Balança comercial tem tendência de queda

De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em agosto, a balança comercial de lácteos registrou seu terceiro déficit do ano, de US$ 246 mil. Esse valor representa uma variação negativa de cerca de 108% frente ao saldo do mesmo período do ano passado, quando a balança registrou superávit de US$ 3,154 milhões.

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De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em agosto, a balança comercial de lácteos registrou seu terceiro déficit do ano, de US$ 246 mil. Esse valor representa uma variação negativa de cerca de 108% frente ao saldo do mesmo período do ano passado, quando a balança registrou superávit de US$ 3,154 milhões.

No acumulado do ano, o saldo foi superavitário, de US$ 5,290 milhões, o que representou uma variação positiva de 138,8% frente ao período de janeiro a agosto de 2005, quando a balança apresentou déficit de US$ 13,620 milhões.

O saldo de agosto reflete um aumento das importações de lácteos neste mês, que foram 1,9% superiores ao valor das exportações.

Conforme a entrevista com Rodrigo Alvim no mês passado, presidente da Comissão da Pecuária de Leite da CNA, a preocupação do setor era justamente essa: a tendência do valor das exportações se aproximarem do valor das importações. Isso já vinha acontecendo em julho, quando a balança apresentou saldo positivo de apenas US$ 1,38 milhão, e indicava aumento das importações.

Conforme a assessoria de imprensa da CNA, as exportações devem encerrar o ano com valores inferiores a US$ 150 milhões. Vale lembrar que em 2005 o total do valor exportado foi de US$ 130,093 milhões. Para Alvim, as exportações poderiam chegar a US$ 300 milhões neste ano, se não fosse a desvalorização do dólar. A Argentina exportou, somente no primeiro semestre, US$ 337 milhões em lácteos.

A moeda estrangeira registrou nova queda em agosto, ficando em média a R$ 2,16, de acordo com dados do Banco Cental. No mês anterior, a média foi de R$ 2,19. Vale lembrar que nesse mesmo período do ano passado, o dólar foi cotado em média a R$ 2,36.

O saldo médio da balança comercial de setembro de 2005 a agosto de 2006 foi positivo, de US$ 2,318 milhões.

Gráfico1. Evolução da Balança Comercial de Lácteos em valor FOB - mil US$.

Figura 1

Fonte: Secex/MDIC
Elaboração: Equipe MilkPoint

Exportações

As exportações em agosto foram de US$ 12,835 milhões, o que representou um aumento de 1,44% em relação ao mês anterior e uma queda de 7,1% frente ao mesmo período do ano passado.

Em volume, o total exportado foi de 8,757 mil toneladas, o que significou uma queda de 6,26% em relação ao mês anterior e um aumento de 26,13% frente ao mesmo período do ano passado.

No acumulado do ano, o total enviado ao mercado externo foi de US$ 98,748 milhões e 61,543 mil toneladas, o que representou um acréscimo frente ao mesmo período do ano passado de 31,34% e 35,4% em valor e volume, respectivamente.


Gráfico 1. Evolução das exportações brasileiras de lácteos, em volume (kg).

Figura 2

Fonte: Secex/MDIC
Elaboração: Equipe MilkPoint

Clique aqui para ver as tabelas 1 e 2 com os números em valor FOB e volume, por produto lácteo, das exportações brasileiras.

Os principais destinos das exportações brasileiras em agosto foram Angola, com 22,95% do volume enviado, seguida da Venezuela, com 12,85% de participação, Cuba, com 12,71% e Tunísia, com 8,63%.

Vale ressaltar que a Venezuela reduziu sua as importações do Brasil em 66,6% de julho para agosto. No mês passado, o país foi responsável por 36,1% da quantidade exportada pelo Brasil.

No acumulado do ano, o primeiro país do ranking continua sendo a Venezuela, com 31,92% de participação do volume enviado ao mercado externo, seguida da Angola, com 17,85%, Cuba, com 10,8% e África do Sul, com 6,55%.

Os principais produtos enviados foram mais uma vez o leite condensado, com a participação de 58,9% do total do volume enviado e 45,9% do valor obtido com as exportações. De janeiro a agosto, esse produto representou 52,6% do volume enviado ao mercado externo e 40% do valor total das exportações. Segundo Otávio Farias, da trading Hoogwegt, no geral, a balança comercial é favorável, sobretudo, neste item, em que o Brasil está passando a ocupar importante posição no mercado internacional.

O leite em pó apresentou uma recuperação no total exportado em agosto, passando de 330,8 toneladas exportadas em julho para 2,046 mil toneladas neste mês. O produto foi responsável por 23,4% do volume enviado em agosto. No acumulado do ano, cerca de 27% da quantidade de lácteos exportada foi de leite em pó.

Gráfico 3. Participação dos produtos lácteos brasileiros exportados de janeiro a agosto, em volume.

Figura 3

Fonte: Secex/MDIC
Elaboração: Equipe MilkPoint

Preços no mercado interno

A média dos preços pagos ao produtor neste ano, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), foi de R$ 0,4714/l, enquanto que no mesmo período de 2005 foi de R$ 0,5548/l, ou seja, os preços estiveram 15% mais baixos neste ano. No entanto, ao se converter os valores em dólares americanos, a média dos preços recebidos pelos produtores é a mesma nos dois anos - US$ 0,22/l.

Em agosto, chegou a US$ 0,23/l, um centavo de dólar acima do cotado no mesmo período do ano passado. Sendo assim, a competitividade externa em termos de preços do mercado interno em relação ao ano passado se mostra inferior.

Gráfico 4. Preços pagos aos produtores brasileiros, convertidos em dólar - US$/l.

Figura 4

Fontes: Cepea e Banco Central
Elaboração: Equipe MilkPoint

De acordo com Farias, a safra no Sul neste ano foi bastante influenciada por condições climáticas, o que "segurou" os preços médios pagos aos produtores, visto que limitou a oferta do produto no país. Segundo ele, para que as exportações fossem mais viáveis com a atual taxa de câmbio, os preços de leite cru deveriam estar ao redor de R$ 0,40 a 0,42/l, o que já teria acontecido se não fosse a estiagem na região Sul.

Para ele, a safra no Sudeste e Centro-Oeste irá definir situação de preço de leite cru, podendo viabilizar exportações de excedentes. Atualmente, com a preço médio nacional de R$ 0,50/l, e um dólar ao redor de R$ 2,15, o valor do leite em dólar é de $ 0,23/l, segundo Farias, muito acima dos valores praticados na Argentina e no Uruguai.

Preços internacionais

Observa-se que mesmo sendo responsável pela maior parte das exportações neste ano, o preço médio pago pelo leite condensado brasileiro está acima do obtido em 2005. O leite em pó esteve em média a US$ 2,11/kg neste ano, enquanto que em 2005 a média foi de US$ 2,04/kg.

Os queijos estão com preços bons e estáveis frente ao valor obtido em agosto do ano passado.

Tabela 3. Preços dos principais produtos exportados pelo Brasil, em US$/kg.

Figura 5

Tabelas 4, 5 e 6. Preços dos principais produtos exportados pelo Oeste da Europa, Oceania e Argentina, em US$/kg.

Figura 6

Gráfico 5. Preços em 2006 do leite em pó integral exportado pelo Brasil, Oceania e Argentina, e no Oeste da Europa, em US$/kg.

Figura 7

Fontes: Secex, USDA, Senasa/Argentina
Elaboração: Equipe MilkPoint

Importações

As importações em agosto somaram US$ 13,080 milhões, o que representou um aumento de 16% em relação ao mês anterior e 22,7% frente ao mesmo mês do ano passado.

Em volume, o Brasil importou 9,972 mil toneladas de lácteos, o que significou um acréscimo de 57,15% frente a julho e cerca de 53% frente ao mesmo período de 2005.

No acumulado do ano, as importações foram de US$ 93,458 milhões e 54,927 mil toneladas, representando um aumento de 5,24% e 2,35% em valor FOB e volume, respectivamente. O principal fator para este aumento é o real mais valorizado frente ao dólar, fazendo com que os preços no mercado interno fiquem mais atraentes.

Gráfico 6. Evolução das importações brasileiras de lácteos em volume (mil kg).

Figura 8

Fonte: Secex/MDIC
Elaboração: Equipe MilkPoint

Clique aqui para ver as tabelas 7 e 8 com os números em valor FOB e volume, por produto lácteo, das importações brasileiras.

Os principais países de origem das importações brasileiras foram o Uruguai, responsável por 39,83% das importações em volume em agosto e 25,7% em valor FOB, seguido da Argentina, com 37,1% de participação em volume e 52,88% em valor. A França foi responsável por 9,33% do volume importado pelo Brasil neste mês e 8,87% em valor.

No acumulado do ano, a Argentina lidera o ranking com 48,97% em volume importado e 57,53% em valor, e o Uruguai com 25,4% das importações em volume e 22,25% em valor.

Os principais produtos comprados pelo Brasil em agosto foram os leites UHT, com 33,24% de participação no total do volume importado, mas apenas 9,35% de participação em valor FOB. O soro de leite teve uma participação de 30,59% em volume e 23,81% em valor. O leite em pó teve uma participação de 29,12% no volume importado e 49,05% no valor das importações.

É interessante notar que cerca de 88% do volume de leites UHT importado é de origem urguaia. O valor médio desse produto foi de US$ 0,37/kg, ou seja, R$ 0,7992/kg, considerando o valor médio do dólar em agosto, de R$ 2,16. Foi importado leite longa vida também do Paraguai, a um preço médio de US$ 0,31/kg, o que em reais significa R$ 0,6696/kg.

São Paulo foi o estado brasileiro responsável por aproximadamente 58,6% das importações de leites UHT, seguido do Rio Grande do Sul, com 15,1%, Santa Catarina, com 14,42%, Mato Grosso do Sul (11,78%) e Paraná (1,36%).

Os leites em pó, importados principalmente da Argentina (77% em volume) tiveram um preço médio de US$ 2,23/kg, ou seja, R$ 4,39/kg. As importações desse produto também tiveram como principal destino o estado de São Paulo, responsável por 57,5% do total comprado de leite em pó.

O soro de leite, segundo produto mais importado pelo Brasil, teve origem principalmente da Argentina, responsável por 41,7% das compras, seguida da França (29,5%) e Estados Unidos (17,1%). O preço médio desse produto foi de US$ 1,02/kg, ou R$ 2,20/kg.

Tabela 9. Preços médios dos principais produtos importados pelo Brasil em agosto.

Figura 9

* De acordo com dados do Banco Central, o valor médio do dólar em agosto de 2006 foi de R$ 2,16, e em agosto de 2005, R$ 3,00 para comparação dos dados acima.

Fonte: Secex e Banco Central
Elaboração: Equipe MilkPoint

Além da maior quantidade importada em agosto deste ano, observa-se a partir da tabela acima que os valores dos produtos importados em real em 2006 são mais baixos se comparados aos valores do ano passado.

Vale ressaltar que no acumulado do ano as importações de leites UHT foram de 5,455 mil toneladas a mais neste ano (variação positiva em torno de 339% frente ao mesmo período de 2005) e US$ 2,019 milhões (variação de 391%). A quantidade importada de leite em pó e soro de leite caíram quase 10% de janeiro a agosto. Em valor, a variação foi a mesma para leite em pó, mas o soro de leite teve variação positiva de 23,44%, o que mostra uma valorização desse produto em 2006.

Portanto, no acumulado até agosto deste ano, o volume das importações foram mais significativos que 2005 em função, basicamente, da compra de leites UHT.

Gráfico 3. Participação dos produtos lácteos brasileiros importados de janeiro a agosto, em volume.

Figura 10

Fonte: Secex
Elaboração: Equipe MilkPoint
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Material escrito por:

Aline Barrozo Ferro

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