As associações Láctea Brasil e Leite Brasil prepararam uma nota e solicitaram a publicação do texto na integra. A revista já tirou da internet a foto do Bin Laden.
As entidades manifestaram a opinião principalmente acerca das colocações do Dr. João Aprígio, de que ingerir leite após os 2 anos é desnessário e de que índios gozam de boa saúde e não consomem leite.
Veja a foto, a matéria da revista e nota das entidades

Texto da matéria na página 73:
"Comida de bebê_tomou?
Já ouviu falar na campanha americana Got Milk, aquela que fotografou famosos bonitos e atléticos com bigodes branquinhos de leite incentivando o seu consumo? Símbolo da alimentação saudável, não? Vá com calma, as tetas das vacas guardam alguns segredos sobre a lactose. O leite materno é fundamental nos primeiros dois anos de idade de uma criança, porém, após essa idade, é desnecessário continuar bebendo o das vaquinhas. "A criança amamentada não fica desnutrida, cada mamada equivale a uma vacina", explica dr. João Aprígio, pesquisador da fundação Oswaldo Cruz e coordenador da rede brasileira de banco de leite humano. "Equivocada é a indução totalmente mercadológica de que, ao deixar de mamar no peito, a criança deve adaptar-se ao leite de vaca." Tomar leite é um hábito, uma prática cultural trazida pelos europeus. Nossos índios nunca criaram mamíferos para extrair o líquido e não eram menos saudáveis por isso. "O leite de vaca é um dos alimentos que mais causam alergias", afirma dr. Aprígio. "Apesar de ser o modo mais fácil de adquirir cálcio, não é o único. Pode ser substituído por carne vermelha, cereais ou grãos, que suprem igualmente a necessidade do ser humano." E, então, vai continuar com o bigodinho de leite?"
Nota da Láctea Brasil e Leite Brasil
Existem centenas de trabalhos científicos, produzidos e divulgados por renomadas instituições no mundo inteiro provando os benefícios da ingestão de leite e derivados para a saúde humana. Controle de peso, fortalecimento ósseo, ajuste da pressão sangüínea e prevenção de certos tipos de câncer estão entre os benefícios comprovados.
Ademais, a afirmação do Dr. João Aprígio está em descompasso com o que diversos governos adotam como orientação nutricional à população. O Guia Alimentar Oficial, publicado em 2005 pelo governo brasileiro, recomenda 3 porções diárias de lácteos que, se convertidos em quantidade, equivale a algo próximo a 200 kg de equivalente-leite por habitante por ano, substancialmente acima do nosso consumo de 138 kg. O próprio Ministério da Saúde declara que o leite e derivados fazem parte de uma alimentação nutritiva, que contribui para a saúde e para o crescimento saudável.
Países como a China, com baixa tradição no consumo de lácteos, estão nesse momento implementando programas de estímulo ao consumo de leite e derivados, com vistas à melhoria da saúde da população.
O próprio governo brasileiro incluiu o leite nos programas sociais de distribuição a populações carentes como são os casos do Fome Zero, do Viva Leite, do Governo Paulista, e do Leve Leite, da Prefeitura de São Paulo.
O argumento de que índios não consomem leite de mamíferos de outras espécies e, por isso, gozam de boa saúde é, no mínimo, simplista, uma vez que existem inúmeras outras variáveis envolvidas nessa questão. Especialistas consideram que os índios não são um bom exemplo de uma dieta equilibrada. Ademais, não nos parece que uma expectativa de vida de apenas 48 anos dos índios brasileiros, comparados aos 67 anos da média da população, possa ser indicativo de saúde. De forma oposta e igualmente superficial, poderíamos argumentar que esta baixa expectativa de vida dos índios estaria relacionada ao baixo consumo de lácteos. Ambos os argumentos são frágeis.
É louvável a iniciativa da Revista TRIP de trazer esclarecimentos a respeito dos alimentos. Existem outras muito boas matérias na mesma edição que falam em consumo de iogurte, leite fermentado e outros produtos. Mas é preciso tomar muito cuidado para que mensagens sem comprovação científica ou carregadas de vieses venham a afetar de forma prejudicial os hábitos alimentares da população. Como ocorre com inúmeros outros alimentos, há pessoas alérgicas ao leite, mas não se podem tratar exceções como uma regra geral.
O Ministério da Saúde demorou mais de 3 anos para divulgar o Guia Alimentar, depois de considerar os mais importantes estudos científicos sobre alimentação, debater e ouvir a opinião de mais se uma centena de instituições e especialistas, inclusive da Fundação Oswaldo Cruz.
Foi também de extremo mau gosto e inapropriada associação da imagem do terrorista Osama bin Laden ao leite, uma figura que desperta os piores sentimentos nas pessoas.
Consideramos o aleitamento materno essencial e não recomendamos, salvo sob orientação médica, a substituição dessa prática pelo leite de vaca ou de outras espécies no primeiro ano de vida. Porém, propor o não-consumo de leite existe uma longa distância. O leite e os lácteos são saudáveis, nutritivos e apresentam possibilidades de consumo e sabor únicas. Não reconhecer esses fatos e tratar exceções como regras certamente não deixarão a população em melhores condições de saúde.
Ademais os produtos do leite já caíram no gosto da população. O que seria do café da manhã sem o leite longa vida e pasteurizado, o queijo, a manteiga, o iogurte? O que seria da pizza sem a mussarela e o catupiry? O que seriam dos pães, doces, massas e sorvetes sem os derivados do leite? O que seria da merenda escolar sem o leite em po, o leite fluido e outros derivados?
Será que o fato do homem estar no topo da cadeia alimentar tem alguma correlação com o consumo de lácteos?
São Paulo, 12/maio/2006
Associação para o Progresso do Agro-Negócio Lácteo - Láctea Brasil
Marcelo Pereira de Carvalho - Diretor de Marketing
Associação Brasileira dos Produtores de Leite - Leite Brasil
Jorge Rubez - Presidente