Estouro da bolha frustra a aposta no mercado de lácteos

Especialistas do setor de lácteos acreditam que a chamada consolidação - incorporação de empresas que, em seis meses, fez com que mais de R$ 2 bilhões fossem investidos em aquisições - provocou uma "bolha" que, agora, estourou. As indústrias estão com dificuldade de repasse dos custos, excesso de produção e redução no consumo. Resultado: as margens que, historicamente, segundo a <i>Moody`s</i>, estavam entre 6% e 10%, caíram para menos de 5% e, em alguns casos, estão negativas.

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Especialistas do setor de lácteos acreditam que a chamada consolidação - incorporação de empresas que, em seis meses, fez com que mais de R$ 2 bilhões fossem investidos em aquisições - provocou uma "bolha" que, agora, estourou. As indústrias estão com dificuldade de repasse dos custos, excesso de produção e redução no consumo. Resultado: as margens que, historicamente, segundo a Moody`s, estavam entre 6% e 10%, caíram para menos de 5% e, em alguns casos, estão negativas.

De acordo com Luís Vasconcelos, diretor-financeiro da Nilza Alimentos, "a aposta foi errada". Segundo ele, houve a entrada de grandes empresas no setor que não conheciam o mercado e achavam que conseguiriam aumento nos preços (acompanhando a valorização da matéria-prima), o que não ocorreu. Opinião semelhante tem o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Longa Vida (ABLV), Laércio Barbosa. "A bolha estourou", afirma. Para ele, a consolidação do setor é parte da causa. Aliado a isso, o custo de matéria-prima e a oferta estão maiores que no ano passado, sem repasse ao varejo.

Barbosa diz que as margens reduzidas de hoje são reflexo do ano passado. Em 2007 houve falta de matéria-prima e, com isso, o leite ao produtor subiu - no varejo o longa vida chegou a R$ 2,00 o litro ante R$ 1,30, atualmente. Melhor remunerado, o pecuarista investiu e a produção aumentou 20%. Assim, segundo ele, existe um excedente de produção que precisa ser escoado e que pressiona o preço. Por outro lado, o bom resultado de 2007 elevou a rentabilidade do setor, o que teria estimulado as compras. "E aquela empresa que está querendo ser vendida, busca faturamento a qualquer custo, piorando ainda mais o cenário", afirma.

Soummo Mukherjee, analista da Moody's, diz que a redução das margens foi um dos motivos pelos quais a empresa não melhorou o rating da Vigor, por exemplo. "As empresas não conseguiram repassar os custos ao consumidor", afirma. Pelas estimativas de Vasconcelos, o consumo caiu em torno de 10% desde janeiro, na comparação com 2008. "A inflação dos alimentos pegou o consumidor", afirma.

Mukherjee lembra também que as empresas que estão mais concentradas no segmento de longa vida são as que enfrentam maior dificuldade - pois é uma commodity. Para ele, a consolidação do setor fez com que a capacidade industrial aumentasse e a ociosidade crescesse. "A produção não está acompanhando o investimento industrial", afirma Mukherjee.

Na opinião do vice-presidente do Conselho da Indústrias de Laticínios (Conil), Cícero de Alencar Hegg, o setor de alimentos, em geral, está com margens menores, mas dentro da expectativa. "Houve retração em alguns segmentos por conta de inflação", acredita.

Para o vice-presidente da ABLV, haverá uma mudança no perfil industrial com o direcionamento de matéria-prima do longa vida para outros produtos. É o que está fazendo a Cooperativa Piá. O gerente-comercial da empresa, José Júnior Cabral, diz que não se arrepende dos investimentos - da ordem de R$ 25 milhões nos últimos anos - para a ampliação de mix. Com isso, a empresa lançou produtos de maior valor agregado e, segundo ele, ganhou mercado. Contudo, disse, a previsão é de "alguns meses de dificuldade".

Na avaliação de Vasconcelos, uma das alternativas para a atual crise é reduzir o custo de captação - ou seja, pagar menos ao produtor - e os estoques. A Nilza optou por isso, reduzindo em 10% seu volume.

As informações são da Gazeta Mercantil.
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Rogério de Abreu Torres
ROGÉRIO DE ABREU TORRES

BARRA MANSA - RIO DE JANEIRO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 14/09/2008

Realmente o preço começou em torno 20% maior este ano. Mas uma coisa ocorreu e muita gente não comentou, as empresas seguraram um pouco o leite apostando no aumento do preço e isto não aconteceu e agora este leite vai ter que sair e coincidindo com a safra talvez olha ai o Setembro será Negro. Quantos aos produtores eles estão anos luz atrás destas empresas, pois não são unidos e não possuem informações o bastante para competir com seus compradores.

Nós hoje estamos numa economia de informação e ela muda todo dia e nós temos a obrigação de nos mantermos informados sobre toda a cadeia lactea. Mas infelizmente com o perfil que a maioria dos produtores possui a coisa vai continuar por muito tempo assim. Tem que haver equilíbrio entre a oferta e a procura. E as empresas precisam ter lucros e a única maneira de isto acontecer é a receita mais velha do mundo - quem compra bem vende bem. Então senhores os produtores terão também que fazer o seu dever de casa.
Carlos Roberto Dias Barboza
CARLOS ROBERTO DIAS BARBOZA

MERIDIANO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/09/2008

Como vou explicar isto para nossos associados? Quando vou ao supermercado e vejo as mesmas industrias que compram leite em nossa regiao vendendo leite de soja com sabores, ao dobro do preco do leite. E eles mesmos nos humilhando, penso que nao querem mais leite de vaca. Vou dizer adeus à atividade muito em breve.
João Tadeu Grejianin
JOÃO TADEU GREJIANIN

GUARACIABA - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/09/2008

Chegou a vez de profissionalizar o produtor, implantando uma boa gestão na propriedade. O produtor não pode pensar que é ele que sempre paga a conta. Ele tem que ser um profissional como outro, claro, com muitas dificuldades.

Recebi na ultima quinta feira, 04/09/2008, um produtor de leite e um integrante da entidade fundada pelos produtores de leite da Austrália para defender os interesses dos produtores. Foi um encontro dos mais importantes que ja tive com profissionais da atividade leite.

O que esta acontecendo aqui eles ja tiveram e, aplicando uma boa gestão na propriedade e tambem na verba arrecadada (centos por litro de leite, pago pelo produtor para pesquisa, divulgações, marketing e escala de produção), indepentente da variação de mercado, estão tento resultado positivo.
Izael Rosa Campos Júnior
IZAEL ROSA CAMPOS JÚNIOR

ITAJUBÁ - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/08/2008

"Nessa situação novamente o produtor tem que arcar com as consequencias, e ele que não tem muitas ferramentas para se defender, por ele ser um tomador de preços de dois lados, um de onde compra os insumos, que tiveram altas violentas e o outro lado das industrias que pagam como vai sua necessidade. Boa sorte produtores que o nosso natal vai ser bem magro!" Não concordo com SR Marcelino. O Natal pode ser bem gordo.

Muitos erram ao dizer que não está nas mãos do produtor. É só ver o preço da arroba do boi. Há quanto tempo não fazemos um belo churrasco por causa do preço da carne? Não há outra saída a não ser diminuir a produção para que os preços se recuperem, e assim poderemos comer um belo churrasco no Natal e com preços melhores para o leite. Brincadeiras a parte, mas todos nós sabemos que o mercado é a lei de oferta e procura.

Abraços.
Marco Aurelio Martins de Oliveira
MARCO AURELIO MARTINS DE OLIVEIRA

NITERÓI - RIO DE JANEIRO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 23/08/2008

A bolha estorou !

Falta de planejamento, com pessoas que se dizem qualificadas apenas com teorias absurdas, sem conhecimento nenhum do ramo. Empresários com muito
dinheiro investindo em pessoas sem criatividade e sem talento, com ideais de reduzir custos de qualquer maneira, sem preservar a matéria-prima mais importante, o maior patrimonio da empresa: os seus funcionários.

Aniquilando um quadro de representantes que ajudaram a contruir uma marca com competência e honestidade, achando que qualquer vendedor assalariado consegue fazer o mesmo. Caro amigo, leite não é para amador, e sim para profissionais. A Elege hoje está negociando como um iniciante no mercado. Perdemos a referência de mercado pois não temos um profissional com talento e criatividade de mudar este mercado, querem resultados em curto espaço de tempo e destroem o mercado e
penalizam os produtores por causa de suas irresponsabilidades.

Existe uma saída sustentável para o leite sim; por que só o produtor tem a solução para o problema, valorize a sua casa , associe -se a pessoas que tem talento para mudar. A cada 100 atletas, apenas 1 tem o nível olímpico. Tanto no esporte como nos negócios, temos que buscar sempre o melhor resultado, agora observe o que eu vou dizer:

Os velozes nem sempre vencem a corrida;
Os fortes nem sempre triufam na guerra;
Os sábios nem sempre têm comida;
Os prudentes nem sempre são ricos ;
Os instruidos nem sempre têm prestigio;
Pois o tempo e o acaso afetam a todos.

Em todo trabalho há proveito , mas ficar só em palavras leva à pobreza. Está na hora de mudar! Vamos trabalhar.

Att: Marco Aurelio

Luiz Chaves Raggi
LUIZ CHAVES RAGGI

CONSELHEIRO PENA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/08/2008

Porque a "bolha" do produtor sempre estoura primeiro??
José ricardo Vilkas
JOSÉ RICARDO VILKAS

ANGATUBA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/08/2008

Muito boa do sr. Silas Fernandes. também gostaria de saber se irá estourar a bolha destes itens.

Abraços
Maurício Santolin
MAURÍCIO SANTOLIN

CONTENDA - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/08/2008

Na minha opinião, o fator principal deste momento inesperado para o setor lácteo, deve-se ao fato de o rebanho leiteiro nacional possuir uma capacidade de produção muito aquém do potencial genético. A partir do momento em que se remunera melhor ao produtor, ele consequentemente reverte isso em melhores condições para seu rebanho, ou seja, reinveste em instalações, concentrado, mineralização, pastagens, semen de melhor potencial, etc.

Isso ocasina numa melhora imediata de produção per capita na propriedade. Basta visitar as propriedades de leite em qualquer região do Brasil e ver que a média no resfriador subiu em quase 100%. Óbvio que isso resulta num excesso de produção em uma época que não se é esperado isso. Mas ressalto ainda, que isso que as industrias estão alegando é pura especulação, pois elas tem receio de uma enxurrada de leite na época que está para vir e tem de frear o quanto antes isso.

Ressalto que no nosso Estado do Paraná, o mix de comercialização do leite fluído pasteurizado é de R$ 1,21 aproximadamente e que estão projetando R$ 0,65 para o produtor. Será que não estão exagerando um pouco! São R$ 0,56 centavos de margem bruta por litro de leite! A pouco mais de um ano essa diferença nunca ultrapassou os R$ 0,40. Mesmo alegando aumento de custos de produção, retirando-se a matéria-prima pricinpal que é o leite, acredito em exageros. Outra coisa, as Indústrias de Laticínios não podem culpar o produtor pelo fato de sua completa incompetência na quastão de preços (comercialização), onde 1 litro de coca-cola e 1 litro de água mineral são comercializados com valor acima do litro do leite. Nem comento em relação ao suco de frutas, porque daí passamos vergonha.

O grande negócio é a remuneração do leite por kg de sólidos! Como alguns Laticínios já o fazem.

Maurício Santolin - Produtor Rural e Zootencista
Homilton Narcizo da silva
HOMILTON NARCIZO DA SILVA

GOIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/08/2008

Meus avós tinham um ditado que jamais pensava que seria tão certo como é, enquanto existir pão torto no cerrado, os bobos não acabam. Veja bem, parece folclórico, mas é a pura realidade.

Quando surge um boato que o leite pode chegar a 1,00 real, vai o produtor de leite atrás de vacas de 3, 4, 5 mil ou mais, pensando em paga-las com sua própria produção, e ai da no que deu, sempre as industrias colocam os prejuizos na conta do produtor sofrido e injustiçado, o qual nem tem para quem reclamar.

Abraços, Homilton.
clairson
CLAIRSON

RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/08/2008

Quem não se impressionou com os preços fartos, manteve a lógica nos seus investimentos, buscou informação em fontes confiáveis (como neste site) acredito que o impacto será menor; porém, faltou também seriedade a que pregou que, com tantas novas empresas de lacteos se instalando país á fora, e as atuais investido milhões, tudo seria conforme o produtor sonhava, e será, para quem estiver de olho nas duas pontas da produção (receita x despesa), planejamento, somente com um bom planejamento, e segui-lo sempre, esteja o vento contra ou a favor.

Vamos torcer para também estourarem as bolhas dos minerais, medicamentos, adubos, concentrados, etc.
Helder de Arruda Córdova
HELDER DE ARRUDA CÓRDOVA

CASTRO - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 21/08/2008

O mercado é assim mesmo. É preciso que o produtor faça a sua parte da porteira para dentro, ou seja, procure melhores índices zootécnicos, procure reduzir os custos de produção, enfim trata a sua propriedade como uma empresa rural em todos os sentidos. E fora da porteira é preciso que os representantes dos produtores sejam mais atuantes no órgãos que definem o preço do leite.
valdinei grapiglia
VALDINEI GRAPIGLIA

CONSTANTINA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/08/2008

A única bolha que estoura é a do produtor de leite! Ou melhor as contas do produtor de leite! Acima tivemos alguns comentários a respeito de inflação, mas me questiono, se em 2007 o longa vida chegou a 2,00 (por aqui até 2,30) e hoje estamos com 1,60 a 1,30 (e com tudo pra baixar mais) que inflação é essa? Acredito que esta não seja a real causa da situação.

As 12 palavras do comentário do senhor Silas citadas acima, talvez sejam as mais pertinentes da matéria. Nenhum político, dirigente de empresa e a maioria dos consumidores, tem noção do que é produzir leite com os custos atuais, com as dificuldades climáticas e de mercado (o risco todo é do produtor).

Reconhecemos nós, produtores de leite e técnicos de campo (que estão junto com o produtor tentando achar alternativas), que temos nossas dificuldades, que precisamos melhorar a qualidade do produto, ter uma produção mais estável e tudo mais que nos é dito nas épocas boas, quando o preço melhora um poquinho (de centavo em centavo).

O que precisamos é de uma política séria para toda a agricultura e pecuária, não precisamos de migalhas, precisamos de segurança! Se realmente existe falta de alimento garanta para o produtor que ele terá renda que ele supre qualquer demanda. Programa mais alimento? Deveria se chamar mais dívidas para o produtor, tenho apenas 25 mas já ouvi esta história muitas vezes. Ouvi esta semana de um produtor, "Estão colocando uma migalha no chão e quando o produtor for se abaixar pra pegar irá tomar um chute na boca", alguém duvida?

Chega de discursos! Venham aqui no campo, provar e fazer dar certo com as atuais condições, não existe eficiência que compense se pagar 100,00 um saco de adubo, 80,00 um saco de uréia, 0,90 o Kg de farelo de soja e por ai vai, e receber R$0,50 a R$0,60 por litro de leite. Claro que não podemos esquecer da nossa indústria mal dimensionada, dos cartéis que continuam por ai e outras tantas coisas.

Acredito que alguém tem que fazer alguma coisa. Infelizmente nós produtores não somos unidos como os dos paises da Europa. Nesse "nosso" Brasil tem dinheiro pra tudo (Roubalheira, corruptos, investimentos mirabolantes, etc); porém, mais uma vez quem vai sofrer são os responsáveis por produzir leite, soja, milho, trigo, e por ai vai.

Como diziam: "esse é o nosso país."

Ass: Uma pessoa que vê a conjuntura do setor de uma maneira diferente do que é praticada em todas as pontas e que está muito revoltado com o que vem acontecendo.
Valdinei Grapiglia
Carlos Alberto T. Zamboni
CARLOS ALBERTO T. ZAMBONI

CAJURU - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 21/08/2008

A partir de Março/Abril, não era preciso ser vidente, nem profeta. Era só preciso ir aos supermercados para ver o quanto a "bolha" estava inflando. Preços maiores para o pecuaristas, sem o consequente repasse para os produtos. Era questão de tempo para ela estourar. Estourou.

E os amadores do ramo, que conforme mencionado na materia, não conheciam o mercado, onde estarão?
Luiz Miguel Saavedra de Oliveira
LUIZ MIGUEL SAAVEDRA DE OLIVEIRA

SANTO ÂNGELO - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/08/2008

Só é bolha quando a as vítimas são produtores, nos demais casos são ajustes de mercado! Bah ,conversa práa boi dormir.
jose sampaio filho
JOSE SAMPAIO FILHO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/08/2008

Comecei a produzir leite em 1983, portanto a 25 anos atrás. Naquela época, ainda carregava comigo o trauma de ter visto em 1973 os produtores do Sul do País derramarem o leite de seus caminhões nas estradas em sinal de protesto e desespero pelo baixo preço ao produtor, falta de assistência, e cooperativas que visavam apenas o lucro para os seus administradores e que se danassem os seus cooperados. Ao menos, aconteceu assim com a que eu estava afiliado.

Como resultado, que já era previsto, foram para o brejo as vacas, muitos produtores da época e também quase todas as famosas cooperativas, com exceções, é claro. Se naquela época era de lastimar, agora é de se colocar o dedo no ouvido e sair correndo. Maldita exposição de gado de leite! Foi quando em 1983, atrás de comprar selas para os cavalos da minha fazenda, recebi como presente de um amigo (que também perdeu tudo, quase tudo mesmo, com leite ) um bezerro que nascera na exposição. Começou aí a minha vocação para obras de caridade. Qual seja? Produzir leite e vender a preços mais baixos do que o curto de produção.

Fui visitar um pais estrangeiro, grande produtor de leite, e perguntei, quando estava hospedado em uma fazenda de leite: Compensa produzir leite aqui? Compensa! Mas, como? Perguntei. "Por que o governo fixa o preço e nós vendemos para ele". Ah! Legal! Voltei achando que esse mal aqui nunca vai ter cura. Sobretudo nos últimos tempos, onde as coisas estão assim: Meu filho, você quer leite? Não mamãe, quero suco. Como a criança não conhece as vantagens do leite, prefere mesmo o suco, pois é doce e a mamãe não tem tempo para explicar onde estão as proteínas e para servem.

Agora surge, atenção senhores produtores de leite, uma grande oportunidade! Com a lei seca, vou tentar vender o meu leite nas bares, nas salões de festa e outros lugares onde a "pinga" certamente não vai concorrer com o "ouro branco". Branco, mesmo? Será que as crianças sabem mesmo que leite é branco? Ou é aquele negocio que tem soda caustica e soro?

Culpa por verem as crianças serem alimentadas sem o que o leite pode lhes oferecer nos primeiros anos de sua vida, essa não é a função do produtor, ou estou errado? Se eu tivesse que fazer propaganda do leite das minhas vacas, eu diria assim: Olhe, se vocês, crianças atletas, tivessem tomado um pouco mais do leite das minhas vaquinhas, teriam trazido um pouco mais de medalhinhas! Certo?

Basta! Vamos, que amanha é sexta feira e é dia de vender leite! Tenho pena dos taxistas que atendem ao "disque bêbado", porque irão perder alguns clientes para o produto das minhas vaquinhas. Desculpem! Não é um desabafo, mas a demonstração de um cansaço de tanto esperar.

Garanto-lhes : não irei mais reclamar e salve -se quem puder, fazendo milagre.

Silas Fernandes
SILAS FERNANDES

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/08/2008

E as bolhas do sal mineral, do adubo, do concentrado, estouram quando?
Georgea Paiva Coelho
GEORGEA PAIVA COELHO

PATOS DE MINAS - MINAS GERAIS

EM 21/08/2008

Excelente artigo,

Fiquei muito contente quando vi grandes empresas entrarem no ramo, confesso que me decepcionei. Se consumo diminui é porque nao sabemos vender o nosso produto. Com um infimo estimulo foi confirmado o que já sabiamos: temos um potencial enorme. Agora é continuar levando a qualidade do serviço tecnico para dentro da porteira e depois mostrar que o nosso leite é excepcional.
Eduardo Valias Vargas
EDUARDO VALIAS VARGAS

SÃO GONÇALO DO SAPUCAÍ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/08/2008

A "bolha" sempre estoura quando o produtor tem as raras oportunidades de ser dignamente remunerado pelo seu produto, fruto de arduo e constante trabalho.
Marcelino
MARCELINO

CARAMBEÍ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/08/2008

Nessa situação novamente o produtor tem que arcar com as consequencias, e ele que não tem muitas ferramentas para se defender, por ele ser um tomador de preços de dois lados, um de onde compra os insumos, que tiveram altas violentas e o outro lado das industrias que pagam como vai sua necessidade. boa sorte produtores que o nosso natal vai ser bem magro!
Vicente Romulo Carvalho
VICENTE ROMULO CARVALHO

LAVRAS - MINAS GERAIS - TRADER

EM 20/08/2008

O leite é branco, mas a coisa está ficando preta. E tudo que está acontecendo, não tem qualquer fundamento e vamos pagar caro por isto. Ora, uma vez que as vendas caem e precisa de um ajuste do preço para buscar a retomada, o laticínio está na dele. E, uma forma rápida e eficiente, é uma materia prima com preço menor. Estão mais do que certos.

Acontece que o produtor tem custos maiores, e não uma forma de reduzí-los. Como que eu vou chegar lá no comércio e dizer: não vou pagar R$ 145,00 pelo fosfato de bicálcio e sim R$ 50,00; isto não existe do lado de fora da porteira. Olha que coisa complicada, leite de R$ 1,00 a nível de produtor, seria bom. Mas mussarela de R$ 20,00 o quilo no mercado, não vende. Leite de R$ 0,50 a nível de produtor, é o fim da atividade. Mas mussarela de R$ 10,00 o quilo no mercado vende.

Conclusão, para o produtor não dá com este preço, para o consumidor não dá aquele preço. Está chegando o momento de prepararmos nossas lavouras/silagem para o ano que vem, com os atuais custos, certamente vamos só pesar bem o que fazer. Isto sinaliza que lá na frente vamos ter problemas com leite (falta). E de repente tudo muda e veremos leite de R$ 1,00, porque tem que ficar ruim, para depois ficar bom, será que não existe meio termo.

Nestes 2 meses de baixa, já deixei de receber um valor, que é justamente o que estou precisando, para fazer revisão no circuito fechado, será que a qualidade de meu leite não está sendo prejudicada? Este negócio do produtor ter que bancar comida acessível não vai nos levar no lugar certo, e mais cedo ou mais tarde, vamos pagar um preço por isto, tomara que eu esteja errado e isto não aconteça, precisamos nos alimentarmos e produzirmos alimentos para alimentar a turma da cidade e, até excedentes para exportarmos, mas com dignidade, que é diferente de caridade.
Qual a sua dúvida hoje?