FAO: previsões para o mercado mundial de leite e produtos lácteos

O índice de preços internacionais dos lácteos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) aumentou 46% entre novembro de 2006 e abril de 2007, quando atingiu seu valor recorde de 213 (base 100 em 1998-2000). Os preços dos leites em pó aumentaram ainda mais: 56% para o leite em pó desnatado e 61% para o leite em pó integral desde novembro.

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O índice de preços internacionais dos lácteos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) aumentou 46% entre novembro de 2006 e abril de 2007, quando atingiu seu valor recorde de 213 (base 100 em 1998-2000). Os preços dos leites em pó aumentaram ainda mais: 56% para o leite em pó desnatado e 61% para o leite em pó integral desde novembro.

Os preços dos queijos e da manteiga aumentaram de forma mais modesta, 18% e 34%, respectivamente. Os preços recordes para todos os produtos são devido tanto a causas de curto prazo como a causas estruturais básicas. Entretanto, a proporção do aumento nos preços para leite em pó é principalmente atribuível à exaustão dos estoques públicos na União Européia (UE).

Além disso, a desvalorização do dólar dos Estados Unidos tem elevado os preços dos produtos lácteos, uma vez que esses são denominados nesta moeda mesmo que sejam bastante comercializados entre áreas que não usam a moeda norte-americana.

Figura 1

Entretanto, a essência do aumento dos preços depende da oferta, e a produção global de leite não tem acompanhado o ritmo da forte demanda mundial, impulsionada principalmente pela Rússia, países da Ásia e países exportadores de petróleo da África, América Latina e Caribe.

Entre alguns problemas que causam a menor oferta mundial estão as sucessivas secas na Austrália, que limitam suas exportações de lácteos, tarifas de exportação da Argentina e uma suspensão de seis meses das exportações de leite em pó na Índia, que eliminou a presença deste país nos mercados mundiais.

Além disso, os altos preços dos grãos usados nas rações também reduziram a lucratividade em muitos setores intensivos de produção. Finalmente, e talvez os fatores mais significantes nos últimos tempos, estão as atuais reformas políticas da UE, que resultaram em uma drástica redução nos estoques públicos de produtos lácteos, especialmente leites em pó, e o excessivo corte nos subsídios de exportação da UE, tanto em termos de valor como de quantidades.

O limite dos preços depende bastante da efetiva proteção que é atualmente oferecida por várias barreiras de acesso a mercados de importantes países produtores/consumidores. Como ilustra a figura abaixo, os valores internacionais dos lácteos aumentaram tanto que o preço internacional equivalente de leite está agora muito próximo dos níveis prevalentes nos EUA e na UE, permitindo que eles exportem sem exigirem subsídios.

Produção

Os altos preços do leite deverão aumentar o crescimento na produção global de leite de 2,3% em 2006 para 2,7% em 2007, podendo chegar a 675 milhões de toneladas (leite de várias espécies, notadamente vacas e búfalas). A expansão está sendo estimulada pelos maiores preços do leite e ganhos na produtividade em certos países em desenvolvimento, bem como em países exportadores emergentes, onde os produtores têm se beneficiado do aumento nos preços internacionais.

O maior crescimento continua na Ásia

No caso da Índia, o rápido crescimento no rendimento doméstico, de mais de 6%, pressionou para cima os preços do leite em 2006 e 2007. A produção total de leite deverá crescer 3% em 2007. A tendência para o aumento nos preços foi acentuada pela recente entrada do país no mercado mundial de leite em pó desnatado, e os altos preços do leite em pó como um exportador, o que levou o Governo, em janeiro de 2007, a impor uma barreira de seis meses nas exportações de leite em pó da Índia.

Quanto ao Paquistão, o quinto maior produtor mundial de lácteos, o setor doméstico está bastante desconectado dos mercados mundiais, mas os investimentos no processamento de leite estão ocorrendo em um ritmo rápido, com a produção de leite devendo aumentar cerca de 4% em 2007.

Os países da Ásia com fraca tradição em lácteos, estão entre os mais abertos importadores, mas também entre aqueles que registram a mais rápida expansão na produção. A demanda doméstica também está crescendo rapidamente nestes países, freqüentemente ultrapassando a produção. Como resultado disso, as importações de leite em pó são feitas com o objetivo de reconstituição para suplementar a oferta de leite. A China, onde a demanda e a oferta domésticas vêm crescendo mais de 20% nos últimos anos, é o melhor exemplo; para o atual ano, o crescimento no país deverá ser de 18%.

Outros grandes importadores de leites em pó, como Tailândia, Indonésia e Filipinas, poderão reagir aos altos preços internacionais cortando o crescimento em suas importações enquanto promovem a produção doméstica.

A produção na América Latina crescerá com força

Muitos países da América Latina estão abertos para o comércio e estão surgindo como importantes exportadores de lácteos. A Argentina é o principal exemplo, e os atuais altos preços dos produtos lácteos, apesar de atenuados pelas tarifas de exportação, estão estimulando a produção de leite e as exportações de produtos lácteos, principalmente queijos e leite em pó integral. A produção de leite na Argentina cresceu 7% em 2006 e poderá crescer 8% neste ano dados os fortes preços do leite. O crescimento será afetado pela alta colheita agrícola e preços dos grãos usados na alimentação animal, reduzindo a disponibilidade de pasto e afetam a lucratividade da produção de leite.

O Uruguai, outro importante país exportador de lácteos da América do Sul, poderá ver sua produção expandir 4%, contribuindo com seu potencial de crescimento de exportações. Importadores líquidos da região da América Latina também estão expandindo sua produção, em meio aos altos preços internacionais.

A produção no Brasil deverá se expandir em 3% ou mais em 2007, o que pode novamente colocar o país em uma posição de exportador líquido. O México, que vem sendo o maior importador de leite em pó desnatado, pode expandir a produção de leite em outros 1,5% em 2007. Venezuela, Chile e Colômbia deverão expandir sua produção em 6%, 4% e 2%, respectivamente, também reduzindo os requerimentos de importação.

O crescimento permanece estagnado na África apesar dos altos preços

A produção de leite na África permanece bastante inerte aos movimentos nos preços internacionais, dada à baixa participação dos produtores neste setor formal de leite. A produção de leite na África deverá permanecer estagnada em 2007, após cair levemente nos dois anos anteriores. Sua dependência das importações de produtos lácteos está crescendo e consiste quase que exclusivamente de leites em pó.

A África do Sul, um importador líquido de produtos lácteos sujeitos a cotas com tarifas e controle interno de preços, deverá ver sua produção cair em 1% em 2007, à medida que os maiores preços do milho impactarão na lucratividade da produção de leite.

Produção na América do Norte desacelera

Enquanto a produção de leite no Canadá deverá cair modestamente, de acordo com a demanda doméstica, a produção nos EUA deverá aumentar em 1%, à medida que os efeitos positivos dos maiores preços dos produtos lácteos são abrandados pelos maiores custos dos alimentos animais. Apesar de o país ser bastante isolado dos mercados mundiais de manteiga e queijos, continua sendo o maior ou o segundo maior exportador de leite em pó desnatado e o principal exportador de componentes lácteos com alto valor, como proteínas do soro do leite. À medida que sua ligação com os mercados mundiais está aumentando, os ganhos contínuos nos preços internacionais poderão posicionar os EUA como um fornecedor grande e competitivo de uma ampla gama de produtos lácteos.

A produção de leite na Europa irá se recuperar?

Devido parcialmente a fatores relacionados ao clima, a produção de leite na UE (25) caiu quase 1% em 2006, reduzindo também seu excesso de oferta e excedentes de produtos lácteos. Em 2007, um clima mais normal poderá estimular uma recuperação de 1% na produção de leite, apesar dos maiores custos dos alimentos animais e do desacoplamento dos subsídios da produção em alguns estados membros poder limitar o tamanho da recuperação. Em janeiro de 2007, a entrada da Romênia e da Bulgária na UE acrescentou 7,5 milhões de toneladas a mais à oferta de leite ou cerca de 5% da produção da UE. Esses dois países vêm sendo bastante auto-suficientes em produtos lácteos e a produção de leite também está estável, de forma que a sua entrada no bloco não afetará de forma significante a posição comercial da UE.

As reformas políticas na UE têm progressivamente mudado as economias de sua produção de leite, reduzindo os incentivos para produzir e estimulando o consumo doméstico. A redução no suporte aos preços para leite em pó desnatado e manteiga, que começou em 2003, será completada neste ano. Os estoques de produtos lácteos vêm sendo progressivamente reduzidos (veja figura abaixo). Como resultado disso, os subsídios de exportação também se reduziram a zero para alguns lácteos. As participações da UE nos mercados dos principais produtos lácteos no comércio internacional vêm caindo continuamente (ver figura abaixo). Como resultado, o bloco pode perder sua posição global como maior exportador de produtos lácteos, em termos de volume, em favor da Nova Zelândia.

Figura 2

Clique na imagem para visualizá-la melhor.

Crescimento na Oceania reduzido pela seca na Austrália

Apesar de produzir somente 4% da produção mundial, a Oceania é a maior região exportadora de produtos lácteos, com uma participação de mercado de mais de 35%. Secas sucessivas e reforma política (2000) na Austrália têm reduzido a produção de leite deste país a níveis abaixo aos de 10 anos atrás. Para a estação de comercialização de 2006-07 (que termina em junho), a produção de leite da Austrália deverá cair mais 7%, uma vez que a seca se estabeleceu no final de 2006 e tem se sustentado até maio de 2007.

A produção de leite na Nova Zelândia deverá aumentar somente 1% na estação de comercialização de 2006-07 (que terminou em maio), também como resultado das más condições para a produção. Esta redução na oferta de leite implicará que a região terá que lutar para sustentar suas exportações de produtos lácteos.

Fonte: FAO - Global Market Analysis - Junho/2007
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Jose Luiz Meira Ribeiro
JOSE LUIZ MEIRA RIBEIRO

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/07/2007

Ótimo artigo. O Brasil tem potencial para ocupar lugar de destaque na produção mundial de leite, mas é preciso profissionalismo em toda a cadeia.
Georgea Paiva Coelho
GEORGEA PAIVA COELHO

PATOS DE MINAS - MINAS GERAIS

EM 18/07/2007

Não esperaria muito das políticas nacionais. O produtor está ciente que isto é momentâneo e que entre meados de setembro os preços devem baixar, e devem estar se preparando para isso, caso contrário o setor sofrerá muito.
Guilherme Gonçalves Teixeira
GUILHERME GONÇALVES TEIXEIRA

CLÁUDIO - MINAS GERAIS - MÉDICO VETERINÁRIO

EM 03/07/2007

Artigo muito interessante. É o momento ideal para que o Brasil aumente suas exportações a partir de uma política específica para a cadeia leiteira. Será que nossos governantes estão enxergando isso?
Daniel Jaco Schneider
DANIEL JACO SCHNEIDER

RIO GRANDE DO SUL

EM 29/06/2007

Ótimo artigo e nos deixa atualizados em relação à produção de lácteos no mundoi, já que o Brasil participa cada vez mais desse mercado.
jsoe valter fernandes da silva
JSOE VALTER FERNANDES DA SILVA

JOÃO PESSOA - PARAIBA

EM 29/06/2007

Estamos vivendo uma vedadeira corrida pelo ouro em pó (leite), pois dormimos com um preço e quando acordamos já estamos com quase 10% acima do valor de ontem. Onde vai parar, afinal, o preço do leite em pó?
José Oton Prata de Castro
JOSÉ OTON PRATA DE CASTRO

DIVINO DAS LARANJEIRAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE OVINOS DE CORTE

EM 28/06/2007

Excelente trabalho, muito objetivo. Produtor de leite na década de 60 no Ceará e, a partir de 94, mini produtor em Minas Gerais. Em 1960 o litro de leite fluido valia CR$ 0,25, o mesmo preço do litro de gasolina.

Estabelci esta relação porque toda minha produção era entrega para distribuidora de derivados de petróleo. O que me chama a atenção é a gritaria das donas de casa e suas associções no momento em que o preços do leite tentam recuperar suas perdas durante longos anos sem a intervenção de nenhuma autoridade para garantia a renda do produtor.

É muito bom que essas pessoas e instituições reflitam que, o baixo preço dos produtos agrícolas, é o alto preço da violência.
Aroldo Augusto Martins
AROLDO AUGUSTO MARTINS

EDEALINA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/06/2007

O artigo é muito bom, vejo que só irá se manter no negócio quem for muito profissional. Isso é bom, pois os especuladores irão sair do mercado.
Danilo de Oliveira Pontes
DANILO DE OLIVEIRA PONTES

PIRACANJUBA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/06/2007

Diante deste cenário de grandes variações à nível mundial o que nós, produtores de leite do Brasil, podemos esperar? Sucessíveis altas do valor pago ao produtor? Estabilidade de preços? Ou uma invasão de produtos lácteos no mercado ocasionada pelo aparecimento de novos produtores atraídos pela momentânea boa rentabilidade da pecuária de leite empurrando os preços para baixo? Até quando esta situação (recorde de preços) tende a permanecer?

Grato.

Danilo
Mauro Marcucci
MAURO MARCUCCI

VOTUPORANGA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/06/2007

A tendência do leite ou qualquer tipo de alimento essencial à vida, terá seu valor cada vez mais valorizado, tendo uma tendência de alta.

Mauro Marcucci
Fernando Deppermann Fortes
FERNANDO DEPPERMANN FORTES

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 22/06/2007

Excelente artigo, muito consistente.
DIEGO BLANCO GENAO
DIEGO BLANCO GENAO

INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 22/06/2007

Excelente artículo y muy oportuno, por la situación actual del mercado de la leche en el mercado mundial y su impacto en la lechería Dominicana.
Qual a sua dúvida hoje?