30 mil litros. Não é muito, né? Era bom que as jornalistas pesquisassem a quantidade que esta rede de supermercado vende mensalmente.
Gostaria de perguntar às jornalistas e os profissionais de investimentos que tão bem analisam o mercado financeiro, as empresas e até a vida pessoal dos executivos, onde eles estavam e porque não nos avisaram, socorreram do estouro da bolha? Sublime!
Que bom, o papel e o mercado aceitam tudo.

CHAPECÓ - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO
EM 28/11/2008
Aproveito a oportunidade para comentar a seguinte passagem dessa matéria: "agora, uma das saídas que Elias busca é se concentrar na marca Parmalat e reduzir a dependência do leite longa-vida, responsável por 60% do faturamento". Acho que está faltando uma boa assessoria ao Elias, mas deixa pra lá, só me resta lamentar pelos investidores que acreditaram no projeto.
O que quero comentar é que existe outra grande organização do setor de laticínios, que não é a LAEP/Parmalat/Integralat, que está com a faca no pescoço. Sem mencionar o santo, os radares externos sinalizam desconforto profundo. Ela promoveu uma violenta exclusão de pequenos produtores, ficou só com produtores de 400 litros/dia pra cima e, como dificilmente poderia deixar de ser, seu faturamento é amplamente formado por produtos de margens baixas (UHT e pó simples).
Com isso, de um lado os produtores, agora só os grandes, acostumados a ganhar preços altos por litro vendido, não encontram mais os pequenos para contrabalançar e reduzir o preço do mix na compra da matéria-prima. No popular, "os patos que pagavam a conta" não existem mais. Mas como são grandes, acostumados aos seus ganhos e geralmente com custos unitários altos, eles pressionam o corpo dirigente dessa organização a pagar bem seu leite. No outro lado, o corpo dirigente, diante de margens estreitas e de um mercado competitivo, se sente pressionado e sem espaço de manobra suficiente para equacionar a saída deste brete.
Agora vêm as perguntas: será que acham que os pequenos agricultores são incompetentes, afinal os mandaram embora, ou agora vão buscar sua produção de leite novamente, como forma de pagar a conta? Ou vão buscar subsídios públicos para se sustentar? Ou, será como no Titanic, o iceberg não está sendo visto, a festa continua, e ele será sentido no impacto e aí quem vai pagar a conta são os produtores? Tomara que minha análise esteja errada, pois então isto não estaria acontecendo, e o navio não é um Titanic e seguira seu caminho. Mas se minha análise estiver certa, o que projeta maus presságios, não me culpem, afinal, como a criança que só viu o rei nu, mas não o despiu, eu também não fiz nada.