ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Falta regulação nos sistemas alimentares, diz diretor-geral da FAO

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 11/03/2019

5 MIN DE LEITURA

0
0

“É aí que o carro está patinando”. Essas são as palavras do engenheiro agrônomo José Graziano, o primeiro brasileiro a dirigir a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a FAO, ao tratar da regulamentação dos sistemas alimentares ao redor do mundo. Para Graziano, que chega ao fim do segundo mandato em julho deste ano, a obesidade é hoje um problema de má nutrição até mais grave do que a fome em alguns países.

“O Brasil é um dos países onde a obesidade vem crescendo mais rapidamente, sobretudo entre crianças e mulheres. Uma geração de obesos será uma geração de pessoas doentes, o que vai comprometer não só o sistema público de atenção à saúde, mas também a vida dessas futuras gerações”, disse em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo na qual faz um balanço de seu mandato e aponta os desafios da instituição.

Para Graziano, a interferência do poder público na alimentação é necessária para que os consumidores entendam o que estão comendo e para que haja prevenção do aumento da obesidade. Hoje, há 33 milhões de obesos no Brasil e 670 milhões no mundo. 

“Dietas saudáveis carecem de mecanismos legais de promoção, seja pela rotulagem e taxação de produtos ricos em açúcares, sal e óleos saturados, seja pela coibição de propagandas de alimentos não saudáveis destinadas a crianças”, avalia.

Abaixo, os principais trechos da entrevista.

A segurança alimentar está na agenda internacional de maneira satisfatória? E no Brasil?

"A segurança alimentar tem crescido muito na agenda internacional. Não por acaso, o objetivo número 2 do desenvolvimento sustentável da agenda 2030 trata da erradicação da fome e de todas as formas de má nutrição. Ao longo desses sete anos, conseguimos apontar a todos os países, inclusive aos mais pobres, de que há um caminho, há uma direção para se erradicar a fome: com políticas públicas, com regulamentação e com exercício de direitos adquiridos. No entanto, essa realidade não se verifica quando falamos de obesidade, o que sem dúvida é o grande mal desse século XXI. Estamos falando de milhares de mortes associadas à hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes. E com um custo exorbitante para os sistemas nacionais de saúde. Podemos fazer muito mais para regular os nossos sistemas alimentares. Está faltando regulação. E é aí que o carro está patinando. Há muitos avanços tecnológicos em curso na produção, consumo e a distribuição de alimentos e, do lado da regulamentação, da presença do poder público, isso está muito atrasado. Há quem continue achando que o problema da alimentação é um problema apenas das famílias, mais especificamente das mães, que preparam a comida. Não é. As pessoas hoje não sabem o que comem, não sabem o que cozinham. E isso precisa ter uma interferência do poder público na sua regulamentação, para dar aos consumidores melhores condições de saber o que comem". 

Como avalia que as dietas atuais contribuam para esse problema? O que fazer para mudar?

"A obesidade é, atualmente, um problema ainda mais preocupante do que a fome. Trata-se de um trabalho de prevenção. Além dos exercícios, temos de criar sistemas alimentares sustentáveis que promovam dietas mais saudáveis. Isso significa valorizar o consumo de produtos locais e naturais e a prevenção do consumo de produtos ultraprocessados. Esse tipo de produto, como a salsicha, é daquele que não se consegue identificar o que tem dentro, e por isso não se sabe quanto açúcar, sal e gordura se está consumindo. A dieta mediterrânea e a dieta japonesa, que valorizam muito os peixes, as verduras e os legumes, são duas boas referências de cardápios saudáveis com as quais temos trabalhado".

Você costuma dizer que não se pode tratar alimentos apenas como “commodities financeiras”. Como difundir esse entendimento?

"Recentemente, estive em um evento no Brasil e afirmei que a tendência mundial não é o crescimento apenas das commodities. Há um espaço consideravelmente grande, cada vez maior, para as “não-commodities”: são os produtos locais, que não estão disponíveis no mercado internacional tradicional. E são produtos diferenciados, na maioria das vezes mais nutritivos e produzidos de maneira mais sustentável, por agricultores familiares. Hoje, a alimentação não é mais baseada unicamente em commodities, apesar de a maior parte dos alimentos que nós consumimos (trigo, milho, soja e arroz) serem commodities. Há uma tendência crescente do consumo de frutas, verduras e carnes. Muitas destas não são commodities. Isso abre um espaço muito importante para a diversificação das dietas, e é uma aposta importante, principalmente se queremos promover uma dieta de qualidade nutritiva".

Quais principais desafios a nova gestão da FAO deve enfrentar?

"Diria que o impacto das mudanças climáticas e dos conflitos na segurança alimentar dos países em desenvolvimento. Nos conflitos, a FAO tem um papel relativamente limitado, que é assistir as populações afetadas e acompanhar sistematicamente os resultados obtidos. Nós já temos evidências suficientes para afirmar que a fome é uma próxi dos conflitos – quando aumentam os conflitos, aumenta a insegurança alimentar".

Sabe-se que há produção de alimentos suficiente para alimentar todo o planeta. Qual o caminho para levar alimentos àqueles que não conseguem obtê-los hoje em dia?

"Temos feito um esforço de programa de ajuda alimentar aos países em conflito junto com o PMA, com foco a áreas específicas. Um dos programas mais bem-sucedidos da FAO, por exemplo, é o programa de alimentação escolar com compras locais da agricultura familiar. É uma maneira criativa de promover circuitos locais de produção e consumo de produtos frescos, como frutas e verduras, além de levar o alimento de maior qualidade, mais nutritivo. É muito mais barato e impulsiona as economias locais".

Como a FAO e outras entidades podem trabalhar para pacificar esses ambientes?

"A FAO não tem mandato para atuar na pacificação de conflitos. Mas temos trabalhado diuturnamente para ajudar as populações afetadas. A FAO nunca saiu da Síria. Aliás, a FAO nunca saiu de nenhum país em conflito. Esse é um dos maiores orgulhos que tenho de nosso trabalho. Nós continuamos produzindo na Síria hoje, em pleno conflito, 50% do que se produzia antes do conflito. Imagine a importância disso? Metade do alimento hoje consumido na Síria é produzido em regiões de conflito. Isso minimiza consideravelmente o alto custo da ajuda alimentar externa".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures