A mastite causada por Mycoplasma bovis foi inicialmente diagnosticada em 1962, sendo que este microrganismo já foi identificado na grande maioria dos países. Uma das características mais importantes deste agente é a sua alta resistência aos antibióticos e o seu caráter altamente contagioso, pois apresenta grande facilidade de transmissão entre animais infectados e sadios. O contágio pode ocorrer pelas mãos dos ordenhadores, pelo equipamento de ordenha e por aerossóis.
A principal forma de entrada do agente na fazenda é através da compra de animais infectados de outros rebanhos, sendo que no caso do Brasil, existe grande risco disto ter ocorrido pela importações de animais. A grande dificuldade de identificar o micoplasma decorre da necessidade de técnicas de culturas especiais que na grande maioria das vezes não são utilizadas de maneira rotineira. Considera-se que uma vez infectada com o Mycoplasma, a vaca por continuar eliminando o agente por toda a vida.
Conseqüências da doença
Nos estágios iniciais da mastite por micoplasma, antes mesmo do aparecimento de sinais clínicos ou de alterações no leite, a vaca infectada pode estar eliminando o agente pelo leite. Um dos primeiros sintomas destes casos de mastite é uma queda abrupta da produção de leite de um dos quartos, em algumas situações para próximo de zero. O leite pode sofrer alteração de cor, tornando-se amarelado e aquoso, podendo apresentar grumos.
Normalmente, os casos não respondem aos tratamentos convencionais com antibióticos, ainda que possa ocorrer alguma recuperação da produção de leite. O fato mais importante é que a vaca continua eliminando o agente pelo leite, sendo uma fonte potencial de contaminação para outros animais. Pode ocorrer, também, o aparecimento de animais com mastite em vários quartos (até nos quatro quartos) ao mesmo tempo.
Algumas medidas de prevenção
Em países nos quais a ocorrência de mastite por micoplasma é mais comum, recomenda-se que sejam feitas culturas de todos os animais que entram na fazendas (principalmente se não é conhecido o padrão de saúde dos rebanhos de origem), da mesma forma que esta medida se aplica para outros agentes de doenças contagiosas de uma forma geral. É recomendado ainda que seja feita uma separação entre animais em crescimento com sintomas respiratórios e as vacas em lactação.
Diagnóstico e controle
Ainda que seja possível suspeitar da ocorrência de Mycoplasma pela ocorrência de casos com as características descritas acima (principalmente a queda súbita na produção e a não resposta ao tratamento), o diagnóstico definitivo deve ser feito pela cultura microbiológica dos animais suspeitos, com o uso de meios de cultura especiais.
Devido à resposta ao tratamento ser muito baixa, uma vez identificado o animal suspeito, deve-se fazer a sua segregação dos demais animais em lactação e a sua ordenha deve ser separada dos resto do rebanho, uma vez que o micoplasma é altamente contagioso. Para a eliminação a erradicação da doença do rebanho recomenda-se o descarte dos animais positivos e a manutenção de severa rotina de controle de entrada de novos animais no rebanho.
Mastite por Mycoplasma bovis no Brasil
Foi publicado recentemente um estudo que identificou a presença do micoplasma como agente causador de mastite em rebanhos do Paraná e São Paulo. Destaca-se o fato do primeiro relato científico sobre a mastite causada por este agente ser de 1996, na região de Londrina, PR.
Neste estudo, foram examinadas 713 vacas do estado do PR e SP, sendo detectados 137 animais com mastite. Dos casos diagnosticados de mastite, foi encontrado o percentual de 5,83% (8 em 137 casos) de animais com mastite clinica causada por Mycoplasma bovis. Foram avaliados ainda tratamentos com oxitetraciclina, tilosina e enrofloxacina. No entanto, não houve resposta aos tratamento durante a lactação, ainda que uma vaca tenha recuperado a sua produção de leite.
Um dos resultados mais importantes deste estudo é a necessidade de implantação de diagnóstico para micoplasma como uma técnica de rotina nos laboratórios que trabalham com identificação de agentes causadores de mastite, visto que este agente pode participar de forma significativa como causa da mastite e que atualmente não está sendo diagnosticado.
Fonte: Pes. Vet. Bras. 21 (4):143-145, 2001.