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A telefonia móvel no setor agropecuário

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 29/06/2015

4 MIN DE LEITURA

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Por Walter Belik e Marcio Wohlers

Embora estejam disponíveis no mercado inúmeros tipos de softwares voltados ao desenvolvimento agrícola, a tradicional telefonia celular ainda pode cumprir um importante papel na área rural, em especial no segmento da agricultura familiar.

Segundo o Censo Demográfico de 2010, no Brasil apenas 8,5% dos residentes no meio rural possuíam microcomputador e somente 4% tinham acesso à internet. No entanto, a penetração do rádio e TV no meio rural se elevou bastante nos últimos anos e está cada vez mais próxima do meio urbano. De fato, as principais mídias para a comunicação com o trabalhador ou o empresário do campo são ainda os programas de rádio e TV. Contudo, devido à necessidade de uma comunicação mais ágil para a tomada de decisão quanto ao plantio ou para decisões de comercialização, os agricultores necessitam de outros instrumentos.

O Censo Demográfico aponta que uma proporção de 61,1 % dos moradores no meio rural possuem telefones celulares. Já a Pesquisa de Acesso à Internet e Posse de Telefones Móveis Celulares para uso pessoal do IBGE de 2011 mostra que o uso de internet no campo ainda é muito baixo e as razões têm como base a dificuldade de conexão nas áreas rurais.

Segundo a pesquisa, apenas 9,1% das pessoas cuja atividade principal está no setor agrícola fizeram uso da internet nos últimos três meses, em contraste com a média nacional de 49,9%. Já a posse de telefones celulares era mais generalizada no meio rural. Uma proporção de 43,6% das pessoas que declararam ter a atividade agrícola como principal atividade possuíam celulares contra 79,4% da média de todas as outras atividades.

Nos anos 1990 a difusão da telefonia celular provocou uma verdadeira revolução e seu uso rapidamente se disseminou em todas as atividades econômicas, especialmente no meio urbano. Gradativamente o uso do celular foi sendo universalizado e democratizado particularmente devido à introdução da inovação da modalidade do pré­-pago.

Entretanto, ainda permanecem dois graves problemas. O primeiro refere­-se à cobertura na área rural que ainda é insuficiente, pois os leilões de telefonia celular, em especial os de maior uso, como o 3G, somente impuseram um grau de cobertura referente à 80% do perímetro urbano. O segundo problema, diz respeito à tarifa do celular que também é relativamente alta diante da baixa renda dos pequenos agricultores rurais, e tampouco existem planos de telefonia celular que favoreçam esse segmento.

Entretanto há experiências internacionais bem­-sucedidas que poderiam ser facilmente adaptadas para o contexto brasileiro. Apoiado no conhecimento adquirido pelo programa de microcréditos do Grameen Bank para Bangladesh, a Google está desenvolvendo um programa de telecomunicações, via celular, para a África com informações úteis para o agricultor como preços de mercado e comercialização, ações para a prevenção de pestes, pragas e doenças etc.

O programa de telefonia do Grameen Bank teve origem naquele país asiático a partir da proposta de empoderamento das comunidades e do baixo interesse das companhias de telecomunicações em atuar no meio rural. Com isso, o Grameen Bank criou sua própria companhia de telefonia celular, a Grameen Telecom, que popularizou os negócios com telefone nas vilas.

No total, o banco investiu US$ 1,2 bilhão na formação de uma joint venture com uma companhia telefônica norueguesa e revolucionou o negócio com telecomunicações no país. O custo da operação foi dividido entre o banco, a companhia telefônica e o consumidor. As mulheres foram as grandes beneficiadas e pesquisas mostram que com essa tecnologia foi possível resolver problemas práticos, contornando dificuldades na negociação dos seus produtos e melhorando aspectos subjetivos como a auto-­estima.

Esse modelo foi exportado para o Cambodja, Colômbia e agora chega aos países africanos. Estudos demonstram que os agricultores que receberam os smartphones conseguem preços mais elevados pela sua produção que os demais, acesso direto aos compradores (sem intermediários) e redução de desperdício entre outras vantagens. Pode­-se dizer que estão sendo utilizadas tecnologias da informação para o renascimento da agricultura familiar.

Não há dúvida que a telefonia celular reduz os custos de transação para a obtenção de informações sobre preços de produtos e insumos, condições meteorológicas, tipos de pragas e notícias relevantes para a produção e comércio dos pequenos agricultores. Tomando­-se em conta os critérios oficiais, o IBGE calculou em 4,4 milhões o total de agricultores familiares em 2006. Desse contingente, aproximadamente 25% não tinham receita agropecuária, seja porque eram pobres, recém assentados da reforma agrária, ou porque naquele ano específico não houve produção.

Esse é o público preferencial da Assistência Técnica e Extensão Rural, serviço esse que estava desorganizado desde os início dos anos 1990 e que foi contemplado com uma lei específica e um plano de ação em 2010. Nesses instrumentos está prevista a contratação de serviços de "entidades executoras" por meio de chamadas públicas para regiões geográficas definidas. Trata­-se de uma grande oportunidade para apoiar programas baseados na tecnologia da informação ou mesmo na tradicional telefonia celular promovendo, em escala maior, aquilo que está expresso na lei, como o desenvolvimento e a apropriação de inovações tecnológicas e organizativas adequadas ao publico beneficiário.

Considerando que a posse de aparelhos celulares vai se disseminando também nas áreas rurais do Brasil, observa­se que simples mudanças no aparato regulatório criando tarifas diferenciadas para o seu uso no campo poderiam proporcionar ganhos imediatos na produtividade e na renda dos agricultores.

Walter Belik e Marcio Wohlers de Almeida são professores do Instituto de Economia da Unicamp.

O texto é do Jornal Valor Econômico.

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