EUA: benefício de mega-cooperativa é questionado

A idéia tradicional de cooperativas agrícolas é que os produtores têm mais força para negociar preços quando estão juntos. No entanto, a maior cooperativa de lácteos dos Estados Unidos, <i>Dairy Farmers of America</i> (DFA), não está trabalhando desta forma. Os executivos do grupo estão parecendo cada vez mais preocupados em agradar os executivos lácteos do que seus membros, isso durante um período de brutal consolidação da indústria.

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 3 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 0
Ícone para curtir artigo 0

A idéia tradicional de cooperativas agrícolas é que os produtores têm mais força para negociar preços quando estão juntos. No entanto, a maior cooperativa de lácteos dos Estados Unidos, Dairy Farmers of America (DFA), não está trabalhando desta forma. Os executivos do grupo estão parecendo cada vez mais preocupados em agradar os executivos lácteos do que seus membros, isso durante um período de brutal consolidação da indústria.

A cooperativa, criada em 1998 a partir da fusão de quatro outras, gera US$ 11 bilhões em vendas. Por ser tão grande, muitos produtores de leite se sentiram compelidos a se unir e acabaram descobrindo que estavam recebendo menos pelo seu leite do que antes.

No entanto, os executivos da DFA não sofrem esses mesmos problemas, viajando o país em um jato corporativo e fazendo negócios que aparentemente beneficiam poucos na indústria; alguns membros reclamam que estão sendo deixados na escuridão sobre como o dinheiro desses negócios é gasto.

Houve, inclusive, o registro em 2001 de transferência de US$ 1 milhão, feita pelo antigo chefe executivo da DFA, Gary E. Hanman, para o então presidente da cooperativa, Herman Brubaker, por razões misteriosas. O pagamento foi descoberto pelo atual presidente e chefe executivo, Richard P. Smith. Ele descreveu o pagamento como uma "transação imprópria" que foi escondida. A cooperativa vem desde então recuperando o dinheiro, disse Smith, que em 2006 substituiu Hanman. Smith acha que Hanman e Brubaker agiram juntos nessa transferência ilegal de dinheiro da cooperativa.

Isso parece ser uma disputa confinada em estados que são fortes na produção leiteira nos EUA, como Califórnia e Wisconsin. No entanto, as implicações desse cenário atual da cooperativa estão indo além dos estados leiteiros.

Na última década, o número de fazendas leiteiras dos EUA declinou bastante - de cerca de 99 mil em 1997 para cerca de 59 mil no ano passado, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Ao mesmo tempo, houve uma importante substituição no local onde o leite é produzido. Pequenas fazendas leiteiras ao leste do rio Mississippi e na região de Upper Midwest estão cada vez mais sendo substituídas por grandes fazendas leiteiras no Oeste, em locais como Novo México e oeste do Texas. Poucas fazendas leiteiras estão sobrando no Sudeste.

Atualmente, mais leite precisa ser transportado, porque os produtores locais e os embaladores de leite locais estão fora do negócio. Toda essa mudança foi feita em nome da eficiência - e pode ter feito sentido quando a gasolina custava US$ 2,50 o galão (3,78 litros). Porém, no ano passado, esse novo esquema não beneficiou os consumidores norte-americanos que compraram leite.

Hanman esteve em uma posição ideal para ajudar os produtores de leite a lidar com essas mudanças no setor de lácteos dos EUA. Porém, ele acabou piorando a situação, expandindo agressivamente sua cooperativa e sua influência, manipulando seus competidores, recompensando seus aliados e dando contribuições em campanhas de políticos que poderiam ajudá-lo. Ainda, para expandir a cooperativa, usou uma estratégia que deu aos produtores de leite poucas opções além de se unirem a ela e, neste processo, ajudou a pressionar as cooperativas competidoras a saírem do negócio - em alguns casos, elas se uniram à DFA.

A DFA assinou acordos de fornecimento exclusivo com embaladores de leite ou comprou plantas de embalagem de leite, frequentemente em áreas onde tinha poucos ou nenhum membro. Os produtores que forneciam leite a essas plantas, então, ou se uniam à cooperativa ou encontravam outra pessoa para vender seu leite. Em um período de rápida consolidação, com freqüência não havia outras plantas dentro de uma distância razoável. Em algumas partes dos EUA, incluindo nordeste e áreas do sul, três em cada quatro fazendas leiteiras agora vendem seu leite através da DFA ou de uma de suas afiliadas. Alguns produtores reclamam que o dinheiro que recebem pelo seu leite caiu quando começaram a vendê-lo através da DFA ou de suas subsidiárias.

Alguns questionamentos sobre onde o dinheiro dos produtores estava indo se intensificaram quando foram registrados documentos na corte judicial pelo Departamento de Justiça dos EUA há alguns anos que revelaram que alguns dos sócios da DFA estavam tendo lucros extraordinários. Smith disse que "uma combinação de falta de transparência e arrogância" existiu nos últimos tempos da DFA e ele pretende mudar essa cultura. Em primeiro lugar, livrou-se do jato corporativo. Ele também prometeu uma investigação transparente e completa das finanças da cooperativa para garantir que não houve outros pagamentos inexplicáveis.

O Departamento de Justiça dos EUA, que começou uma investigação sobre a DFA há quatro anos, divulgará em breve se descobriram mais anormalidades. A reportagem é do The New York Times.
Ícone para ver comentários 0
Ícone para curtir artigo 0

Publicado por:

Foto MilkPoint

MilkPoint

O MilkPoint é maior portal sobre mercado lácteo do Brasil. Especialista em informações do agronegócio, cadeia leiteira, indústria de laticínios e outros.

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Qual a sua dúvida hoje?