Importações atingem pico em setembro

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o saldo da balança comercial de lácteos em setembro apresentou novo déficit, de US$ 6,5 milhões, confirmando a expectativa de queda. Em agosto, o déficit foi de US$ 246 mil. Em setembro do ano passado, o saldo foi superavitário, representado por US$ 5,55 milhões.

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Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o saldo da balança comercial de lácteos em setembro apresentou novo déficit, de US$ 6,5 milhões, confirmando a expectativa de queda. Em agosto, o déficit foi de US$ 246 mil. Em setembro do ano passado, o saldo foi superavitário, representado por US$ 5,55 milhões.

As importações no mês passado foram 76% superiores às exportações em valor FOB, sendo essa a causa do maior déficit registrado nesse ano. O volume importado alcançou o pico em setembro, e foi a maior quantidade mensal comprada no mercado externo desde março de 2003.

No acumulado do ano, houve déficit de US$ 1,2 milhão. O saldo do acumulado do ano não era negativo desde março. De janeiro a setembro do ano passado, o saldo foi de US$ 8,06 milhões negativos.

O principal fator para a caracterização desse cenário é a taxa de câmbio, que em setembro permaneceu em patamares baixos, ficando em média a R$ 2,17. Com o real sobrevalorizado, os preços do mercado nacional ficam mais atrativos e, conseqüentemente, há entrada de produtos estrangeiros.

O oposto acontece com as exportações, que em função do dólar baixo frente ao real, desfavorece as vendas externas, já que o produto brasileiro fica "mais caro" no mercado internacional.

Gráfico 1. Evolução da balança comercial de lácteos, em valor FOB (mil US$).

Figura 1

Fonte: Secex/MDIC, CNA
Elaboração: Equipe MilkPoint

Observa-se que o saldo médio da balança comercial de lácteos esteve positivo, considerando o período de setembro de 2005 a setembro deste ano. Mas nos últimos dois meses o saldo tem sido bem inferior à média do período citado, com o mês de setembro, inclusive, registrando o menor saldo desde setembro do ano passado.

Exportações

As exportações em setembro somaram US$ 8,5 milhões, contra US$ 13,1 milhões obtidos no mesmo período de 2005. Em volume, foram exportadas 6,15 mil toneladas em lácteos, enquanto que em setembro do ano passado foram 7,5 mil toneladas.

Em relação a agosto, as exportações caíram 33,5% em valor e 29,7% em volume.

No acumulado do ano, as exportações ainda são superiores ao total registrado no ano passado. As vendas externas totalizaram US$ 107,3 milhões, enquanto em 2005 o valor foi de US$ 88,3 milhões. Ou seja, houve um acréscimo de 21,5% no valor exportado neste ano.

Em volume, de janeiro a setembro o Brasil exportou 67,7 mil toneladas, frente a 53 mil toneladas registradas em 2005, registrando um aumento de 27,7% na quantidade exportada.

Gráfico 2. Evolução das exportações brasileiras de lácteos, em volume (kg).

Figura 2

Fonte: Secex/MDIC
Elaboração: Equipe MilkPoint

Clique aqui para ver as tabelas 1 e 2 com os dados da exportação brasileira de lácteos em 2006, em valor FOB e volume.

Os principais destinos da exportação brasileira em setembro foram a Venezuela, com 36,6% de participação no total do valor exportado e 35,4% em volume, seguida da Angola, com 26,3% em valor e 30,5% em volume.

O principal produto enviado ao mercado externo continua sendo o leite condensado, responsável por 60% do faturamento com as exportações de lácteos em setembro. No acumulado do ano, este produto teve uma participação de 41,6% no valor total obtido com as exportações de lácteos.

Em volume, o leite condensado representou 70% das exportações, totalizando 4,3 mil toneladas em setembro. Essa quantidade é 43% superior ao volume exportado no mesmo mês de 2005. No acumulado do ano, o aumento em relação ao ano passado foi de quase 73%.

Vale considerar que mesmo com o mercado interno apresentado um crescimento de 7% no setor de leite condensado, atingindo inclusive as classes de rendas mais baixas - segundo o Latin Panel - houve uma quantidade significativamente superior exportada neste ano.

O leite em pó, um dos principais produtos exportados pelo Brasil, teve uma participação nas exportações bem inferior à registrada no ano passado. Enquanto em setembro deste ano foram obtidos US$ 1,5 milhão com este produto, no mesmo período de 2005 faturou-se US$ 6,6 milhões. No acumulado do ano, foram exportados US$ 36,9 milhões, enquanto que em 2005 o valor foi de US$ 39,9 milhões, ou seja, um decréscimo de 7,5%.

Em contrapartida, o leite em pó foi o produto mais importado em setembro, somando US$ 7,5 milhões e 3,5 mil toneladas. Ou seja, o saldo deste produto foi de US$ 6 milhões negativos em setembro. No acumulado do ano, as importações de leite em pó totalizaram US$ 60,9 milhões, o que representa um déficit de US$ 24 milhões.

Gráfico 3. Participação dos produtos exportados de janeiro a setembro, em volume.

Figura 3

Fonte: Secex/MDIC
Elaboração: Equipe MilkPoint

Os principais estados exportadores foram São Paulo, com 51% do volume enviado ao mercado externo, seguido de Minas Gerais, com 28% e Rio de Janeiro (14%).

Tabela 3. Participação dos estados nas exportações de lácteos no acumulado do ano e em setembro de 2006.

Figura 4

* Participação menor que 0,1%
**ND - Não Declarado

Fonte: Secex/MDIC
Elaboração: Equipe MilkPoint

Preços internacionais

Os preços médios de exportação do leite condensado, principal produto exportado neste ano, aumentaram 4,4%, ficando em US$ 1,19/kg em setembro, ou seja, aproximadamente 10% acima do valor obtido no mesmo mês de 2005.

Outro produto mais valorizado neste ano foram os queijos, que, em média, ficaram cerca de 7% acima do cotado em setembro do ano passado.

Os leites em pó, no geral, mesmo com um valor mais baixo no mercado internacional, não garantiram um maior volume de exportação.

Tabela 4.Preços médios de exportação dos principais produtos exportados pelo Brasil, em US$/kg.

Figura 5

Tabelas 5, 6 e 7. Preços médios dos principais produtos exportados pelo Oeste da Europa, Oceania e Argentina, em US$/kg.

Figura 6

Comparando-se os preços médios de exportação do leite em pó integral, o valor do produto brasileiro apresenta uma recuperação desde julho e chega a ficar superior ao cotado pelo USDA na Oceania. Ou seja, o preço de exportação do leite em pó integral ficou mais caro em setembro que o produto da Austrália e Nova Zelândia, principal país exportador de lácteos.

Isso mostra que, além de problemas com logística com os principais países consumidores, o Brasil também perdeu competitividade nos preços no mercado internacional. Isso se deve, principalmente, ao fato da moeda nacional estar mais valorizada frente ao dólar americano.

Em contrapartida, a Argentina, que em agosto apresentou um preço médio de exportação de US$ 2,23/kg, exportou 18,8 mil toneladas de leite em pó, segundo dados da Senasa, representados por US$ 41,9 milhões em valor FOB.

Segundo notícia da Agência CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), para os produtores, é lamentável que em momento favorável de preços de produtos lácteos no mercado internacional - que registrou recuperação de mais de 70% de 2002 a 2005 - o Brasil perca a oportunidade de ocupar os mercados consumidores crescentes, como leste da Ásia e Meio Leste e Norte da África.

A CNA destacou a China, que deverá ter um crescimento da demanda muito maior que a oferta e tem consumo per capita de menos de 20 litros/hab/ano."Entre os grandes produtores mundiais, somos o que tem a maior capacidade de aumentar a produção e as exportações, mas a valorização do real prejudica a competitividade do produto brasileiro", ressalta o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, Rodrigo Alvim.

Gráfico 4. Evolução dos preços médios de exportação do leite em pó integral no Brasil, Argentina, Oeste da Europa e Oceania, em US$/kg.

Figura 7

Fontes: Secex/MDIC, Senasa - Argentina e USDA
Elaboração: Equipe MilkPoint

Importações

As importações em setembro somaram US$ 15 milhões e 10,5 mil toneladas, o que representa acréscimos de 99,3% e 130% em relação ao mesmo período do ano passado, em valor e volume, respectivamente.

Em relação a agosto, houve um aumento de aproximadamente 15% em valor e cerca de 6% em volume.

No acumulado do ano, as importações totalizaram US$ 108,5 milhões, ou seja, um valor 12,6% superior ao do mesmo período de 2005. Em volume, o total comprado pelo Brasil foi de 65,5 mil toneladas, quantidade 12,4% superior à do ano passado.

Observa-se que em setembro, o volume de lácteos importados atingiu o pico do ano. Aliás, não se importava nesse patamar desde 2003.

Gráfico 5. Evolução das importações de lácteos em volume (mil kg).

Figura 8

Fonte: Secex/MDIC
Elaboração: Equipe MilkPoint

Clique aqui para ver as tabelas 8 e 9 com os dados da importação brasileira de lácteos em 2006, em valor FOB e volume.

Os principais países de origem das importações de setembro foram a Argentina, responsável por 50,6% do valor importado e 36,7% do volume, seguida do Uruguai, com 34,4% do valor e 46,6% do volume das importações.

Os principais produtos comprados no mercado externo foram o leite em pó, que correspondeu a US$ 7,5 milhões (responsável por 50% do valor importado em setembro) e 3,5 mil toneladas. Em volume, o segundo produto mais comprado foi o leite longa vida, representando cerca de 29% do total importado, seguido pelo soro de leite, com 25,3% de participação em setembro. Este último produto teve um acréscimo de cerca de 22% no valor das importações de janeiro a setembro em relação ao ano passado.

Cerca de 90% do volume de leite UHT importado em setembro era do Uruguai.

Outro aumento significativo foi das importações de queijos, que no acumulado do ano tiveram acréscimo de 59% em valor e 39,4% em volume.

Gráfico 6. Participação dos produtos importados de janeiro a setembro, em volume.

Figura 9

Fonte: Secex/MDIC
Elaboração: Equipe MilkPoint

Tabela 10. Preços médios dos principais produtos importados.

Figura 10

Fonte: Secex/MDIC e Banco Central
Elaboração: Equipe MilkPoint

Os preços médio do leite em pó e do soro de leite importados estão mais baixos neste ano em virtude do menor valor do dólar frente ao real. Apenas o leite UHT ficou mais caro em setembro deste ano se comparado ao mesmo período de 2005.
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Aline Barrozo Ferro

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Marcio Oiticica de Souza
MARCIO OITICICA DE SOUZA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/10/2006

Senhores,

Quando vejo as importações de leite baterem recordes, entristeço-me. Estamos exportando empregos rurais e fomentando a migração para os já congestionados centros urbanos.

O Governo Federal é "míope", o que não é novidade... A falta de política séria para o setor, é atentado de lesa sociedade/pátria. É incrível testemunharmos tanta falta de competência e sensibilidade social por parte dos "governantes" deste país.

O leite tem que ter preço! As "competitivas" cooperativas, o cartel industrial e os supermercadistas, verdadeiro conglomerado oligopolista, "esmaga" o produtor de leite comum. Do outro lado, o povo tem dinheiro para pagar a extorsiva telefonia celular, a cerveja e a cachaça.

É tão difícil assim, enxergar a origem e resolução do problema? Não seria mais inteligente fixar e promover o retorno dos jovens ao campo, economizando recursos no combate à criminalidade e miséria que circundam os grandes centros?

A que interesses estamos servindo?

Sinceramente,

Marcio Oiticica (produtor de leite e empregador rural)
Guilherme Alves de Mello Franco
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/10/2006

Prezada Aline,

É desanimador para o profissional da pecuária leiteira ler que há um aumento de importações dos produtos lácteos, mesmo num país que possui um dos maiores rebanhos bovinos desta categoria no mundo.

Por que não podemos competir com os produtos estrangeiros? A resposta é simples, apesar da complexidade do problema: os alienígenas são subsidiados por seus governos e não têm que esmolar crédito nos bancos oficiais de seus países, enquanto, nós, os nacionais, produzimos de dia o que vamos comer à noite - e nossos pratos estão sempre vazios.

E não ponhamos a culpa na tecnologia, na genética, no nível cultural do homem campesino pátrio. As grandes fazendas e seus proprietários, utilizadores das melhores tecnologias existentes no mundo moderno (transferência de embriões, ordenhas computadorizadas, alimentação específica para cada rês, controlada por computador, veterinários os mais competentes) estão liqüidando rebanhos, passando a plantar cana-de-açúcar, soja, café, milho, criando porcos.

A culpa é da pouca vontade de solucionar os problemas do pecuarista, que enferma, de forma inarredável, a cabeça de nossos governantes. Por que precisamos estar abaixo de países muito menores em extensão de terras férteis, como o Uruguai e a Agentina, que deveriam estar comprando nossos produtos ao invés de nos vender os seus? Porque é melhor o bolsa-escola, o vale-gás, o seguro-desemprego que um litro de leite.

Mas, como já dizia Calígula, na antiga cidade, "cada povo tem o governo que merece". Só não sei se aguentaremos mais quatro anos.
Paulo Roberto Carvalho
PAULO ROBERTO CARVALHO

PORTELÂNDIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/10/2006

Diante de todos estes dados, fico me perguntando por que os produtores não tiveram nem manutenção dos preços em 2006 em relação ao ano passado. Os valores ficaram cerca de 17% mais baixos para o produtor neste ano.
Qual a sua dúvida hoje?