Especialistas apontam problemas no leite

Segundo especialistas do setor leiteiro, fraudes como as descobertas em Minas Gerais pela Polícia Federal acontecem há muito tempo, são comentadas na área e pouco foi feito até hoje para combater a prática. Além disso, outros problemas, como tolerância da legislação e mau controle da produção, fazem com que os laticínios brasileiros não sejam bons quando comparados como os produzidos em outros países.

De acordo com Sebastião Cesar Cardoso Brandão, especialista em tecnologia de alimentos da Universidade Federal de Viçosa com pós-doutorado pela Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, "se não fraudar, não ganha dinheiro". Segundo ele, não quer dizer que todos os produtores façam isso, mas é uma minoria que domina o mercado e inibe os produtores que são honestos.

Brandão disse que há 18 anos denunciam a mistura de soro e outras substâncias ao leite. "Sempre que denunciamos, há uma melhora por uns meses, mas depois volta a fraude", diz.

Ademir de Lucas, especialista em economia da agricultura da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), disse que quem trabalha no setor sabe disso, mas até então não havia provas, comprovações como as que vieram à tona agora. "Uma coisa que tem levantado suspeitas no mercado nos últimos dois anos é o fato de, na entressafra, quando há menos leite sendo produzido, termos tido muito mais leite de repente, com queda nos preços." Neste ano, a explicação do setor para a queda dos preços é um maior investimento na alimentação das vacas, que produzem mais. As informações são de Simone Iwasso para o jornal O Estado de S. Paulo.

Outro problema que afeta a qualidade dos laticínios brasileiros está na legislação, que tolera no País dez vezes mais bactérias, por exemplo, do que a dos Estados Unidos. Outras questões, como o uso descontrolado de antibióticos para tratar do gado, contribuem para um produto de pior qualidade.