Duas situações práticas deste inverno em lavouras de milho a serem ensiladas |
Introdução
Com a chegada do inverno que veio acompanhado de estiagem desde os meses finais do outono, alguns produtores sofreram com a perda de valor nutritivo de parte da safra e da safrinha. Além disso, nos estados do Sul do país, algumas regiões sofreram com geada nos campos semeados para a colheita do milho “safrinha” ou de outras culturas.
O objetivo deste texto é comentar sobre as situações evidenciadas, alertar sobre as possibilidades e apresentar soluções para esses casos, acerca do controle do processo fermentativo. Para conferir sobre o assunto, acesse o material abaixo.
Características dessa forragem
Normalmente o aspecto visual leva-nos a achar que as plantas estão secas. Muitas vezes, o teor de MS dessas plantas pode ser ainda abaixo daquele preconizado para uma boa fermentação, podendo haver quantidade significativa de água no colmo das plantas. Deve-se ainda considerar o aspecto visual das folhas e da espiga que em muitas casos nos fazem crer que a forragem está passada. Para não incorrer em erros, o primeiro procedimento que deve ser feito é a amostragem de algumas plantas para monitoramento do teor de MS. Esse monitoramento deve ser feito com o Koster, estufa de ventilação forçada ou mesmo pelo método do forno micro-ondas (método está descrito em http://www.ensilagem.com.br/micro-ondas/)
As plantas de milho que passaram pela seca apresentam algumas características específicas (abaixo) e podem ser acompanhados na Tabela 1, que devem ser consideradas quando forem ensiladas:
Produção de MV reduzida: baixo crescimento vegetal como é evidente em áreas que sofrem com período de escassez de água durante o desenvolvimento vegetal (Foto 2). A redução na altura, associada ao menor acúmulo de amido têm impacto negativo nos dois principais fatores de uma boa silagem de milho: produção de MS e densidade energética;
Maior digestibilidade do FDN: como faltou água, não houve estímulo de formação de tecido de sustentação vegetal. Sabe-se que a inturgescência das células vegetais (acúmulo de água) é uma das responsáveis pela formação e deposição de porções menos digestíveis das plantas, tal como a lignina. Sendo assim, a fibra torna-se mais digestível (maiores valores de FDN-D);
Alto conteúdo de nitrato: esta questão está relacionada ao metabolismo de nitrogênio na planta. Alto nitrato nas plantas é crítico, sobretudo, para algumas categorias de animais (gado de leite e animais de cria). O nitrato acumulado pode levar à intoxicação por nitrito nos animais. Mais abaixo isso será comentado em mais detalhes.
A Tabela 1 mostra valores de amostras (n = 1.386) avaliadas em um laboratório nos EUA, comparando algumas que passaram por seca e outras que tiveram as situações climáticas normais.
Tabela 1 – Comparativo de amostras analisadas nos EUA considerando materiais que sofreram déficit hídrico (seca) e materiais normais.
Amostras |
MS (%) |
PB (% MS)
|
FDN (% MS)
|
FDA (% MS)
|
FDN-D (%)
|
Cinzas (% MS)
|
Amido (% MS)
|
Carboidratos Solúveis (% MS) |
Déficit hídrico |
25,2 |
10,1 |
53,7 |
31,1 |
59,0 |
6,3 |
10,5 |
7,0 |
Planta normal |
35,1 |
8,8 |
45,0 |
28,1 |
55,0 |
4,3 |
32,0 |
1,0 |
Nota: FDN-D – Digestibilidade do FDN.
Fonte: Dairyland Labs – 1.386 amostras de silagem de milho que foram ensiladas entre 01/Julho a 07/Agosto de 2012, nos EUA em regiões de déficit hídrico e planta normal.
Cuidados com as plantas nas situações de seca e geada
Como comentado, uma das características dessas plantas é parecerem mais secas do que realmente estão, portanto há risco de colheita mais precoce do que deveria, o que leva a fermentação butírica. Se o teor de MS estiver baixo e mesmo assim já for preciso a colheita nesse momento, a inoculação com bactérias homofermentativas é recomendada.
Foto 1 – Característica dos grãos de milho de plantas que sofreram estresse hídrico no estado de Goiás. Cortesia: Jorge Jawabri.
Existem formulações desenhadas para isso com associação destas bactérias que atuam de maneira a manter boa fermentação. Um bom exemplo é a associação de Pediococcus acidilactici e Lactobacillus plantarum. O primeiro atua mais precocemente (em pH mais alto e com maior pressão osmótica), o último é mais lento para atuar inicialmente, todavia mais efetivo no longo prazo. Se fizermos uma analogia seria: o Pediococcus acidilactici é um corredor de 100 m rasos (tal como o fenômeno jamaicano Usain Bolt) com saída rápida, mas que não consegue correr com grande velocidade por longo tempo; o Lactobacillus plantarum se compararia a um maratonista (talvez o mais famoso deles o tcheco Emil Zatopek ou o nosso brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima), com início da corrida cadenciada, mas com fôlego suficiente para completar uma longa prova.
Foto 2 – Lavoura de milho no estado de Goiás demonstrando a baixa produção de MS devido a seca que a plantação passou nos meses de março e abril de 2016. Cortesia: Jorge Jawabri.
Em plantas com teores de MS mais altos (acima de 33% de MS) a história é outra, pois elas têm características distintas e deve ser considerado o uso de Lactobacillus buchneri, ou seja, alto teor de carboidratos solúveis (açúcares) e alto teor de MS. Isso pode ser um risco considerável de menor estabilidade após a abertura, o que se traduz, usualmente, em aquecimento da massa que ocorre devido ao ingresso de oxigênio. Isso acontece porque os açúcares solúveis são usados como substrato por fungos e leveduras que levam à deterioração aeróbica. Graças à capacidade de produzir ácido acético o L. buchneri tem reconhecida ação de controlar fungos e leveduras ao produzir esse ácido.
As plantas que passaram por seca acumulam nitrato durante o metabolismo de nitrogênio, principalmente nas porções mais baixas da planta, como demonstrado na Figura 1, em resultados de pesquisa da Universidade de Wisconsin.
Figura 1 - Níveis de nitrato em plantas de milho que cresceram com falta d’água.
Fonte: Universidade de Wisconsin.
O nitrato é absorvido, reduzido à amônia e excretado como ureia na urina ou convertido em proteína microbiana no rúmen, mas até aí não haveria problema. Entretanto, como intermediário nesse metabolismo ocorre a produção de nitrito e este composto é tóxico para os animais. Muito embora esse problema seja conhecido como “intoxicação por nitrato”, o produto que é tóxico aos animais é o nitrito, portanto, o nome correto deveria ser ”intoxicação por nitrito”. Ele se liga à hemoglobina e forma a meta-hemoglobina. Enquanto a hemoglobina é responsável por carrear oxigênio dos pulmões para os outros tecidos, a meta-hemoglobina não consegue fazê-lo. Os sinais clínicos dos animais intoxicados com nitrito são: mucosas de coloração azulada (cianótica), baixa temperatura corporal, descoordenação motora, fraqueza, devem afetar o comportamento normal com consumo prejudicado, e em casos mais graves levam o animal à morte.
Alguns autores afirmam que o acúmulo de nitrato pelas plantas é dependente dos seguintes fatores:
Estádio de maturidade;
Parte da planta;
Nível de fertilizante;
Incidência de chuva;
Horário do dia ;
Local de plantio.
Uma maneira de se evitar a concentração mais alta de nitrato é realizar o corte da forragem mais alta, já que esse metabólito tende a se acumular nas porções basais das plantas. Contudo, em tempo de falta de forragem, o corte mais alto, muitas vezes, deve ser desconsiderado já que o produtor precisa de massa.
Outra opção é esperar passar 3 ou 5 dias após uma chuva para fazer a colheita de plantas de menor desenvolvimento que tenham passado por seca, pois logo após a chuva as plantas aumentam o metabolismo de nitrogênio e o nitrato tende a se acumular nas plantas.
A boa notícia é que a ensilagem é capaz de diminuir consideravelmente o nível de nitrato durante o processo fermentativo, podendo alcançar até 60% de diminuição do teor de nitrato original na planta fresca, segundo alguns autores.
O efeito dos "gases dos silos"
Ainda que isso não esteja somente associado às plantas que passaram por seca severa, a formação de gases tóxicos pode ocorrer em qualquer forragem e serve de alerta.
Durante a fermentação, outro composto derivado do nitrogênio pode ser produzido, trata-se do óxido nítrico (NO2). É um gás que tinge a forragem de uma cor vermelho-alaranjada. Na Foto 3 o gás escapou de um silo bolsa e tingiu o solo.
Deve ter muito cuidado ao abrir esse tipo de silo, pois esse gás pode se acumular e, durante abertura pode-se inalá-lo. Ele se acumula nas porções mais baixas do silo, por ser mais pesado que o ar. Além dos silos bolsa, também é crítico em silos tipo fosso ou cisterna, embora esse tipo de estrutura não seja mais usado no Brasil.
Foto 3 – Gás do silo, possivelmente óxido nítrico, que tingiu o solo na abertura de um silo bolsa. Cortesia: Renato Schmidt.
Como alerta aos trabalhadores responsáveis pela alimentação dos animais deve-se ter muito cuidado, de preferência deixar que haja boa circulação de ar logo após a abertura. Se possível, ao abrir um silo, ir acompanhado de um colega de trabalho para o caso de necessidade e NUNCA cheirar uma silagem, de quem quer que seja! Além do risco de inalação desses gases, há o risco microbiológico, pois nunca sabemos qual o microrganismo que atuou naquela fermentação, podendo ser um patógeno.
Silagem de forragens que sofreram com geada
Muito semelhante à seca, a geada compromete as plantas em momentos em que, geralmente, ainda não estão prontas para colheita, como demonstra a Foto 4. Nota-se que as folhas estão secas, mas as espigas ainda estão verdes, porém como citado acima, plantas que passaram pela seca ainda podem ter água no colmo, o que poderia levar a uma fermentação inadequada.
Foto 4 – Lavoura que passou por geada no estado de SC.
A maior parte das recomendações é que essas lavouras devem ser colhidas até alguns dias (entre 5 e 7 dias) após a geada e garantir a boa fermentação. Se for necessário, deve-se utilizar inoculantes que podem ajudar a controlar fungos e leveduras (L. buchneri ou Propionibacterium acidipropionici).
Recomendações gerais
1. Monitore o teor de MS de lavouras atingidas por seca ou geada se o objetivo for ensilá-las;
2. Mantenha as áreas que sofreram seca pelo tempo mais longo possível no campo, pois os níveis de nitrato devem diminuir com o avanço da maturidade;
3. O corte mais alto tende a levar para o silo um material de menor teor de nitrato;
4. Espere entre 3 e 5 dias após a chuva para colher o material;
5. Use bactérias homofermentativas (Pediococcus acidilactici e Lactobacillus plantarum, por exemplo) para inocular a forragem se estiver abaixo de 33% de MS;
6. Use L. buchneri se o teor de MS estiver acima de 33% de MS para ajudar também após a abertura;
7. Por maior que seja o dano climático (seca ou geada) os animais podem ter desempenho zootécnico adequado. Somente um técnico tem a capacidade de ajustar a formulação e determinar o correto uso do inoculante na sua ensilagem e o balanceamento da dieta de seus animais.
Para saber mais, entre em contato pelo box abaixo.
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