As diversas tecnologias que vem surgindo no mercado, desde tecnologias de plantio, tratos culturais, colheita e armazenamento de silagem, garante ao produtor uma tomada de decisão sobre investimento das etapas da produção. Quando se fala em qualidade no processo de colheita ou ensilagem do milho, percebe-se que para atender o pequeno e médio produtor no quesito equipamentos existem poucos lançamentos significativos no mercado. Colhedoras de forragem que obtenham ótimos desempenhos operacionais e ainda garantam todas as características físicas desejadas (tamanho de picado + quebra dos grãos) acessíveis a todos agora é uma realidade.
A tecnologia de processamento de grãos já existente nas máquinas auto-propelidas introduzidas agora na realidade dos pequenos e médios produtores, deixam-se os velhos hábitos não saudáveis de cortar tamanho de partículas muito curtas (menores ou iguais a 5 mm) para tentar conseguir algum aproveitamento de quebra dos grãos (baixa eficiência de quebra dos grãos e menor aproveitamento ruminal), ou até realizar ensilagem com os grãos de milho mais moles, sem estar completamente maturados (maior concentração de amido) para tentar quebrar o grão.
O objetivo deste trabalho é divulgar a tecnologia desenvolvida, em parceria com a empresa Tornomaq de Santo Augusto-RS, pela empresa JUMIL – Justino de Morais e Irmãos de Batatais-SP, aplicada nas colhedoras de forragem tracionadas de 1 linha ou mais, acopladas a tratores, enfatizando todos os parâmetros fundamentais de uma silagem de alta qualidade ao dispositivo processador e suas características mecânicas.
CONCEITO DE PROCESSAMENTO
Sistemas de processamento mecânico de silagens de milho são largamente utilizados na Europa e tem se tornado cada vez mais frequentes na América do Norte. Estes sistemas realizam um processamento adicional no milho e outros pequenos grãos
após a colheita, para assegurar que eles sejam danificados a ponto de melhorar a utilização do amido pelos ruminantes.
O uso destes equipamentos tem crescido por três motivos:
1. Aumento do preço dos grãos (a maior eficiência de utilização reduz a necessidade de suplementação);
2. Tendência de um maior tamanho de corte das forragens, o que reduz o processamento dos grãos pelas facas (necessidade de fibra efetiva);
3. Secagem muito rápida dos grãos em função de mudanças climáticas (veranicos mais frequentes) – velocidade de colheita em campo.
Vários tipos de processadores têm sido utilizados, mas, atualmente, o sistema mais popular é o processador totalmente ativo anexado a colhedora de forragem, chamado de cracker. Ele consiste de dois rolos que giram em sentido contrário, posicionados entre o rotor picador e a bica de descarga (Figura 1).
Figura 1. Localização do processador de grãos cracker.
A distância entre os rolos pode ser ajustada para controlar a intensidade da ação exercida nos grãos e na forragem entre 2 a 20 mm de abertura conforme condição da lavoura (Figura 2). Esta unidade não somente esmaga e desfia os grãos e o sabugo, mas também exerce ação sobre a parte da forragem do milho esmagamento as fibras para melhorar a compactação no silo.
Figura 2. Regulagem de distância dos rolos quanto a diversas características.
Segundo Peres (2000), processadores deste tipo reduzem a capacidade de colheita da máquina em até 28% e aumentam os requerimentos de potência do trator entre 7 e 15% (Figura 3).
Figura 3 - Rolos cracker de uma auto-propelida Class - abertura regulável.
Fonte: TheClassTv (2015)
No dispositivo de processador em questão, é recomendado tratores com potência igual ou acima de 85 cv para se obter um desempenho similar a qualquer colhedora de forragem tracionada convencional (rendimento até 30 ton h-1 com 1 linha), tendo uma demanda estimada adicional de 10 cv.
Não foi percebida perda de rendimento considerável em trabalhos no campo quando comparado com outros modelos de máquinas que existem no mercado. Isto acontece também, devido ao volume de massa que uma colhedora de forragem tracionada de 1 ou 2 linhas consegue processar se comparado com uma máquina de grande porte de capacidade de 7 linhas ou mais.
A terceirização dos serviços tem sido a forma encontrada pelos médios e grandes produtores para se ter agilidade na colheita da silagem em virtude da menor janela de corte dos híbridos mais precoces. Do ponto de vista financeiro, a vantagem para o produtor que contrata esses serviços é a redução nos investimentos para aquisição e custos com depreciação e manutenção dos implementos. Máquinas forrageiras de grande porte (auto-propelida) tem maior eficiência operacional (Figura 4), possibilitando uma colheita mais rápida dentro do momento ideal para corte, menor tempo para enchimento e fechamento do silo e, eventualmente, maior disponibilidade de tratores para compactação, contribuindo para a qualidade da silagem produzida.
Figura 4. Colhedora de Forragem Auto-propelida.
Fonte: John Deere (2017)
Porém, cada vez mais se encontra dilema com os prestadores de serviço que abrem o processador de grãos para obter maior rapidez de colheita, deixando o cliente com um nível não satisfatório de quebra de grãos quando esta etapa não é acompanhada e monitorada com rigor. Além de não atender pequenos clientes e área com alto declive devido rendimento operacional.
Contudo, o segmento no qual ainda predomina a terceirização nos serviços de colheita de silagem de milho é o de forrageiras acopladas (ensiladeira de 1 ou 2 linhas). Programas governamentais de financiamento vem promovendo a renovação do parque de máquinas, principalmente para os pequenos e médios produtores. Levantamentos feitos nos estados do Paraná e Santa Catarina mostraram que mais de 60% da silagem de milho são colhidos por terceiros, como patrulhas agrícolas, prefeituras e mesmo outros produtores que prestam serviços (PEREIRA, 2013).
A proposta é trazer o controle operacional ao pequeno e médio produtor, assegurando a ensilagem na época correta com o processamento ideal, tecnologia de ponta disponível a todos.
TAMANHOS DE PARTÍCULAS
O tamanho de partícula picada durante a ensilagem também é um parâmetro fundamental para a qualidade da silagem. A regulagem para cortes grandes diminui a quebra dos grãos de milho para colhedoras de forragens sem processador, reduzindo a ingestão de amido e aumentando a quantidade de grãos inteiros nas fezes. Partículas muito grandes também podem fazer com que os animais separem o volumoso do concentrado, deixando de seguir a dieta alimentar preparada.
Por outro lado, partículas muito pequenas Figura 5 (menores que 1,18 mm) interferem na atividade do rúmen, ocasionando problemas metabólicos.
Figura 5. Excesso de picagem da forragem menor que 2 mm.
Fonte: Centro de Pesquisa em Forragicultura – UFPR (2017)
É importante que se faça uma distribuição do tamanho de partículas médio, para que existam partículas acima de 8 mm, consideramos fibra efetiva partícula de 14 mm (Figura 6).
Figura 6. Tamanho de partícula em 14 mm e cracker regulado a 7 mm de abertura - 33% Massa Seca.
A uniformidade das partículas de forragem é um fator importante para manter a compactação e minimização de agentes de degradação do silo, portanto, a afiação das facas de colhedoras de forragem tracionadas de 1 ou 2 linhas devem ser realizadas com uma frequência de 1 ou 2 vezes no dia, se mostra suficiente para que seja garantida uma boa qualidade de corte e manutenção da uniformidade das partículas.
PROCESSAMENTO DE GRÃOS
No passado, acreditava-se que o uso eficiente do amido ocorria quando os grãos estavam parcialmente quebrados. Contudo, atualmente, sabe-se que o pericarpo, a camada fibrosa que recobre o grão, dificulta o acesso dos microrganismos ruminais ao amido e quanto mais processado o grão, maior será a exposição do amido e, consequentemente, sua digestibilidade (Figura 7).
Figura 7. Grão de milho devidamente quebrado.
De acordo com Mertens (2005), 95% dos grãos na silagem devem estar quebrados, com 70% em partículas menores de 1/4 do tamanho original do grão. Somente trincar ou amassar os grãos não é suficiente. Segundo Dr. Mike Hutjens, renomado nutricionista da atualidade em palestra, existe uma relação direta do processamento de grão com aumento de produção de leite ou maior disponibilidade de amido na silagem (RAMOS, 2015).
Muitos estudos estão sendo desenvolvidos e o conhecimento cada vez mais divulgado, como demonstra Shinners e Holmes (2013) na Figura 8, na qual somente a amostra da direita pode ser considerada adequadamente processada.
Figura 8. Grau de picagem dos grãos influenciados por três tipos de processamento.
Fonte: Shinners e Holmes (2013)
A disponibilidade de uma tecnologia de baixo custo a todos os perfis de clientes, garante tomada de decisões na produção de silagem. Benefícios constatados em clientes no Brasil de aumento na produtividade de leite (5 a 10% por animal), melhor saúde animal do plantel e economias na adição de concentrados nas dietas (5 %).
A missão será sempre aglutinar valores a esta cadeia produtiva com valorização do trabalho dos pequenos e médios produtores, associando maior qualidade na silagem, saúde animal, desempenho de produção e realizações.
Referências mediante solicitação.