Em um artigo anterior – Contaminação ambiental de Strep. uberis e implicações para a saúde do úbere – abordamos sobre um dos principais agentes causadores de mastite ambiental, Streptococcus uberis, e os impactos na saúde do úbere de vacas leiteiras. Hoje vamos tentar responder a seguinte questão: S. uberis é capaz de sobreviver em diferentes materiais utilizados como cama das vacas leiteiras?
S. uberis é uma das principais causas de mastite em vacas leiteiras, e acomete tanto vacas em sistemas de pastejo quanto vacas confinadas. Embora algumas cepas podem ter perfil de transmissão contagiosa, este microrganismo é capaz de sobreviver em diferentes ambientes, sendo que a maioria das infecções intramamárias tem origem ambiental.
A capacidade de adaptação de S. uberis em condições ambientais desafiadoras e em constante mudança contribui para que este microrganismo seja identificado em diferentes ambientes nos rebanhos.
Em particular, as fezes são um dos mais importantes reservatórios de S. uberis e contribuem com a transmissão deste microrganismo entre instalações das fazendas. Além disso, S. uberis também já foi identificado em diferentes tipos de materiais utilizados como cama de vacas leiteiras, o que sugere que as condições ambientais afetam a capacidade de sobrevivência dos patógenos causadores de mastite e, consequentemente, pode-se buscar medidas de manejo para reduzir a prevalência e sobrevivência destes microrganismos.
Com base neste cenário, pesquisadores do Reino Unido avaliaram a capacidade de cinco cepas de S. uberis causadoras de mastite clínica de sobreviver e se multiplicar em três materiais de cama (e.g., areia, palhada e serragem). Para isso, amostras de material de cama antes do uso (limpo) e de material de cama em uso (cama dos sistemas de confinamento) foram coletadas e esterilizadas. Em seguida, os materiais de cama foram inoculados com cepas de S. uberis e incubados à temperatura ambiente. Posteriormente, foi realizada a contagem das colônias de S. uberis viável ao longo de 35 dias (0 e 24 h, e 7, 14, 21, 28 e 35 dias).
Os resultados do estudo mostraram que, ao longo deste período, a contagem de S. uberis aumentou nos materiais de cama usados, sugerindo que a adição de fezes e urina promovem a multiplicação do microrganismo. S. uberis foi capaz de sobreviver por pelo menos 35 dias em substratos de cama de palha e apresentou potencial de multiplicação em substratos de cama de palha e areia usados.
Por outro lado, nenhuma das cepas aumentou significativamente na areia limpa, sugerindo que, embora a sobrevivência na areia seja possível, o microrganismo não conseguiu se replicar neste material. Em relação a serragem limpa ou usada, nenhuma das cepas foi isolada aos 7 ou mais dias de incubação. Além disso, nenhuma das cepas aumentou em número na cama de serragem.
Este resultado reforça os dados de pesquisas anteriores que mostraram que a cama de serragem estava associada ao menor risco de mastite por S. uberis. Além disso, as propriedades da serragem, como presença de compostos inibitórios como óleos de árvores coníferas (que apresentam propriedades antibacterianas), podem ter contribuído com este resultado.
Sendo assim, considerando a capacidade de S. uberis de sobreviver e se multiplicar em diferentes materiais utilizados como cama em rebanhos leiteiros, os resultados deste estudo sugerem que o tipo de material e o manejo da cama têm papel impactos diretos sobre a sobrevivência de S. uberis no ambiente e, consequentemente, no risco de novas infecções causadas por este agente.
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Referências
SHERWIN, V. E. et al. Veterinary Journal, 2021. doi.org/10.1016/j.tvjl.2021.105731.