O Banco Original vai ampliar o público-alvo de sua conta digital e começa a colocar em prática uma operação baseada em parcerias com fintechs, com a qual planeja oferecer produtos também a não correntistas. Sob o comando de Alexandre Abreu desde janeiro, a instituição deixa para trás um modelo de negócios voltado para a clientela de alta renda e parte em busca de escala.
“Tem um vento bastante favorável para essa mudança”, afirma Abreu. O executivo, que concedeu ao Valor sua primeira entrevista desde que assumiu a presidência do banco, aponta a queda da inadimplência, a retomada do crédito, o cenário macroeconômico mais equilibrado e uma agenda do Banco Central (BC) aberta às soluções digitais como os fatores-chave desse cenário.
Quando chegou ao mercado, em 2016, o banco controlado pela holding J&F, da família de Joesley e Wesley Batista, só permitia a abertura de conta digital para clientes com renda acima de R$ 7 mil. No ano passado, o Original reduziu o limite para R$ 4 mil e, a partir deste mês, vai eliminar esse piso. A mudança foi impulsionada pela criação, no BC, de uma conta de pagamentos simplificada, com movimentação de até R$ 5 mil mensais e verificação eletrônica por parte das instituições financeiras.
Com a ampliação do foco, o banco espera elevar de 40 mil para 100 mil a quantidade de novos processos de abertura de contas de pessoa física por mês. O Original tem 821 mil clientes, número que é monitorado em tempo real de uma tela localizada na sala que concentra a diretoria da instituição financeira. A meta é chegar a 2,5 milhões em dezembro.
A busca de maior escala é o caminho traçado pelo banco para rentabilizar a operação de varejo. O Original também tem um braço de atacado, voltado ao agronegócio. No total, a instituição fechou 2018 com lucro R$ 2,7 milhões, mas a plataforma digital ainda opera no vermelho. Há dois anos, o banco enfrentou o baque provocado pela delação premiada dos irmãos Batista, controladores da JBS. O Original não foi vendido, como se esperava, mas as notícias ruins respingaram na marca naquele momento.
Agora, a nova estratégia de crescimento do banco digital também passa pelo lançamento, previsto para maio, de uma conta para pessoas jurídicas. A plataforma, chamada de Original Empresas, tem como foco inicial os pequenos empreendedores e a ideia é que o cliente tenha um mesmo gerente para a conta pessoal e a do negócio. O aplicativo do banco terá ambientes separados para as duas modalidades, mas o correntista poderá transitar com facilidade de um para outro. O login será o mesmo para ambos. O usuário também terá dois cartões para transacionar os recursos de cada uma das contas.
“Vai ter um caráter de educação financeira, porque hoje é um problema muito comum o empreendedor misturar a vida pessoal e a empresarial na mesma conta”, afirma Raul Moreira, diretor-executivo de tecnologia, inovação e operações do Original. Ex-presidente da Alelo, Moreira foi trazido por Abreu para ajudar no processo de inovação do banco.
O foco são os 28 milhões de empreendedores do país, sendo 8 milhões deles da categoria de microempreendedores individuais. O cliente pagará R$ 39,90 por mês por um pacote simplificado, com contas pessoa física e jurídica. A versão completa, de R$ 79,90, dá direito a uma maquininha de cartões. O equipamento também poderá ser comprado separadamente.
Para isso, o Original firmou parceria com a credenciadora de cartões Cielo, que até então só tinha contrato com seus acionistas, Banco do Brasil e Bradesco, e com a Caixa. “Vamos dividir a última linha desse negócio com a Cielo”, conta Abreu. “Mas a ideia é usar o recebível das vendas com cartões desse cliente como garantia em operações de crédito, com taxa de juro menor.”
Por enquanto, a conta estará disponível apenas para profissionais liberais e autônomos, categorias que o Original estima em 10% de seus clientes. A ideia, no entanto, é que em três meses seja possível também a abertura para empresas com sócios.
Outra grande aposta de Abreu para expandir o Original reside no chamado “open banking”. A instituição negocia parcerias com fintechs, com as quais será possível oferecer produtos e serviços para não correntistas. “Queremos desvincular os conceitos de conta e serviços que existe nos bancos tradicionais”, afirma o executivo, que foi presidente do Banco do Brasil.
No futuro, a ideia é que o Original se torne uma plataforma de produtos e serviços, e que a conta esteja atrelada a uma espécie de “marketplace” para os clientes. “Se a pessoa quiser ter conta no Original e cartão de outro emissor, tudo bem. Ela pode ter e debitar da conta dela aqui. Se quiser só ter algum produto meu e não ter conta, tudo bem também”, diz Abreu.
Em casa, o banco planeja oferecer produtos como empréstimo pessoal, cartão de crédito, financiamento rotativo, cheque especial e crédito com garantia em recebíveis, ampliando um leque já disponível hoje. No segundo semestre, vai começar a fazer empréstimos consignados com contratação totalmente digital, o que dispensa a necessidade de ter correspondentes bancários. Para outras modalidades, como financiamento imobiliário e de veículos, no entanto, a instituição vai buscar parcerias.
A criação dessa plataforma já começou. O Original fez proposta para adquirir metade da participação da PicPay, que oferece serviços de carteira virtual e transferência de valores. O banco vai oferecer cartões para os 700 mil clientes da fintech.
Segundo Abreu, a ideia é não ver as fintechs como concorrentes. “Muitas delas precisam de uma estrutura regulatória, que é cara e complexa, e nós temos isso a oferecer”, diz. “Em contrapartida, podemos vender os produtos delas, dividindo os resultados.”
O caminho não necessariamente será de compra de participação, como no caso da PicPay, mas de contratos comerciais. Com as parcerias, o Original pretende avançar no modelo de ser um banco de varejo digital e completo, e não uma instituição de nicho, como tendem a ser as fintechs, diz Abreu.
Ao optar por não desenvolver tudo sozinho e não ter rede física, o banco procura trabalhar com uma estrutura de custos enxuta. O Original tem cerca de 600 agentes autônomos para distribuir seus produtos e planeja chegar a 1,5 mil até o fim do ano.
As informações são do jornal Valor Econômico.