O evento, idealizado e promovido pela AgriPoint, reuniu técnicos ligados ao setor leiteiro, como Christiano Nascif, do Educampo de Minas Gerais, que abriu o evento com a provocação inicial: Cana x Leite: índices de rentabilidade e perspectivas. Christiano mostrou que não se pode comparar atividades exploradas em níveis distintos de tecnologia. "Normalmente, se compara o leite ineficiente com a cana explorada com alta tecnologia. Aí fica difícil competir", constata.

Segundo ele, a questão não é tanto a competição, mas sim a cooperação entre as atividades, que podem se complementar na geração de renda à propriedade. Aliás, essa foi a tônica do evento. Luiz Gustavo Nussio, professor da ESALQ/USP, que abordou o tema "Utilização de cana-de-açúcar em sistemas de produção de leite" disse que "a cana está fazendo a pecuária refletir". Para ele, é preciso repensar os índices de produtividade nas regiões mais sensíveis à competição com a cana.
André Luiz Novo, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, mostrou a linha de trabalho do projeto Balde Cheio, uma parceria da Embrapa com a CATI que visa criar propriedades de referência nos vários municípios de SP, PR e RJ, assessoradas pelos técnicos da CATI. André mostrou que, intensificando parte da área com o leite, é possível diversificar a propriedade, arrendando ou plantando cana no restante, por exemplo. "É possível ter as duas atividades na propriedade, ambas com rentabilidade, evitando o risco de atuar com uma única atividade", comentou.
O professor Alexandre Mendonça de Barros, da FGV-SP, mostrou o impacto da movimentação global em direção a energias renováveis, com ênfase para a produção de etanol a partir de milho, nos Estados Unidos, e cana-de-açúcar no Brasil. Alexandre enfatizou que nos próximos dois anos, devido ao direcionamento de parte significativa da produção de milho nos EUA para a produção de etanol, os preços do cereal devem permanecer muito elevados, o que encarece os custos de alimentação.
Ele considera a atividade leiteira de menor risco, quando comparada a culturas anuais. Porém, à medida que se intensifica, os riscos de produtividade e preços de insumos se tornam maiores. "Caso se adube intensamente e não chova, há o risco de perda", exemplifica. Segundo ele, a concentração das usinas de cana em regiões que são grandes bacias leiteiras deverá levar à intensificação da produção de leite.
Além dessas apresentações, o evento contou com a apresentação de 3 casos de sucesso: Andrew Jones, gerente da Fazenda São Pedro, maior projeto de produção de leite a pasto; Mário Rezende, da DPA, sobre o projeto da empresa com os assentados de Andradina; e Carlos Pagani, médico veterinário da CATI-Catanduva, sobre as propriedades assessoradas pelo órgão na região.
Para Marcelo Pereira de Carvalho, da AgriPoint, o evento teve um significado especial. "O Estado de São Paulo é um dos únicos do país que, nos últimos 15 anos, teve redução na produção de leite. Há tempos não recebíamos um evento dessa natureza, que não só reuniu pessoas do Rio Grande do Sul a Rondônia, mas que passou uma mensagem positiva da atividade, a partir de quem está de fato obtendo resultados competitivos", conclui.
O workshop Leite Competitivo teve o patrocínio master da DPA, além do patrocínio da Sulinox, Bunge e Tortuga, e apoio do Sebrae-SP, Láctea Noroeste, Balde Branco e Revista Leite DPA. No dia 09, foram realizadas duas excursões a propriedades da região.



