Cepea e CNA avaliam custos de produção em MG e GO

Um estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, junto com a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) levantou dados de custo de produção de leite em oito regiões, de Minas Gerais e Goiás. Uma das conclusões é que a atividade leiteira nas regiões pesquisadas cobre somente os custos operacionais e a mão-de-obra familiar, não sendo suficiente para bancar as depreciações, nem para remunerar o capital investido.

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 2 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 3
Ícone para curtir artigo 0

Um estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, junto com a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) levantou dados de custo de produção de leite em oito regiões, de Minas Gerais e Goiás. Uma das conclusões é que a atividade leiteira nas regiões pesquisadas cobre somente os custos operacionais e a mão-de-obra familiar, não sendo suficiente para bancar as depreciações, nem para remunerar o capital investido.

O resultado decorre da baixa produtividade (em litros por hectare por ano) e também da baixa proporção entre vacas em lactação e o total de vacas da propriedade.

De acordo com o trabalho, para bancar a depreciação, considera-se a formação de uma poupança que irá financiar a compra dos equipamentos/máquinas ao final da vida útil dos mesmos. Quanto à remuneração do capital, considera-se uma taxa de juros - no trabalho, de 6% ao ano, que seria uma média da poupança. Sem renda para esses itens do custo total, em médio prazo, isso pode representar o sucateamento das propriedades.

Algumas mudanças seriam suficientes para que produtores obtivessem renda suficiente para os gastos diários (operacionais), para a mão-de-obra familiar e também para as depreciações, tendo, assim, condições de permanecer na atividade.

Em Goiás, por exemplo, considerando a média das quatro regiões pesquisadas, bastaria que a produção diária por vaca aumentasse de 7,5 litros para 9,6 litros - considerando 24 vacas por propriedade, resultaria em um aumento de 50,4 litros por dia.

Para Minas Gerais, o incremento necessário por vaca é de 2,7 litros por dia. Com isso, a média passaria de 7,5 litros/vaca/dia para 10,2 litros/vaca/dia, com a produção média das propriedades típicas subindo de 233 litros diários para 318 litros diários.

Tabela 1. Comparação da área média das propriedades leiteiras de cada região, produtividade, participação da renda, capital investido e volume de venda de leite mais comum nas propriedades.

Figura 1

Os custos operacionais, que correspondem aos desembolsos mensais, responderam por 41% do custo total das propriedades leiteiras típicas em Goiás e, em Minas, por 58% no período de outubro de 2006 a outubro de 2007. Entre os custos operacionais, a maior participação foi da alimentação dos animais: em Goiás, esse item representou 34% e, em Minas, 46%. O segundo item de maior peso foi a mão-de-obra contratada, respondendo por 26% dos dispêndios operacionais em Goiás e por 22% desses em Minas Gerais.

Alimentação e mão-de-obra, portanto, representam cerca de 24,6% do custo total das propriedades leiteiras típicas de Minas Gerais e de 39,44% das goianas. Essa proporção relativamente baixa dentro do total de custos, segundo o estudo, reforça a necessidade de aumento no volume de leite produzido com a utilização da infra-estrutura já disponível na propriedade - melhor aproveitamento da capacidade instalada.

Tabela 2. Comparação da participação dos custos operacionais (desembolsos mensais) e do item mão-de-obra e alimentação dentro do total de custos, e capital empregado e receita total, entre outubro de 2006 e outubro de 2007.

Figura 2

Em ambos estados, 84% da receita bruta vem do leite e o restante, da venda de animais.

Os dados mostram que a receita bruta é pequena em relação ao capital empregado na atividade. Na média de Goiás, por exemplo, a receita de um ano corresponde a somente 8% do capital investido na atividade. Em Minas, esse índice é de 10%.

As informações são da assessoria de imprensa do Cepea.
Ícone para ver comentários 3
Ícone para curtir artigo 0

Publicado por:

Foto MilkPoint

MilkPoint

O MilkPoint é maior portal sobre mercado lácteo do Brasil. Especialista em informações do agronegócio, cadeia leiteira, indústria de laticínios e outros.

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Marcelo Godinho Miazato
MARCELO GODINHO MIAZATO

ITAJUÍPE - BAHIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/12/2007

Ótimo o diagnóstico e muito pertinentes também as opiniões dos leitores. A formação do preço privilegia o comércio e as grandes indústrias, os produtores recebem as sobras.
A Globo Rural vende a imagem de um país rico, produtivo, que esbanja qualidade de vida no campo, que nosso produtor rural modelo de sucesso é um rico empreendedor, retirante "urbanista", cansado do estresse da vida moderna, mas tecnicamente assessorado, etc.
Isso tudo somado à idéia de que as vacas são boazinhas e DÃO o leite de graça, sem custos, nem trabalho, nem investimentos, que o governo financia a produção e alavanca o agronegócio do país e que os tais "fazendeiros" são gigolôs de pobres exploradas vacas sol a pino distorcem a percepção da verdadeira realidade do produtor de leite, percebida pelo diagnóstico deste trabalho.
Espero que a ocupação das terras produtivas mecanizáveis para a produção de biocombustíveis encareça bastante o preço dos produtos alimentícios, tal como em todos os países ricos do mundo. Só assim, a sociedade valorizará a existência do seu produtor rural e o governo não poderá garantir uma cesta básica tão barata que viabilize sua cobrança absurda de seus tributos.
Celso Jose de Araujo Campos
CELSO JOSE DE ARAUJO CAMPOS

BARBACENA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/12/2007

Sou proprietário e produtor de leite em Barbacena. A produtividade das fazendas dos meus antepassados era no minimo 1/3 da minha. Hoje o que vejo na região de Barbacena é uma descapitalização do produtor de leite, em contra partida de um enriquecimento rápido dos donos de laticínios na região. Onde está o erro? Será que o produtor da região tem condições de comprar vacas de maior produtividade, e investir mais dinheiro num setor falido? Como se explica esta apatia do setor, sem política justa para o setor, não acredito nas soluções sugeridas pela pesquisa.

A CNA deveria pesquisar e levar seu estudos para as câmaras setoriais do governo para alertar do destino cruel e insano que os produtores agardam.
Joabe Jobson de Oliveira Pimentel
JOABE JOBSON DE OLIVEIRA PIMENTEL

TEIXEIRA DE FREITAS - BAHIA

EM 19/12/2007

Estas informações elucidam o quadro crítico em que vive o produtor de leite.

O artigo aponta que o aumento na média por vaca resolveria o problema de rentabilidade da atividade. Isto é relativo pois é necessário considerar um novo formato de custo de produção ao se elevar a média de produção por vaca.

Ao se aumentar a média por vaca, fatalmente se aumenta o custo operacional devido ao maior input de insumos, será que a diluição dos custos fixos iria compensar este aumento no custo operacional. Receio que não.

Lamento que este tipo de artigo não aborte outro aspecto da questão que diz respeito à baixa remuneração pelo leite. Tivemos uma boa reação nos preços por algum tempo este ano mas logo arrajaram um escandalo para colocar a opinião pública contra o leite. As fraudes no leite foram amplamente divulgadas pela grande mídia como Jornal Nacional, FANTASTICO e em todos os outros canais também. Grande parte de nós sabe de onde partiu a iniciativa de jogar lama no ventilador, sabemos que foi de uma grande multinacional.

Não adianta colocar a culpa da falta de lucro apenas em índices de produtividade. A equação de lucro leva em conta o preço do produto. Parece que alguns economistas se esquecem disso.

Alguém poderia dizer que o preço é o mercado que faz. Sabemos que as relações de força existentes no setor não permitem uma concorrencia perfeita.

Além do mais, o consumidor acha que o produtor é bem remunerado pelo leite. O consumidor não abre o site do MilkPoint ou do CEPEA para saber o custo de produção do leite e quanto o produtor está recebendo.
Se a nossa classe não mostrar isso para o consumidor, este continuará achando que vivemos na maremansa, explorando nossas pobres vaquinhas.

Onde estão nossos representantes?

Precisamos acordar
Qual a sua dúvida hoje?