Desde o início da década de 90, diversos trabalhos de pesquisa têm estudado as relações entre mastite clínica e a reprodução. Os resultados destes vários estudos apontam para o seguinte fato: a ocorrência de casos clínicos de mastite afeta negativamente o desempenho reprodutivo de vacas leiteiras.
Diversas causas podem estar implicadas neste efeito negativo da mastite clínica, como as alterações de intervalo entre cio e diminuição da duração da fase luteínica naqueles animais com mastite clínica causada por microrganismos Gram-negativos. Um fato digno de nota é que a endotoxina produzida por estes microrganismos pode induzir a luteólise e dificultar a concepção, causando morte embrionária precoce. Outra hipótese levantada, é que microrganismos Gram-negativos podem estimular a produção de prostaglandina F2a, o que resulta em regressão do corpo lúteo.
Em termos de desempenho reprodutivo, foi demonstrado que quando uma vaca apresenta um caso de mastite clínica antes do primeiro serviço, ocorre aumento do número de dias para o primeiro serviço e dos dias vazios, em comparação com animais que não apresentam casos clínicos ou que apresentam estes casos clínicos após a concepção.
Diante deste panorama geral, podemos levantar a seguinte questão: a ocorrência de casos subclínicos (aqueles nos quais não ocorrem alterações nas características do leite ou úbere e somente ocorre o aumento da CCS) antes da concepção também afeta o desempenho reprodutivo de vacas leiteiras ? Para responder esta questão, foi desenvolvido um estudo na Universidade do Tennessee de 1986 até 1997. Durante este período foram coletadas amostras de leite mensalmente para diagnóstico microbiológico da mastite e para a CCS. Foram também monitorados durante este período o número de dias vazios, o número de dias para a primeira concepção e o número de serviços por concepção de 752 vacas. Os animais pertencentes ao estudos foram classificados de acordo com o tipo de mastite (clínica, subclínica e animais sadios) e de acordo com o estágio de lactação (antes do primeiro serviço, entre o primeiro serviço e a concepção, e depois da concepção).
Os resultados demonstraram que a ocorrência de mastite subclínica no início da lactação resulta em efeitos negativos sobre o desempenho reprodutivo, de maneira similar aos animais apresentando mastite clínica. Embora o mecanismo exato pelo qual a mastite subclínica afeta a reprodução não seja conhecido até o momento, diversas hipóteses podem ser levantadas para explicar este fenômeno. A mastite subclínica pode alterar os padrões hormonais e o desenvolvimento folicular, uma vez que a inflamação da glândula mamária estimula a liberação de substâncias inibidoras de receptores dos hormônios reprodutivos, como FSH e LH. Além disso, sabe-se que a elevação da temperatura corpórea do animal pode induzir ao aumento da morte embrionária.
Os resultados obtidos apontaram que entre os animais infectados (incluindo mastite clínica e subclínica) não houve diferença no desemprenho reprodutivo quanto ao tipo de agente (Gram-negativo e positivo), indicando que ambos os grupos sofreram os efeitos negativos da mastite sobre a reprodução. Tanto animais com mastite clínica quanto aqueles com mastite subclínica antes do primeiro serviço tiveram aumento do número de dias para o primeiro serviço e do número de dias vazios, em relação aos animais não infectados. Os animais que tiveram mastite após o primeiro serviço não apresentaram desempenho reprodutivo inferior aos animais não infectados, embora para os animais com mastite clínica entre o primeiro serviço e a concepção foi verificado aumento do número de dias vazios e do número de serviços por concepção, em comparação com animais com mastite subclínica. Animais que apresentaram mastite subclínica seguida por casos de mastite clínica foram os que apresentaram as perdas mais severas no desempenho reprodutivo.
Figura 1 – Efeito do tempo de ocorrência do caso de mastite sobre os dias para o 1o serviço, dias vazios e número de serviços por concepção.
Em resumo, mesmo em rebanhos bem manejados, pode ocorrer alta prevalência de mastite subclínica no início da lactação. Os resultados do estudo citado demonstram que a mastite subclínica afeta negativamente o desempenho reprodutivo, e que estas perdas devem ser consideradas juntamente com os demais prejuízos econômicos, como diminuição da produção e alteração da composição do leite, custos de tratamentos, descarte do leite, custos de reposição de animais descartados e custos com veterinário.
Fonte – J. Dairy Sci. 84:1407-1412, 2001.