Enquete: maioria acredita em sistema de integração

A enquete realizada pelo MilkPoint entre os dias 31 de agosto de 20 de setembro avaliou a opinião dos leitores quanto à funcionalidade de um sistema de integração no setor leiteiro. Foi perguntado: "Você acha que um sistema de integração, como existe em aves e suínos, pode funcionar com leite?". Com um recorde de participação de 234 leitores, o resultado foi que 63,2% dos participantes acreditam que esse sistema pode funcionar com leite.

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A enquete realizada pelo MilkPoint entre os dias 31 de agosto de 20 de setembro avaliou a opinião dos leitores quanto à funcionalidade de um sistema de integração no setor leiteiro. Foi perguntado: "Você acha que um sistema de integração, como existe em aves e suínos, pode funcionar com leite?". Recentemente, o fundo Laep, que controla a Parmalat, anunciou a criação da empresa Integralat, que funcionará em um sistema de integração.

Com um recorde de participação de 234 leitores, o resultado foi que 63,2%, ou 148 pessoas, acreditam que esse sistema de integração pode funcionar com leite. Cerca de 19% acham que depende de alguns fatores e 17,5% não acreditam nesse sistema.

Figura 1

Um sistema de integração pode funcionar com leite

Segundo a maioria, o sistema poderia trazer maior profissionalização e especialização das fazendas, organização, garantia de fornecimento de tecnologia, redução de custos e melhores preços, entre outras vantagens.

Para o consultor Roberto Trigo Pires de Mesquita, os resultados da integração na avicultura podem ser alcançados na pecuária leiteira, especialmente a profissionalização e especialização das fazendas integradas. Antelmo Teixeira Alves, da Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário, acredita que a integração pode resolver problemas com a qualidade do leite e atendimento de normas sanitárias.

Alguns participantes acreditam que o sistema poderá trazer maior segurança para o produtor. Carlos Henrique Scarpellini, da Fazenda Santa Rita, no Rio Grande do Sul, diz que a renda seria mais certa, possibilitando melhor planejamento. De acordo com João Marcos Guimarães, de Minas Gerais, a integração seria uma garantia para o produtor em função do fornecimento de tecnologia e subsídios, além de garantir a compra da produção com um preço previamente combinado.

Uma redução de custos (rações, frete etc.) com a integração também seria possível na opinião de José Francisco N. de Mello, produtor em SP e Renato Morbin, da Arantes Alimentos. Valter Mutão Júnior, produtor em Minas Gerais, acredita que a integração traria garantia de venda do leite por um preço justo.

Para Tarso Quedi Palma, consultor no Rio Grande do Sul, o sistema auxiliaria a entrada de produtores na atividade que não têm condições financeiras para a compra de equipamentos e animais.

Segundo Cleber Medeiros Barreto, consultor no Ceará, esse sistema seria possível somente através de uma empresa integradora idônea, com todos os passos bem explicados, além de contratos respaldados na forma da lei. Mas ele afirma que as empresas do ramo não passam muita credibilidade.

O maior fortalecimento da cadeia leiteira é o que aconteceria com a integração na opinião de Leonardo Campos de Carvalho, de Minas Gerais. De acordo com Manoel Luciano B. Filho, consultor no Distrito Federal, a integração é a fórmula para que a exploração passe por um processo de reorganização sustentada para o setor.

Para funcionar, o sistema de integração dependerá de alguns fatores

Do total de respondentes da pesquisa, 19% acreditam que para funcionar, o sistema de integração depende de alguns fatores. A diferença entre as cadeias do leite e de aves e suínos, principalmente a maior complexidade da atividade leiteira em termos de assistência técnica e maiores custos de produção, foram os motivos mais citados.

Segundo Marcello de Moura Campos Filho, presidente da Leite São Paulo, para o produtor, se tiver uma integração que assegure a cobertura dos custos e uma margem de ganho, pode ser interessante. Mas ele diz que o sistema é mais complexo em termos de assistência técnica e custos do que a integração com frangos, pois não está envolvido apenas o concentrado, mas volumoso, que terá que ser produzido pelo produtor. Para ele, depende também da competência e confiabilidade do integrador.

André Gonçalves Andrade, do Laticínios Ouro Minas (RO), acredita que em virtude das diferenças de produção, as adaptações bem elaboradas e executadas serão essenciais para o bom funcionamento do sistema.

Segundo Francisco Pontes Trigueiro Júnior, consultor no Ceará, o sucesso da integração vai depender da forma que será proposta ao produtor, pois na avicultura e suinocultura os investimentos são bem menores que na produção de leite.

De acordo com Paulo César de Camargo, do SETI/RIPA, no Paraná, a produção intensiva com gado confinado tem características que se assemelham à produção integrada de suínos e aves. No entanto, o gado leiteiro alimentado a pasto e o caso da produção leiteira em sistemas de integração lavoura - pecuária parecem ter características que dificilmente serão adequadas para sistemas semelhantes a suínos e aves.

Para o consultor Clemente da Silva, se a indústria de laticínios tiver disposição e fôlego para bancar um investimento de longo prazo, como é a preparação de uma propriedade para produção de leite, poderá ser um bom negócio, pois o produtor poderá trabalhar com mais confiança no futuro.

Um sistema de integração não funcionaria com leite

Dos 234 participantes da enquete, 17% acreditam que um sistema de integração, como existe com aves e suínos, não funcionaria com leite. Os motivos apontados foram a falta de profissionalismo na cadeia leiteira, a diferença no ciclo de produção da vaca e de abate de aves e suínos, a ausência de escolha por melhores opções em assistência técnica e preços do leite, entre outros.

Segundo Elder Marcelo Duarte, da Salute Produção e Comércio de Leite, a grande diferença está no ciclo da vida produtiva de uma vaca comparado aos ciclos da entrada até a saída para abate das aves ou suínos. "Antes das vacas leiteiras, deveriam tentar integração de boi de corte", diz.

Segundo Luiz Miguel Saavedra de Oliveira, produtor no Rio Grande do Sul, não há como controlar este segmento, pois vacas levam de 2 a 3 anos para começar a produzir, a alimentação é algo regionalizado e, em muitos casos, sazonal.

Para Alberto Magno de Assis, da Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, os produtores de leite ainda não chegaram ao profissionalismo dos empresários de aves e suínos.

Para Almir Bergnini Menin, da Estância Sete Lagoas, no Paraná, a integração significaria um bloqueio à livre negociação e à liberdade de tomar as decisões de nossa atividade. A opinião de Martinho Mello de Oliveira, da Fazenda Santa Rita de Cássia (MS), segue a mesma linha. Ele diz que o comprometimento dificultaria a busca por melhores opções de assistência e preços atrativos.

Segundo Osmar Antônio Sassi, da Emater/RS, produzir leite a pasto é mais barato e proporciona maior lucratividade. E as integrações não oferecem assistência técnica ou treinamentos conforme a necessidade.

Equipe MilkPoint.

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É importante salientar que a enquete MilkPoint não tem o objetivo de quantificar opiniões com rigor estatístico, apenas mostra a opinião dos leitores sobre o assunto.
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Nei Antonio Kukla
NEI ANTONIO KUKLA

UNIÃO DA VITÓRIA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/09/2007

Primeiramente, é interessante tais enquetes para avaliação de diversas opiniões em diversas regiões. É uma pesquisa participativa com melhores chances de construção de algo certo.

No sistema de integração, fica uma grande dúvida, que na pesquisa citada foi dito por alguém, que a integração permitirá um preço do leite combinado entre integradora e produtor. Me questiono quanto a esta afirmação, pois quem garante isso? No sitema de integração suínos e aves isso funciona? Até onde conheço não.

A produção de leite se viabiliza através do leite a pasto. Não conheço nas grandes empresas interesse em fomentar esta área.

No sistema suínos e aves, na última década as empresas integradoras passaram a exigir de seus integrados o aumento no número de matrizes ou aves alojadas. Em determinadas regiões aqui em SC várias propriedades saíram fora do sistema por não terem capital para aumentar suas produções, e seus proprietários estão na cidade em condições, na maioria das vezes, de pobreza.

E se tivermos integração no leite? E se futuramente tais integradoras, por uma questão óbvia de mercado, tiverem a necessidade de crescer para concorrer e para diminuir custos de coleta (captar uma maior quantidade de leite em menor área), aumentar sua eficiência... começarem a substituir produtores de 20 vacas para 50-100 animais?

Como fica a agricultura familiar nesta questão, sendo que a atividade de leite está presente na maioria das propriedades familiares, principalmente aqui no Sul? Eles terão condições de aumentar a produção ou vai acontecer o que já aconteceu na suinocultura e avicultura?

Embora a integração tenha suas vantagens, como garantia de compra (não de preço), assistência técnica (pacote tecnológico pronto) e financiamento, temos que pensar bem antes de partir para este sistema com o leite.

Cooperativismo é um sistema interessantíssimo e viável quando todos os elos estão realmente ligados e sintonizados entre si (cooperativa x agricultores).

Creio que nós, técnicos, agricultores e instituições governamentais (MAPA, órgãos estaduais de assistência e extensão, MDA => principalmente este por mexer com agricultura familiar) temos que afinar melhor nossas opiniões principalmente sobre temas como estes para não correr riscos de insucessos.
Sandro Costa Nunes
SANDRO COSTA NUNES

ITANHÉM - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/09/2007

O resultado de uma integração, onde pudessem ser envolvidos todos os setores da pecuária leiteira, seria já um bom passo para o setor. Não obstante das outras reuniões que envolvem esta atividade, como: Balde Cheio, Conseleite, Câmara do leite e outras, o interessante seria na aplicação de um conselho dentro da própria integração que realmente desse suporte aos produtores, como exemplo o Balde Cheio.

Já é um programa excelente de suporte, mas há um grande espaço aberto ainda quando se fala na contratação de técnicos. Vejamos, se já é um programa provado, que custaria ao governo criar meios de apoio à atividade para essas contratações, com seleções feitas pela própria EMBRAPA? É isto que falta para um maior resultado. Por que já existiram várias comissões para conhecer o sistema dos outros países? Já não foi o suficiente o que vimos?

Basta agora aplicar de forma tal que a nossa pecuária de leite fosse representativa, como o é, em números com uma produção que hoje chega em torno dos 24.745 milhões de litros de leite, ficando em 6º lugar, mas a média de produção no país é de 2,5 litros de leite por vaca dia.

Pense se realmente houvesse investimento nesses técnicos ou se os que já existem nas diversas entidades governamentais seriam talvez o primeiro do ranking em uma atividade que emprega tanto e que mantém a atividade familiar no campo, evitando assim também o êxodo rural.

Seria muito bom para ser verdade. O que mais importa é que com todas as dificuldades existentes ainda suportamos a todas interpéries do setor, resistindo bravamente do jeito que podemos.
Gustavo de Vincenzo Valone
GUSTAVO DE VINCENZO VALONE

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 25/09/2007

A iniciativa de avaliar a opinião de leitores selecionados é muito boa. Concordo com o resultado de que um sistema de integração pode funcionar com o setor leiteiro. Seria muito interessante se essa iniciativa da Laep desse certo. Assim, passaríamos a trabalhar com sistemas de produção eficientes. Os sistemas de produção de leite no Brasil variam de produtores para produtores. Cada um faz uma adaptação diferente nos sistemas existentes e muitas vezes trabalham na ineficiência.

A prerrogativa negativa do sistema de integração com o argumento que o produtor perderia a liberdade na tomada de decisões, tem um cunho pessoal. Cada produtor "inventa" uma maneira diferente de fazer a mesma coisa. É complicado mesmo.

Importante saber que com esse tipo de negócio, o produtor trabalharia com mais profissionalismo e teria um maior compromisso nas negociações com as indústrias e cooperativas, pois trabalhariam com contratos. Vender leite em um mercado spot permite o comportamento oportunista, devido à diferença do fluxo de informações na cadeia e a racionalidade limitada dos atores.
João Paulo V. Alves dos Santos
JOÃO PAULO V. ALVES DOS SANTOS

LENÇÓIS PAULISTA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 25/09/2007

A possibilidade de criarmos sistemas integrados de produção de leite implica, primeiramente, em desafio inédito no Brasil. Em função de maior período de gestação e dificuldade de obtenção de bons índices reprodutivos associados à elevada taxa de descarte, a reposição de matrizes em escala se faz um dos maiores desafios para produtores de leite e para viabilização do sistema proposto.

A mesma dificuldade do produtor de hoje será, obviamente, encontrada pela(s) empresa(s) que se comprometer(em) em fornecer matrizes leiteiras em sistema de integração. Para que a proposta que vem sendo discutida se torne realidade e venha se concretizar, certamente, teremos, ao meu ver, modificações no mercado quanto aos conceitos envolvendo sistemas de produção.

Acredito que tal prática (integração) implicaria numa maior segmentação e especialização de fazendas produtoras. Se sistemas integrados para produção de leite forem postos em prática de modo análogo aos já existentes em aves e suínos, teremos uma maior demanda por matrizes e ainda não sabemos ao certo qual será o impacto desta e o reflexo da mesma na cadeia do leite.

Dependendo da força com que for patrocinado um projeto desta magnitude, o que pode acontecer com o mercado a médio curto e longo prazo?

O sucesso da produção de leite está estritamente associado a duas variáveis importantes correlacionadas e interligadas: escala e custos mais baixos (= otimização de resultados). Quando falamos em integração, falamos em eficiência e especialização. Novas fazendas poderão surgir, especializadas somente num determinado ciclo de produção como: criação de bezerras em aleitamento e outras especializadas em "terminar" o produto como recria e obtenção de novilha prenha.

Pelos motivos acima mencionados e uma série de outros citados corretamente por colegas e agentes do setor, a integração na cadeia do leite será um grande desafio. Aguardemos e trabalhemos.
Qual a sua dúvida hoje?