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Listeriose: Um problema emergente em conservação de forragens

THIAGO FERNANDES BERNARDES

EM 18/06/2004

5 MIN DE LEITURA

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Por Lucas José Mari1 e Luiz Gustavo Nussio2

1. INTRODUÇÃO

Listeriose, também conhecida como doença giratória ou doença da silagem, geralmente é causada pela espécie Listeria monocytogenes. Constitui-se de uma célula pequena, móvel, gram positiva, não esporulada, saprófita que vive no solo, nas plantas e podendo ser encontrada em secreções de animais aparentemente sadios. Pode sobreviver por até dois anos no solo seco, fezes e é capaz de crescer sob temperaturas variando entre 4 e 44 oC (Carter, 1988).

Em animais, a L. monocytogenes causa freqüentemente encefalite (30% de mortalidade), aborto e mastite, especialmente em animais imunodeprimidos como, por exemplo, fêmeas prenhes e neonatos. A rota de infecção pode ocorrer via mucosa bucal, enquanto a septicemia e aborto acontecem via inalação. Esses relatos são mais comuns em ovinos que em bovinos.

As bactérias do gênero Listeria são consideradas microrganismos aeróbios ou anaeróbios facultativos. A espécie mais importante tendo em vista a qualidade da silagem é a L. monocytogenes, uma espécie anaeróbia facultativa e patogênica tanto para animais quanto para os seres humanos.

Silagens contaminadas com L. monocytogenes têm sido associadas a mortes de animais, especialmente na Europa e EUA. Para Sanaa et al. (1993) a silagem fornecida de baixa qualidade foi uma das principais causas da contaminação do leite por esses microrganismos.

O crescimento e a sobrevivência da Listeria na silagem são determinados pela presença de oxigênio residual na massa e pH mais elevado, embora L. monocytogenes possa tolerar pH baixo (3,8-4,2), por longos períodos, se houver a maior presença de oxigênio na massa ensilada. De acordo com Donald et al. (1995), sob condições estritas de anaerobiose a espécie citada é rapidamente inativada se o pH for baixo. Silagens condicionadas em fardos revestidos têm grande chance de deterioração aeróbica da sua camada mais externa por serem particularmente susceptíveis à contaminação por Listeria monocytogenes que geralmente não se desenvolve em silagens bem fermentadas com baixo pH. Além disso, para McDonald et al. (1991), o método mais efetivo para evitar o crescimento desse microrganismo nas silagens mantê-las sob condições anaeróbicas.

A incidência da contaminação por Listeria spp., em silagens amostradas no Canadá, observada por Ryser et al. (1997), foi de 13 em 129 em amostras de silagem de milho (10%), 21 em 76 em silagens de gramíneas emurchecidas (28%) e 3 em 5 em silagens de gramíneas com umidade original (60%), demonstrando a maior incidências de contaminação das silagens de gramíneas.

2. RESULTADOS SOBRE O CONTROLE DA POPULAÇÃO DE Listeria spp.

Modelos para predição do crescimento de microrganismos foram desenvolvidos em diversos centros de estudo. São ferramentas relativamente novas para trabalho visando a alimentação animal mais saudável, com resultados positivos na alimentação humana. A Figura 1 mostra o modelo de predição para o crescimento de Listeria monocytogenes em função da temperatura, e indica o tempo necessário para duplicar-se a população da bactéria.

 


Figura 1 - Modelo de predição do tempo necessário para duplicar-se a população de Listeria monocytogenes em função da temperatura. Fonte: Lindgren, 1999.

A maioria das pesquisas com respeito a Listeria spp. tem sido concentradas em silos tipo fardo revestidos com lona plástica associado a presença de Listeria e ocorrência de fungos nesses fardos (Fenlon, 1988). Cerca de 30% do peso dos fardos concentra-se nos 10 centímetros exteriores, em virtude da condensação da umidade nessas porções. Além disso, na porção mais externa do fardo ocorre maior risco do ingresso de oxigênio em função da má vedação e orifícios que podem, eventualmente, ocorrer no revestimento, gerando condições adequadas para a ocorrência de um meio de cultura seletivo para Listeria.

A Tabela 1 mostra as características de silagens contaminadas que tiveram casos confirmados de listeriose em ovinos, através de sintomas clínicos. Os principais achados na silagem ficaram por conta de: alto pH e alta contagem de L. monocytogenes que excedeu 106 UFC por grama de silagem.

 


De acordo com Wilkinson (1999), o fator crítico para o crescimento de L. monocytogenes é a presença de oxigênio. Por isso a estreita relação entre silagens úmidas aerobicamente deterioradas e o crescimento de L. monocytogenes. Entretanto, Fenlon & Wilson (1991), conseguiram crescimento de uma espécie não patogênica de Listeria (L. innocua) sob condições laboratoriais de anaerobiose, sob pH 5,0 ou superior e atividade de água acima de 0,98, demonstrando que a camada externa de fardos revestidos, bem como porções superiores de silagens em silos tipo trincheira podem ter crescimento de Listeria mesmo se a penetração de oxigênio for limitada. Isto posto, atenção deve ser dada a culturas colhidas com teor de umidade mais elevado ou se houver superaquecimento com conseqüente condensação da água na superfície interna da lona plástica utilizada para vedação.

3. COMENTÁRIOS

A preocupação da contaminação por bactérias do gênero Listeria em silagens é tão grande que em 2003 o Instituto de Pesquisas com Reprodução de Bovinos da França submeteu um projeto para o governo daquele país para ajudar a aumentar o conhecimento sobre a ecologia da Listeria spp. Esse projeto também visa estabelecer relação funcional entre silagem e a contaminação pelas bactérias, definindo as boas práticas na ensilagem (GSP - good silage pratices) para produtores de leite, principalmente aqueles que processam o leite até queijo.

Fazem parte desse projeto ainda o INRA (Institut National de la Recherche Agronomique, França), a ENV (Ecole National Vétérinaire), a associação dos produtores de leite da França e empresas de nutrição animal. Ao final do projeto espera-se desenvolver um inoculante específico anti-Listeria para silagem. No final do primeiro ano, com as GSP já definidas haverá estudos para validá-las em trabalhos de campo e aplicá-las em larga escala.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARTER, G.R. Fundamentos de bacteriologia e micologia veterinária. 1.ed. São Paulo: Roca, 1988. 249p.

FENLON, D.R. Listeriosis. In: STARK, B.A.; WILKINSON, J.M. (Ed.). Silage and health. Marlow: Chalcombe Publications, 1988. p.7-18.

FENLON, D.R.; WILKINSON, J.M. The role of aerobic deterioration in the development of Listeria monocytogenes contamination in silage. In: PAHLOW, G.; HONIG, H. (Ed.). Forage conservation towards 2000. Sonderheft: Landbauforschung Volkenrode, 1991. p.384-387.

DONALD, A.S.; FENLON, D.R.; SEDDON, B. The relationships between ecophysiology, indigenous microflora and growth of Listeria monocytogenes in grass silage. Journal of Applied Bacteriology, v.79, p.141-148, 1995.

LINDGREN, S. Can HACCP principles be applied for silage safety? In: INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 12. Uppsala, 1999. Proceedings. Uppsala: Swedish University of Agricultural Sciences, 1999. p.51-66.

McDONALD, P.J.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. The biochemistry of silage. 2.ed. Mallow: Chalcombe Publications, 1991. 340p.

RYSER, E.T.; ARIMI, S.M.; DONNELLY, C.W. Effects of pH on distribution of Listeria ribotypes in corn, hay, and grass silage. Applied and environmental microbiology, v.63, n.9, p.3695-3697, 1997.

SANAA, M.; POUTREL, B.; MENARD, J.L.; SERIEYS, F. Risk factors associated with contamination of raw milk by Listeria monocytogenes in dairy farms. Journal of Dairy Science, v.76, p.2891-2898, 1993.

WILKINSON, J.M. Silage and health. In: INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 12. Uppsala, 1999. Proceedings. Uppsala: Swedish University of Agricultural Sciences, 1999. p.67-81.

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1 Médico Veterinário, Mestre em "Ciência Animal e Pastagens" - USP/ESALQ.

2 Professor Doutor do Departamento de Zootecnia - USP/ESALQ - Piracicaba, SP.

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