A inspiração do projeto é o sucesso dos Fundos de Investimentos Imobiliários (FII). Esse produto tem sido um dos pilares recentes do desenvolvimento da construção e da incorporação de imóveis, principalmente por meio de aplicações em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs). Com o projeto em análise na Câmara, a intenção é fazer o mesmo com os CRAs, do agronegócio.
“A principal consequência é jorrar dinheiro no setor”, diz Bruno Cerqueira, sócio de mercado de capitais do Tauil & Chequer Advogados, que atuou na elaboração do texto. O potencial de atração dos papéis do agro pode ser estimado pelo peso que o setor tem na economia do país, acredita Cerqueira. Em outubro, o número de investidores que aplicam recursos em fundos imobiliários superou a marca de 1 milhão.
“O setor imobiliário corresponde a 5% do PIB, e o agronegócio a 30%, ou seis vezes mais. Isso pode se reproduzir na demanda [pelos papéis]”, afirma. Hoje, não existem fundos especializados na compra e investimentos em títulos do agro - como as Cédulas de Produto Rural (CPRs), os Certificado de Crédito do Agronegócio (CDCAs) e os já mencionados CRAs - com os chamados “incentivos dedicados”, como a isenção tributária sobre os rendimentos.
Esses instrumentos ainda serão ajustados em conversas com a Receita Federal. Mas, segundo Cerqueira, a julgar pela sinalização já dada pelo mercado financeiro, se o Fiagro receber os mesmos incentivos do setor imobiliário, o produto “deslancha”. “A ideia não é fazer concessão, mas um diferimento tributário”, explica Rogério Boueri, subsecretário de Política Agrícola do Ministério da Economia. “Esse deve ser um propulsor para o crédito no agronegócio”.
O autor da proposta é o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP). Segundo ele, o texto “consolida uma mudança em direção a regras de mercado, cria uma alternativa para os grandes e médios produtores e permite que dinheiro do Plano Safra seja concentrado na agricultura familiar”.
Jardim aposta principalmente na criação de fundos para administrar terras. A intenção é que proprietários rurais que se julgam sem vocação para a produção não se limitem a arrendar suas fazendas. Essas pessoas podem transformar as propriedades em cotas de fundos.
“Temos um percentual grande de áreas arrendadas ou subutilizadas. É gente que tem o patrimônio, mas não tem experiência. Ou tem experiência, mas não tem liquidez. Recursos e propriedades terão gestão profissional”, explica o deputado. O percentual de terras subutilizadas não é conhecido, mas está em fase de apuração nos cartórios de registro, segundo ele.
Assim como nos fundos imobiliários, a remuneração se materializa com a valorização das cotas. Rogério Boueri afirma que, ao permitir que as propriedades se transformem em cotas dos fundos, a proposta poderá servir também como instrumento de regularização fundiária. No Congresso, defensores do projeto acreditam que ele pode encerrar a polêmica sobre o acesso de estrangeiros às terras brasileiras.
“Não interessa de onde vem o dinheiro. A pessoa não vai ser dona da terra, e sim participar do negócio”, afirma o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). “É a saída definitiva do banco de balcão: não vamos ter mais carimbo, cartório, contrato, nada disso”. O deputado acredita em forte queda do custo do crédito. “Se hoje os juros finais são de 17%, eles caem para 3%”, diz.
As informações são do Valor Econômico.