Conforme foi dito na primeira parte do artigo, a estação de parição que acontece na primavera é uma período de alta úmidade o que favorece a ocorrência de mastites e problemas de casco. Esses animais são tratados e separados em um lote onde ficam as vacas cujo leite não pode ir para laticínio. O leite desses animais é usado para amamentar as bezerras.
Mastites
Em geral na NZ não se tem altos teores de células somáticas. Isso se deve ao alto descarte de vacas com essas características. Essa é a principal forma de prevenção de mastites e garantir boa qualidade de leite. Contudo, é inexorável a maior frequência de mastites na parição não só pela alta umidade, mas também pelo fato das vacas se infectarem durante o período seco (vacas secas). Nesse caso, a principal prevenção de mastites para a “calving season” é a terapia da vaca seca realizada na estação de vacas secas (leia o artigo Nova Zelândia: estação de vacas secas).
O tratamento de mastite varia de acordo com cada fazenda, porém e todas as fazendas que visitamos os medicamentos são os mesmos. O que variou foi a situação em que se usa e a dose ministrada. Isso fica a critério do veterinário que assiste a propriedade. Contudo é senso comum que a mastite deve ser tratada o mais cedo possível. Entretanto com uma ordenha ágil e rápida como aqui na NZ (leia o artigo: Eficiência de ordenha na Nova Zelândia: do piquete ao piquete) não dá para ficar testando todas as vacas com caneca de fundo negro ou CMT.
Todos os dias o leite é analisado e o resultado chega no ato da coleta do leite no tanque.
O que é feito é monitorar a CCS. O nível aceitável é até 250mil. Acima disso os ordenhadores passam a ordenhar com mais atenção nas vacas que podem estar com mastites (vacas velhas, úberes mal conformados, etc). Caso chegue a 300mil é feito o teste tirando alguns esguichos de leite em cada teto. Normalmente coloca-se uma pessoa a mais na ordenha para realizar esse trabalho e manter o fluxo normal de ordenha. Caso não diminua a CCS aí usa-se o teste CMT.
O animal com mastite é identificado pintando-se suas pernas e úbere, é separado e ordenhado junto com o lote de animais em tratamento.
Laminite
O custo da lamite na NZ gira em torno de NZD$400,00 por caso. O método para se evitar o problema são os corredores de argila (leia o artigo: Eficiência de ordenha na Nova Zelândia: do piquete ao piquete) além de evitar manejos que possam lesionar os cascos das vacas tais como: tocar os animais apressadamente para ordenha, pressionar as vacas com o portão empurrador dentro do curral de espera, etc.
Durante a “calving season” o que é feito é ter paciência. Os casos de laminite vão aumentar durante as chuvas. No inverno tem mais lama ainda, mas as vacas não são manejadas com frequência como quando começa a ordenha.
Quem está trazendo as vacas para a ordenha tem a resposabilidade de identificar o animal mancando o mais cedo possível. Caso tenha apartador eletrônico digita-se o numero da vaca mancando no computador, dá o comando e vaca será separada. Caso contrário, a vaca é marcada com tinta e então o ordenhador, ao fazer a identificação, separa o animal na saída da ordenha. Faz-se o casqueamento conforme o nível de infecção e correção de aprumo e também tratamento com antibiótico. As vacas que apresentam alta incidência de laminite são descartadas.
Infecção uterina
A infecção uterina ocorre na NZ normalmente devido à retenção de placenta e falta de higiene na hora de ajudar vacas em partos distócitos. A rotina apertada e casos de muita emergência acabam que o profissional não tem muita higiene. Às vezes o parto precisa ser feito no piquete no meio da lama com uma corda que tava esquecida no banco de trás da camionete somente para salvar a vaca.
Quando a vaca está com retenção de placenta clara é separada imediatamente e tratada. Há alguns casos em que não é tão visível e a vaca começa a cheirar mal na vagina, o que pode ser notado no momento da ordenha, então esse animal é separado e tratado. Entretanto, tem alguns animais que não manifestam a infecção clinicamente. Nesse caso é feito um exame nas vacas pelo veterinário que eles chamam de “metricheck”.
O ”metricheck” é feito em todas as vacas com mais de uma semana de paridas, pois antes disso pode ter algumas vacas que estão terminando de limpar os restos do parto o que pode mascarar o exame. O exame é realizado até 3 semanas antes de começar a estação de monta para dar tempo de realizar o tratamento e os animais entrarem na estação.
Durante o exame o veterinário introduz uma sonda própria para coletar o muco no canal vaginal e verificar secreções purulentas próprias de uma infecção. De acordo com a quantidade de pus, o veterinário trata a vaca com um antibiótico localizado e/ou um sistêmico de longa ação. No caso do localizado, a aplicação é feita como fazíamos inseminação artificial com ampola no passado no Brasil, porém no lugar do sémem vai o antibiótico. Os medicamentos utilizados no "metricheck" são de zero descarte de leite.
Manejo de cria (por Laísse Campos de Freitas Silveira)
Para definir se uma vaca leiteira terá vida longa e produtiva é preciso proporcionar o melhor começo possível. Com esforço extra agora paga-se dividendos ao longo de sua vida de ordenha. Bezerras bem criadas tem muito mais sucesso como vacas leiteiras, e criá-las começa a partir do dia em que nascem. A fase de cria se inicia após o nascimento e se estende até a desmama que é determinada pelo peso das bezerras tendo duração média de 3 meses.
Logo após o nascimento, as bezerras recebem brinco com numeração crescente de acordo com a quantidade de bezerras nascidas. Por exemplo, a primeira bezerra que nascer receberá o número 1 a segunda número 2 e assim em diante. Em seguida todas recebem o primeiro colostro via sonda ingerindo 2,5 litros do mesmo. O colostro é fornecido dessa maneira, pois é a única forma de garantir a ingestão da quantidade desejada. Porém existem os riscos de se passar a sonda incorretamente ocasionando o depósito do colostro nas vias respiratórias e consequentemente a morte imediata do animal. Para evitar esse erro imobiliza-se sua cabeça direcionando-a para cima introduzindo o tubo e liberando o leite. O umbigo é curado apenas no primeiro dia com solução que contém 12,5g/l de Iodo, 16,6g/l de iodeto de potássio e 340g/l de álcool.
As fêmeas são colocadas em baias já preparadas com acesso imediato ao bebedouro, palha e ração, forradas com serragem ou palhada de trigo e com lâmpadas quentes para amenizar o frio durante à noite. Na fazenda onde estou, colocamos 11 bezerras por baia. Não se coloca mais de 20 por baia para evitar a disseminação de doenças e para que a cama seja mantida o mais seca possível, já que nessa época o clima ainda é bem frio e o sol não é suficiente para higienizá-las caso a lotação seja muito alta. Os machos e as bezerras oriundas de monta natural, hamados de “Bobby”, são alojados em baias separadas e descartados com 4 dias de vida para produção de “pet-food”. Os bezerros mortos vão para curtume.
Foto: Machos com 4 dias de vida já identificados pronto para descarte.
A alimentação é feita por mamadeiras móveis com 12 tetos cada. Duas vezes ao dia até 3 a 6 semanas de vida. Depende da quantidade de leite descartado do colostro e proveniente de vacas em tratamento com medicamentos que deixam resíduo no leite. Quanto mais leite mais prolonga-se o fornecimento em até 2 vezes ao dia. E até 12 semanas 1 vez ao dia. A quantidade fornecida é incrementada a cada 5 a 7 dias de vida. O feno, na maioria das vezes, é só palhada de trigo e é fornecido para estimular a atividade ruminal. A ração utilizada apresenta 18% de proteína e é enriquecida com vitaminas, mineirais palatabilizante e antiparasitário, formulada para bezerras de 4 dias até pós desmama. Tanto a palha quanto a ração são fornecidas à vontade. Também é adicionado ao leite, desde o 1º dia até a desmama, um probiótico que auxilia na digestão e no desenvolvimento precoce do rúmem. Já os “bobbies” são alimentados 2 vezes ao dia com 2 litros de colostro/dia sem acesso a ração, palhada e probiótico, tendo o cuidado de fornecer apenas leite proveniente colostro, para não ter resíduo de medicamentos na carne. Se for pego no teste feito no frigorífico a fazenda receberá uma alta quantia em multa. Portanto todo cuidado é pouco.
Foto: Aleitamento das bezerras nas baias
Foto : Traileir utilizado para alimentação em baias
A descorna é feita no primeiro mês de vida. O veterinário anestesia as bezerras e com uma máquina portátil a gás atingindo temperatura de 700 C° faz-se a descorna, rápida, segura e muito bem realizada. Onde praticamente não há sangramento. Nessa mesma hora, as bezerras são identificas com brincos eletrônicos (com a numeração da LIC), e recebem a primeira dose de uma vacina contra tétano, perna preta, morte súbita e rim polposo. Após 3 a 4 semanas amputa-se o quarto final do rabo com borrachas utilizando um alicate elastrador com o intuito de facilitar a colocada dos copos na hora da ordenha e manter o úbere mais limpo. Também são adinistrados multiminerais que contém cobre, selênio, zinco e magnésio assim como a segunda dose da vacina. Em seguida são deslocadas para os piquetes, onde além do leite e ração terão acesso também ao pasto.
Foto : Descorna realizada pelo Veterinário
Foto : Amputação do rabo feito pelo alicate elastrador.
As principais doenças que podem acometer os bezerros são pneumonia, infecção do umbigo, coccidiose, parasitária, diarreia infecciosa causada por bactérias, protozoários ou vírus e diarreia causada por excesso de leite e estresse. A maior responsável pela morte deles é a diarréia, sendo esta facilmente evitada com uma boa alimentação e desinfecção das baias. Para a desinfecção, pulveriza-se um desinfetante duas vezes por semana, onde chão, paredes, portões, trailers, botas, quadricículos e tudo que tiver contato com as baias devem ser desinfetados.
No final do terceiro mês, as bezerras já atingiram o peso adequado para a desmama. Portanto, na última semana na fazenda as bezerras recebem mais uma dose de multiminerais e a terceira dose da vacina. Em seguida são deslocadas para as fazendas arrendadas dando início a fase da recria.