Os preços dos queijos e da manteiga aumentaram de forma mais modesta, 18% e 34%, respectivamente. Os preços recordes para todos os produtos são devido tanto a causas de curto prazo como a causas estruturais básicas. Entretanto, a proporção do aumento nos preços para leite em pó é principalmente atribuível à exaustão dos estoques públicos na União Européia (UE).
Além disso, a desvalorização do dólar dos Estados Unidos tem elevado os preços dos produtos lácteos, uma vez que esses são denominados nesta moeda mesmo que sejam bastante comercializados entre áreas que não usam a moeda norte-americana.

Entretanto, a essência do aumento dos preços depende da oferta, e a produção global de leite não tem acompanhado o ritmo da forte demanda mundial, impulsionada principalmente pela Rússia, países da Ásia e países exportadores de petróleo da África, América Latina e Caribe.
Entre alguns problemas que causam a menor oferta mundial estão as sucessivas secas na Austrália, que limitam suas exportações de lácteos, tarifas de exportação da Argentina e uma suspensão de seis meses das exportações de leite em pó na Índia, que eliminou a presença deste país nos mercados mundiais.
Além disso, os altos preços dos grãos usados nas rações também reduziram a lucratividade em muitos setores intensivos de produção. Finalmente, e talvez os fatores mais significantes nos últimos tempos, estão as atuais reformas políticas da UE, que resultaram em uma drástica redução nos estoques públicos de produtos lácteos, especialmente leites em pó, e o excessivo corte nos subsídios de exportação da UE, tanto em termos de valor como de quantidades.
O limite dos preços depende bastante da efetiva proteção que é atualmente oferecida por várias barreiras de acesso a mercados de importantes países produtores/consumidores. Como ilustra a figura abaixo, os valores internacionais dos lácteos aumentaram tanto que o preço internacional equivalente de leite está agora muito próximo dos níveis prevalentes nos EUA e na UE, permitindo que eles exportem sem exigirem subsídios.
Produção
Os altos preços do leite deverão aumentar o crescimento na produção global de leite de 2,3% em 2006 para 2,7% em 2007, podendo chegar a 675 milhões de toneladas (leite de várias espécies, notadamente vacas e búfalas). A expansão está sendo estimulada pelos maiores preços do leite e ganhos na produtividade em certos países em desenvolvimento, bem como em países exportadores emergentes, onde os produtores têm se beneficiado do aumento nos preços internacionais.
O maior crescimento continua na Ásia
No caso da Índia, o rápido crescimento no rendimento doméstico, de mais de 6%, pressionou para cima os preços do leite em 2006 e 2007. A produção total de leite deverá crescer 3% em 2007. A tendência para o aumento nos preços foi acentuada pela recente entrada do país no mercado mundial de leite em pó desnatado, e os altos preços do leite em pó como um exportador, o que levou o Governo, em janeiro de 2007, a impor uma barreira de seis meses nas exportações de leite em pó da Índia.
Quanto ao Paquistão, o quinto maior produtor mundial de lácteos, o setor doméstico está bastante desconectado dos mercados mundiais, mas os investimentos no processamento de leite estão ocorrendo em um ritmo rápido, com a produção de leite devendo aumentar cerca de 4% em 2007.
Os países da Ásia com fraca tradição em lácteos, estão entre os mais abertos importadores, mas também entre aqueles que registram a mais rápida expansão na produção. A demanda doméstica também está crescendo rapidamente nestes países, freqüentemente ultrapassando a produção. Como resultado disso, as importações de leite em pó são feitas com o objetivo de reconstituição para suplementar a oferta de leite. A China, onde a demanda e a oferta domésticas vêm crescendo mais de 20% nos últimos anos, é o melhor exemplo; para o atual ano, o crescimento no país deverá ser de 18%.
Outros grandes importadores de leites em pó, como Tailândia, Indonésia e Filipinas, poderão reagir aos altos preços internacionais cortando o crescimento em suas importações enquanto promovem a produção doméstica.
A produção na América Latina crescerá com força
Muitos países da América Latina estão abertos para o comércio e estão surgindo como importantes exportadores de lácteos. A Argentina é o principal exemplo, e os atuais altos preços dos produtos lácteos, apesar de atenuados pelas tarifas de exportação, estão estimulando a produção de leite e as exportações de produtos lácteos, principalmente queijos e leite em pó integral. A produção de leite na Argentina cresceu 7% em 2006 e poderá crescer 8% neste ano dados os fortes preços do leite. O crescimento será afetado pela alta colheita agrícola e preços dos grãos usados na alimentação animal, reduzindo a disponibilidade de pasto e afetam a lucratividade da produção de leite.
O Uruguai, outro importante país exportador de lácteos da América do Sul, poderá ver sua produção expandir 4%, contribuindo com seu potencial de crescimento de exportações. Importadores líquidos da região da América Latina também estão expandindo sua produção, em meio aos altos preços internacionais.
A produção no Brasil deverá se expandir em 3% ou mais em 2007, o que pode novamente colocar o país em uma posição de exportador líquido. O México, que vem sendo o maior importador de leite em pó desnatado, pode expandir a produção de leite em outros 1,5% em 2007. Venezuela, Chile e Colômbia deverão expandir sua produção em 6%, 4% e 2%, respectivamente, também reduzindo os requerimentos de importação.
O crescimento permanece estagnado na África apesar dos altos preços
A produção de leite na África permanece bastante inerte aos movimentos nos preços internacionais, dada à baixa participação dos produtores neste setor formal de leite. A produção de leite na África deverá permanecer estagnada em 2007, após cair levemente nos dois anos anteriores. Sua dependência das importações de produtos lácteos está crescendo e consiste quase que exclusivamente de leites em pó.
A África do Sul, um importador líquido de produtos lácteos sujeitos a cotas com tarifas e controle interno de preços, deverá ver sua produção cair em 1% em 2007, à medida que os maiores preços do milho impactarão na lucratividade da produção de leite.
Produção na América do Norte desacelera
Enquanto a produção de leite no Canadá deverá cair modestamente, de acordo com a demanda doméstica, a produção nos EUA deverá aumentar em 1%, à medida que os efeitos positivos dos maiores preços dos produtos lácteos são abrandados pelos maiores custos dos alimentos animais. Apesar de o país ser bastante isolado dos mercados mundiais de manteiga e queijos, continua sendo o maior ou o segundo maior exportador de leite em pó desnatado e o principal exportador de componentes lácteos com alto valor, como proteínas do soro do leite. À medida que sua ligação com os mercados mundiais está aumentando, os ganhos contínuos nos preços internacionais poderão posicionar os EUA como um fornecedor grande e competitivo de uma ampla gama de produtos lácteos.
A produção de leite na Europa irá se recuperar?
Devido parcialmente a fatores relacionados ao clima, a produção de leite na UE (25) caiu quase 1% em 2006, reduzindo também seu excesso de oferta e excedentes de produtos lácteos. Em 2007, um clima mais normal poderá estimular uma recuperação de 1% na produção de leite, apesar dos maiores custos dos alimentos animais e do desacoplamento dos subsídios da produção em alguns estados membros poder limitar o tamanho da recuperação. Em janeiro de 2007, a entrada da Romênia e da Bulgária na UE acrescentou 7,5 milhões de toneladas a mais à oferta de leite ou cerca de 5% da produção da UE. Esses dois países vêm sendo bastante auto-suficientes em produtos lácteos e a produção de leite também está estável, de forma que a sua entrada no bloco não afetará de forma significante a posição comercial da UE.
As reformas políticas na UE têm progressivamente mudado as economias de sua produção de leite, reduzindo os incentivos para produzir e estimulando o consumo doméstico. A redução no suporte aos preços para leite em pó desnatado e manteiga, que começou em 2003, será completada neste ano. Os estoques de produtos lácteos vêm sendo progressivamente reduzidos (veja figura abaixo). Como resultado disso, os subsídios de exportação também se reduziram a zero para alguns lácteos. As participações da UE nos mercados dos principais produtos lácteos no comércio internacional vêm caindo continuamente (ver figura abaixo). Como resultado, o bloco pode perder sua posição global como maior exportador de produtos lácteos, em termos de volume, em favor da Nova Zelândia.

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Crescimento na Oceania reduzido pela seca na Austrália
Apesar de produzir somente 4% da produção mundial, a Oceania é a maior região exportadora de produtos lácteos, com uma participação de mercado de mais de 35%. Secas sucessivas e reforma política (2000) na Austrália têm reduzido a produção de leite deste país a níveis abaixo aos de 10 anos atrás. Para a estação de comercialização de 2006-07 (que termina em junho), a produção de leite da Austrália deverá cair mais 7%, uma vez que a seca se estabeleceu no final de 2006 e tem se sustentado até maio de 2007.
A produção de leite na Nova Zelândia deverá aumentar somente 1% na estação de comercialização de 2006-07 (que terminou em maio), também como resultado das más condições para a produção. Esta redução na oferta de leite implicará que a região terá que lutar para sustentar suas exportações de produtos lácteos.
Fonte: FAO - Global Market Analysis - Junho/2007
