Dona de duas das dez inovações tecnológicas que ajudarão a alimentar o planeta sem destruí-lo, segundo definição do Instituto de Recursos Mundiais (WRI, na sigla em inglês), a holandesa DSM pretende obter até meados deste ano aval das autoridades europeias à sua nova ração animal que promete reduzir em 30% as emissões de metano oriundas da pecuária.
Caso o cronograma se confirme, a expectativa é conseguir sinal verde do Ministério da Agricultura do Brasil no fim de 2020 e iniciar a comercialização do produto no país em 2021, afirmou o CEO da empresa para a América Latina, Maurício Adade. Para ele, um aval da Comissão Europeia facilitará o registro em outros países e regiões logo na sequência.
A DSM garante que o Bovaer, aditivo desenvolvido em quase 20 anos de pesquisa, pode diminuir em até 30% as emissões de metano das vacas leiteiras e do gado de corte. O metano representa 14% dos gases responsáveis pelo efeito estufa, conforme dados da ONU. Praticamente dois terços de suas emissões provêm da flatulência do gado bovino.
A promessa do aditivo, também conhecido pelo apelido de “clean cow” (vaca limpa), é mudar o processo de digestão dos materiais orgânicos pelos ruminantes. Os estudos da DSM tiveram “peer review” (revisão independente que chega às mesmas conclusões) de 26 cientistas, segundo a companhia. A múlti sustenta que a alimentação de uma vaca com o Bovaer durante toda a sua vida, até o abate, compensa as emissões de gases de 127 mil carregamentos de telefone celular.
“A carne vermelha e o leite deixam de ser vilões do meio ambiente”, disse Adade ao Valor à margem do Fórum Econômico Mundial, que ocorreu em Davos na semana retrasada. Segundo o executivo, a Comissão Europeia atestou que as informações fornecidas pela DSM sobre a segurança e a eficácia do novo produto estão completas. Com isso, a análise das autoridades sanitárias pode seguir adiante.
Adade enfatizou que o rigor das autoridades europeias é alto e um aval de Bruxelas tende a acelerar a liberação também no Brasil. Por isso, acredita na possibilidade de comercialização no país a partir de 2021.
No início, afirmou Adade, a novidade poderá ser mais cara para os pecuaristas do que a ração tradicional. Mas ele ponderou que o governo terá um “papel especial” na disseminação do Bovaer - seja com subsídios, seja por meio de regulação ou certificações. Por exemplo: um selo demonstrando que a carne é de “baixo carbono” porque vem de uma pecuária com menos emissões.
Para ele, carne vermelha é “símbolo de status” em muitos países mais pobres e a abordagem “antiproteína animal” se mostra equivocada. Adade defendeu um equilíbrio: ações para desestimular a dieta com muita carne bovina em países onde o consumo hoje é alto; iniciativas para aumentar o consumo onde ainda se come pouca carne. Mas está convencido de que hambúrguer vegetal não é o futuro. “Por ser processado, tem uma pegada enorme de carbono”, argumentou.
Cerca de 12% do faturamento global de € 10 bilhões da DSM é obtido na América Latina, onde a empresa tem presença em 13 mercados e emprega 2,3 mil pessoas. Na região, a área de nutrição animal responde por 50% a 70% das receitas, por causa do enorme rebanho em países como Brasil e Argentina.
São cinco fábricas da multinacional holandesa no Brasil: de fermentação em Brotas (SP), de minerais especiais para gado em Mairinque (SP) e em Fortaleza (CE), de mistura para nutrição humana em Campinas (SP) e de mistura para nutrição animal no Jaguaré, um bairro de São Paulo.
A meta nas operações da América Latina, segundo Adade, tem sido crescer a taxas pelo menos duas vezes maiores que as do mercado. Sem revelar números detalhados, o executivo explicou que as estimativas são mais complicadas neste ano de peste suína na China. Com o problema, menos ração está sendo demandada no país.
Além do Bovaer, a DSM também está na lista de inovações do Instituto de Recursos Mundiais com o projeto Veramaris, desenvolvido por uma joint venture com a alemã Evonik. Trata-se de uma mistura usada no cultivo de salmão. A intenção é fazer com que o peixe de cativeiro produza óleo de ômega-3 sem a necessidade de pesca predatória, extraindo os ácidos graxos EPA e DHA de algas e multiplicando-os em tanques. Isso reduz a dependência de recursos finitos e de captura selvagem dos peixes utilizados como comida para os salmões. Assim, garante-se o valor nutricional do salmão de forma mais sustentável.
As informações são do Valor Econômico.