João Paulo Vaienti Alves dos SantosJoão Paulo Vaienti Alves dos Santos é engenheiro agrônomo e produtor de leite na Fazenda Fidenza, em São Manuel-SP. Formado pela ESALQ-USP, é também consultor técnico e professor responsável pelas disciplinas de produção animal do curso de Agronomia da Faculdade Eduvale, em Avaré-SP. |
MKP: Breve descrição pessoal e profissional.
João Paulo Vaienti Alves dos Santos é engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP em 2000 e especializado em Produção de Ruminantes (2002-2003) pela mesma instituição. Trabalhou no site MilkPoint como articulista e colaborador da seção "Sistemas de Produção". Atualmente presta consultoria técnica agropecuária através da empresa: Manejo - Assessoria, Consultoria e Planejamento Ltda.
É produtor de leite na Fazenda Fidenza, em São Manuel-SP, e atuando como professor, é responsável pelas disciplinas de produção animal do curso de Agronomia da Faculdade Eduvale, em Avaré-SP.
MKP: Como é sua propriedade leiteira?
Nossa propriedade está situada no município de São Manuel-SP, em solo arenoso de baixa fertilidade, em região essencialmente canavieira e topografia plana/levemente acidentada. A produção de leite B, com ordenha mecanizada, é a nossa principal atividade e fonte de renda.
Estamos na atividade desde 1979 quando adquirimos as primeiras 10 vacas holandesas (HPB). Em 1988 passamos a trabalhar somente com inseminação artificial. Hoje, trabalhamos também com transferência de embrião. O sistema de produção adotado é o confinamento total, durante todo o ano, em galpões tipo free-stall.
O principal alimento volumoso é a silagem de milho, produzida na fazenda, mais concentrado (misturado na fazenda) e subprodutos (polpa cítrica e caroço de algodão) que perfazem a dieta total. Os animais em lactação são divididos em lotes de acordo com o estágio de lactação e produção em regime de dieta única. Para os animais em recria e vacas secas, adotamos o pastejo com suplementação (pastejo rotacionado de braquiária e concentrado no período das águas). No inverno a suplementação, além do concentrado, é feita com silagem de milho e/ou forrageiras suplementares alternativas (tifton) para suprir a queda de produção das pastagens.
MKP: Quais são as principais dificuldades que você tem na atividade?
São diversas as dificuldades.
A primeira talvez esteja associada à dependência de insumos que oscilam de preço abruptamente gerando aumento ou redução de custos de modo aleatório em relação à política de preços praticados pelo mercado. Sabemos que são realidades e demandas completamente diferentes (varejo x indústria x produtores), cada qual atende e atua sobre o seu nicho específico, visando a rentabilidade e trabalhando muitas vezes ao longo do ano sem sincronismo e harmonia.
Há quem diga que isso faz parte da logística da livre concorrência, ou seja, do sistema capitalista em si. Acredito no mercado aberto, no entanto com restrições. Se toda a liberalidade fosse benéfica não haveria a crise imobiliária norte-americana, nem mesmo a permissão da OMC ao Brasil em retaliar, atualmente os EUA na recente vitória envolvendo o mercado do algodão. Logo, deve haver um mínimo de regulamentação.
Ainda e, infelizmente, somos o elo mais fraco da cadeia. Precisamos mudar a maneira de enxergarmos as relações entre os três segmentos de mercado mencionados. A meu ver, há a necessidade de uma maior integração entre os mesmos, principalmente entre produtores e indústria. Acredito que daremos um salto qualitativo e com maiores chances de ganho para as partes quando indústria e produtores perceberem que são verdadeiros parceiros, aliados e não inimigos. Os interesses são os mesmos, o aumento do consumo. Existem diversos exemplos no mundo que indicam que este é o caminho mais indicado. Basta verificar o modelo cooperativista neozelandês ou mesmo o marketing institucional do leite nos EUA (a famosa campanha: Got Milk?!). Quem são os maiores beneficiários? Produtores e Indústria.
Outra dificuldade que realmente compromete o desenvolvimento do setor é a qualidade do leite. Creio que todos os problemas sérios envolvendo o setor leiteiro poderão ser resolvidos na medida em que avançarmos sobre esta questão. É necessário produzir leite com qualidade e ser remunerado por isso. Felizmente algumas empresas (indústrias) estão começando a entender que este é o caminho, apresentando projetos promissores. O produtor deve focar na qualidade para obter o melhor preço. A indústria, por sua vez, pode e deve saber vender um produto de qualidade. Através da relação: "qualidade" vs "fixação da marca" é possível conquistarmos mercado, mesmo com produtos de demanda elástica como o leite.
Não adianta discutirmos técnicas de produção envolvendo nutrição, manejo, sanidade, reprodução se não soubermos como produzir, primeiramente, um produto digno para o consumo humano, um produto de qualidade. Quando o consumidor tiver acesso a um produto integral, refrigerado, com vida útil de 5 a 7 dias conservado sob refrigeração, será decretada a morte do leite longa vida. Este deve ser o nosso objetivo. Não só dos produtores, mas da indústria como um todo, que deve assumir a responsabilidade em gerenciar, orientar e promover o consumo de produtos lácteos com garantia de origem e qualidade comprovada.
A partir do momento em que a qualidade do leite melhorar, o setor como um todo irá crescer. Digo isso com muita confiança porque não há como se produzir leite de qualidade sem nutrição adequada, manejo, sanidade, equipamento adequado, refrigeração eficiente, etc. A qualidade do leite é a mola propulsora para o sucesso e obtenção de índices zootécnicos econômicos e financeiros satisfatórios para o produtor, e certamente para a indústria também.
MKP: O que está melhorando no setor?
Muitas avanços aconteceram, felizmente, nos últimos anos.
No campo houve grande avanço. Os envolvidos com a atividade perceberam que para se obter sucesso é preciso implantar uma gestão eficiente. Desta forma, não há mais espaço para "aventureiros" e "extrativistas". A implantação da IN 51, apesar de muito criticada por alguns agentes do setor, foi a primeira e grande medida inicial que propiciou melhorias e ganhos nas condições para se produzir leite.
Paralelamente, programas e projetos envolvendo assistência técnica foram criados com grande êxito, como o Balde Cheio (Embrapa) e suas variações, como o CATI-Leite no estado de São Paulo. Apesar de ser uma atividade extremamente difícil e complexa, em alguns casos, pequenas mudanças e orientações técnicas pertinentes e implantadas com disciplina dentro de um sistema de produção podem gerar grandes resultados.
Acredito que a imagem do pecuarista e principalmente do pecuarista produtor de leite esteja mudando. Antes, motivo de gozação. Hoje os produtores de leite são cada vez mais respeitados em suas comunidades e a atividade é encarada como um "negócio" em diversas localidades do Brasil. Isso é muito importante pois mexe com a autoestima do produtor e faz com que o mesmo acredite que é possível evoluir, crescer e sobreviver do leite com rentabilidade muito superior a muitas culturas tradicionais.
Em termos de mercado consumidor também houve grandes modificações. O setor se profissionalizou. A indústria de lácteos cresceu e se diversificou ao longo dos anos com a criação de uma enormidade de produtos (derivados) focados para atender diferentes perfis de consumidores e diferentes classes sociais. Cada vez mais os consumidores estão preocupados com a saúde e o consumo de alimentos saudáveis. Neste quesito acredito que o leite leva grande vantagem em relação a outros alimentos e este é um mercado promissor que está sendo cada vez mais explorado e tende a crescer. Produtos específicos para diferentes faixas etárias, focados em diferentes necessidades (esporte, saúde, suplementação, bem-estar) já são encontrados em grande quantidade e variedade nas principais redes de supermercado.
Este cenário, comum hoje, não era a realidade de alguns anos atrás. Felizmente, evoluímos.
MKP: Qual personalidade admira no setor?
Jorge Hildebrandt Gonzales.
MKP: Qual empresa admira no setor?
Nestlé Alimentos.
MKP: Dica de sucesso ou frase preferida
Fico com uma frase preferida: "Even for a cow, life is about choices", ou seja, numa tradução adaptada, algo como: "até mesmo para vacas, a vida é uma questão de escolhas" (é uma propaganda de uma empresa americana do setor de nutrição de bovinos de leite de alta produção onde aparece uma foto com vacas selecionando a dieta no cocho).
MKP: Quais os serviços do MilkPoint você utiliza mais?
Os serviços que mais utilizo são as notícias do Giro Lácteo, Radares Técnicos e Blogs (MyPoint).
Como o MilkPoint lhe auxilia no dia-a-dia?
O MilkPoint para mim hoje é "a fonte", "o porto", a garantia de acesso à informação e conteúdo específico de qualidade. Uma necessidade para todos aqueles que trabalham com leite, uma ferramenta de trabalho... Imprescindível!
Conheça mais sobre a participação do João Paulo V. Alves dos Santos no MilkPoint, visitando seu blog Porteira Adentro, no MyPoint.