O recuo do preço bruto de setembro, referente ao leite entregue em agosto, foi de 5,5 centavos por litro, ou 7,62%, considerando-se os sete estados tradicionalmente incluídos na média ponderada nacional (RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA). Assim, a média caiu para R$ 0,6574/litro (valor bruto). Em Mato Grosso do Sul e no Rio de Janeiro, estados que ainda não compõem a média nacional do Cepea, as quedas foram ainda maiores, chegando a 9 e 12 centavos por litro, respectivamente.
Tais recuos refletem uma acomodação dos preços tanto do leite ao produtor quanto dos derivados, decorrente do aumento da oferta em ritmo mais acelerado que a demanda. Mesmo com a economia brasileira mantendo bons índices de crescimento e as exportações batendo recordes, a produção de leite nos oito primeiros meses deste ano é 19% maior que a de igual período de 2007.
Excluindo-se setembro do ano passado, o valor do último pagamento é cerca de 10 centavos maior que o de setembro/2006 e de 2005, e pouco menor que o de setembro/2004 - a comparação é feita com valores deflacionados pelo IPCA.
Com preços menos atrativos para os produtores, a recuperação da oferta que normalmente ocorre no segundo semestre do ano, desta vez está mais lenta que nos anos anteriores. Conforme o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L), o volume de leite recebido pelas empresas em agosto foi somente 1,28% superior ao de julho, enquanto no mesmo período do ano passado foi de 7%. Com isto, em agosto especificamente, a diferença em relação ao índice do mesmo mês do ano passado foi de apenas 4,2%, mas em abril o aumento beirou os 27%.
Apesar da falta de pastagem neste período de final de inverno (captação se refere a agosto), produtores estariam mantendo o rebanho alimentado devido ao estoque de volumoso (silagens ou cana) que foi produzido no último verão - final do ano passado/início deste. Naquela época, os produtores estavam motivados com os preços recordes recebidos na entressafra recém-terminada - em setembro/07, a média nacional chegou a R$ 0,80/litro, a maior em termos reais da série do Cepea.
Quanto aos derivados, suas cotações também seguem em queda, segundo pesquisas do Cepea. O leite UHT vendido no atacado paulista em agosto, por exemplo, recuou 12,15% em relação a julho; o leite pasteurizado teve desvalorização de 3,2% e os queijos mussarela e prato tiveram recuos de 8,5% e 10%, respectivamente. A menor queda foi a do leite em pó (sache de 400g), de apenas 2,7%.
Considerando a média de preços dos derivados apurada em agosto (setembro ainda não disponível) e o pagamento feito aos produtores em setembro, ambos no estado de São Paulo, um litro de UHT equivaleu a 1,78 litro do produtor. No mês anterior, essa relação era de 1,90 e há um ano, de 2,14. Isso indica que mesmo com a redução dos preços ao produtor, as indústrias, de modo geral, ainda continuam perdendo poder de compra devido às quedas mais acentuadas em alguns derivados.
Nesse cenário, produtores podem interpretar a desaceleração do aumento da oferta como sinal de que as quedas de preços podem cessar nos próximos meses. De fato, alguns agentes (representantes de laticínios e cooperativas) consultados pelo Cepea começam a indicar a perspectiva de estabilidade das cotações para os próximos 60 e 90 dias. No último levantamento, quando se perguntavam as expectativas para o pagamento de outubro, 18,5%, apontavam estabilidade, apesar de 80% ainda sinalizarem nova queda.
Por outro lado, o volume já ofertado neste ano é consideravelmente superior ao do ano passado, como mostrado pelo ICAP-Leite, e os preços dos derivados seguem em queda mais acentuada que as do leite ao produtor. Além disso, os custos de produção se mantêm em nível relativamente elevado, mesmo com o milho tendo pequenas quedas - o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas-SP) recuou cerca de 3% de setembro comparado com agosto.
Gráfico 1. ICAP-L/Cepea - Índice de Captação de Leite - AGOSTO/08. (Base 100 = Junho/2004)

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Tabela 1. Preços pagos pelos laticínios (brutos) e recebidos pelos produtores (líquidos) em SETEMBRO referentes ao leite entregue em AGOSTO.

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Médias estaduais das novas regiões - RJ e MS

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