Para melhor entender como a pandemia de coronavírus está afetando as propriedades leiteiras no Brasil, o MilkPoint realizou uma pesquisa por meio de questionário. Obtivemos respostas de 119 propriedades, localizadas em 17 diferentes estados, que contemplam todas as regiões do País. Este é o terceiro artigo dessa série, no primeiro abordamos as medidas de segurança adotadas nas propriedades, no segundo, a entrega de insumos e modificações nas dietas e neste abordaremos quedas na produção, captação das indústrias, secagem de animais e planos de investimentos.
Como nos artigos anteriores, para facilitar a análise e demonstração dos dados, dividimos as propriedades conforme o volume de produção diária em “Grandes” (volume superior a 10000 litros/dia), “Médias” (entre 2000 e 10000 litros/dia) e “Pequenas” (menores que 2000 litros/dia). Veja a distribuição de fazendas em cada categoria no gráfico a seguir.
Perguntamos aos produtores se houve diminuição na produção de leite como consequência de possível mudança no mercado em função da crise ocasionada pelo coronavírus. Das 119 propriedades que responderam o questionário, 30 (25%) afirmaram que sim e, destas, 24 eram pequenas propriedades. Com base nessa informação, podemos perceber que, de fato, a pandemia vem afetando mais os produtores menores. O gráfico abaixo mostra a distribuição das respostas quanto a necessidade de diminuição de produção nos diferentes tamanhos de propriedade.
Além de perguntar se houve redução, questionamos qual o volume reduzido e quais as motivações. No geral, a redução girou em torno de 5 a 20% do volume produzido. Contudo, três produtores afirmaram reduções de 30% da produção e dois de até 50%. Os principais motivos foram: solicitação dos laticínios, custos altos do milho e da soja e secagem de animais. Um grande produtor afirmou que a quebra na produção foi em decorrência da mudança na dieta dos animais, visto que as entregas de resíduos de cervejaria foram reduzidas, como vimos no artigo anterior.
Ainda sobre a redução nas produções, observou-se que foi mais frequentes nas propriedades localizadas nas regiões Centro-Oeste (63,64%) e Nordeste (36,36%).
Como mencionado, um dos motivos para queda na produção foi a secagem de animais e nós também questionamos especificamente aos produtores quanto a alterações neste manejo. Das 117 propriedades que responderam essa pergunta, 27 afirmaram ter secado animais em função da pandemia e, destas, 24 eram classificadas como pequenas. Mais uma vez observamos os impactos principalmente nos produtores de menor porte, visto que nas grandes e médias o manejo permaneceu normal em 95% e 90% das fazendas, respectivamente.
Outra questão abordada foi relativa à normalidade na captação de leite por parte dos laticínios. Apenas quatro produtores (3,36%) responderam que a empresa para a qual comercializam o leite não está recolhendo normalmente. Destes quatro, dois estão localizados na região Sudeste (Minas Gerais e São Paulo) e dois no Nordeste (Bahia e Alagoas) e todos são classificados como pequenos.
Nesse tempo de crise não só sanitária, mas também econômica, muitas propriedades estão reavaliando o plano de investimentos. Por isso, essa foi uma das perguntas presentes no questionário. Observamos que a maior parte das propriedades (54,62%) está mantendo apenas os investimentos já em andamento.
Proporcionalmente, as propriedades que mais decidiram manter os planos de investimentos estabelecidos antes da crise foram as grandes (35%) e as médias (40%). Por outro lado, os produtores que mais afirmaram cortar inclusive investimentos em andamento foram os pequenos (29,87%).
Com base nas respostas deste questionário, é evidente que os termos do momento são: cautela e corte de gastos. Neste sentido, a Agropecuária Carola e Machado, de Coromandel/MG, aconselhou aos demais produtores “atuar tentando baixar custo de produção para superar a crise”. O representante da Agropecuária Paiva, em Tuneiras do Oeste/PR, recomendou ficar “de olho no mercado e buscar sempre informações.”
Como mensagem motivadora, o produtor Marius Cornelis Bronkhorst, produtor em Arapoti/PR, disse: “Produtor não se deixe abater, o ditado diz: a noite pode estar escura como nunca, mas o sol sairá na sua hora. Ou, após a tempestade, virá a bonança. Não desanime! E não tome decisões precipitadas."
Vamos em frente!
Observação: é importante levar em consideração que esta pesquisa foi realizada com dados de todos os produtores que se prontificaram a responder o questionário. Desta forma, os dados não caracterizam necessariamente uma amostragem representativa do Brasil. Contudo, o estudo nos permite ter uma boa ideia do que está acontecendo nas propriedades leiteiras de nosso país.
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