A terapia da vaca seca (TVC) é tradicionalmente realizada pela infusão intramamária do antibiótico após a última ordenha da lactação. A maioria dos produtos é desenvolvida para eliminar infecções intramamárias causadas pelos agentes mais importantes, tais como Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae, e adicionalmente prevenir o estabelecimento de novas infecções intramamárias durante os períodos seco e pré-parto.
O uso de terapia sistêmica tem sido bastante avaliado na tentativa de aumentar as taxas de cura dos tratamentos intramamários de mastite clínica e subclínica durante a lactação. Neste caso, para que a terapia sistêmica seja eficiente, é necessária a passagem do antibiótico da corrente sangüínea para o local da infecção e a manutenção de uma concentração suficiente para eliminar o agente. Desta forma, as concentrações dos antibióticos no úbere dependem de suas propriedades físico-químicas, da dose utilizada e da biodisponibilidade da formulação. Até recentemente, diversos trabalhos de pesquisa buscando utilizar a terapia de vaca seca por via sistêmica não apresentaram bons resultados, pois não houve melhoria das taxas de cura de S. aureus, quando usada de forma isolada.
Considerando que em alguns países com a Argentina (https://rafaela.inta.gov.ar/anuario1999/p29.htm), a utilização de produtos para vaca seca a base espiramicina e neomicina apresenta bons resultados em termos de taxas de cura e redução de incidência de novas infecções intramamária durante o período seco, têm sido buscadas alternativas através do uso de espiramicina sistêmica. A espiramicina é um antibiótico do grupo dos macrolídeos, com atividade conta microrganismos Gram-positivo. Apresenta alta concentração no leite em relação ao sangue (50 vezes maior na glândula mamária que em relação do sangue), quando administrado por via intramuscular. Por outro lado, a estreptomicina é um aminoglicosídeo com atividade contra microrganismos Gram-negativo, que pode ser utilizado em combinação com outros antibióticos para tratamento de mastite.
Buscando avaliar a eficácia do uso da terapia de vaca seca por via intramuscular, foi realizado um estudo na Argentina utilizando produto para tratamento de vaca seca a base de espiramicina e estreptomicina, sobre a incidência de agentes causadores de mastite no momento do parto. Foram utilizadas neste estudo 44 vacas Holandesas livres de infecções intramamárias no momento da secagem, as quais foram divididas em dois grupos. O grupo tratamento recebeu injeção intramuscular contendo 2500 mg de espiramicina + 5000 mg de estreptomicina no momento da secagem, enquanto o grupo controle não recebeu nenhum tratamento na secagem. Após o parto, as vacas tratadas e não tratadas foram avaliadas quanto ao seu status de infecção intramamária pela cultura microbiológica.
Os resultados do estudo apontaram que as vacas não tratadas apresentaram maior número de quartos infectados no momento do parto do que as vacas que receberam a terapia de vacas seca por via intramuscular, indicando efeito protetor contra agentes causadores de mastite. Neste estudo, as vacas que receberam o tratamento intramuscular com espiramicina e estreptomicina apresentaram 10 vezes menos riscos de contraírem uma infecção intramamária do que as vacas não tratadas. Estes resultados são ainda parciais e necessitam maiores avaliações para que possam ser empregados como rotina nas fazendas leiteiras, buscando simplificar o tratamento de vaca seca.
Comentário do autor: a terapia intramamária de vaca seca continua sendo uma medida altamente importante como estratégia de controle de mastite, através da sua ação curativa e preventiva. O estudo abordado neste radar buscar avaliar uma alternativa ao uso intramamário, mas ainda carece de maiores estudos e avaliações antes de ser implementado como rotina.
Fonte: Journal of Dairy Research, v. 70, p.233-235, 2003.