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Um elo perdido na extensão rural?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 07/07/2000

3 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

Entre todas as matérias e notícias publicadas até agora pelo MilkPoint, uma das campeãs em "ibope" (medida a partir do número de contatos feitos pelos nossos usuários) foi a notícia do Giro Lácteo transcrita do jornal O Popular, de Goiás, em 5/6/00, sob o título de "Técnica motiva produtor de leite", que apresentou a atuação do médico veterinário Jomar Lucas Bezerra em seu trabalho de extensão rural junto a propriedades de leite em Goiás.

Para quem não leu a matéria, Jomar utiliza técnicas de auto-ajuda e motivação visando resgatar o lado emocional e sensibilizar os produtores, criando um ambiente mais favorável à adoção das técnicas de produção. Com este enfoque, transfere-se a iniciativa da mudança ao próprio produtor, aumentando a probabilidade de sucesso na adoção das técnicas de produção. É ele, denominado empresário rural independentemente do tamanho da propriedade ou formação, que deve decidir o seu rumo na atividade. É isto que o projeto procura mostrar.

Sempre se discutiu os motivos dos baixos índices de produtividade do rebanho nacional. É consenso que a tecnologia disponível para se produzir mais do que 1.200 kg de leite/vaca/ano existe há muito tempo no Brasil. Como explicar então os índices medievais de produção de leite com os quais figuramos há décadas nas
estatísticas ?

Com certeza o desamparo ao qual a extensão rural oficial tem sido submetida exerce um papel nestes números. O crédito insuficiente e caro também, assim como a inexistência de uma política agrícola de fomento ao setor. Pode-se lembrar ainda das próprias características da produção de leite no Brasil, sendo voltada para o consumo interno (sem receber os estímulos e as exigências dos mercados destinados à exportação), extremamente fragmentada (aumentando a dificuldade de repasse de informações) e identificada como atividade de subsistência ou complementar a outras atividades. Não se pode esquecer também do reduzido poder de associativismo dos próprios produtores, característica que seria fundamental para obter maior apoio junto aos governos ainda mais em se tratando de uma atividade que conta com centenas de milhares de produtores (e aí a culpa é dos próprios produtores). Por fim, as defasadas normas de qualidade do leite e as dificuldades de fiscalização permitiram a sobreviência e mesmo a proliferação de produtores pouco progressistas e com os pés mais no passado do que no futuro, entre os aspectos mais.

Porém, apesar de todos estes fatores sem dúvida importantes, ainda é surpreendente que, com dezenas de escolas de veterinária, zootecnia e agronomia, além de escolas técnicas, publicações dirigidas e esforços de cooperativas, laticínios, e da própria extensão rural oficial, continuemos nos mesmos patamares de produção de décadas atrás (ou pouca coisa melhor). Será que não falta algo mais para que as técnicas sejam adotadas ?

É provável que sim. No meio urbano, neuroligüistica, auto-ajuda, auto-estima e outros termos mais fazem parte do dia-a-dia de empresários e seus funcionários. Os livros de auto-ajuda e neurolingüistica estão entre as vedetes das editoras. Estes temas são também prato cheio para promotores de cursos e palestras, sem contar o sucesso de mercado dos consultores da área. E porquê ?

As pressões do dia-a-dia, exemplificadas pela competição cada vez maior no mercado de trabalho, violência urbana e outras mazelas mais fragilizam o lado emocional das pessoas, refletindo em sua capacidade de realização profissional. Com isto, técnicas que visem ao resgate deste lado emocional ganham espaço e tendem a ser às vezes mais eficientes do que os treinamentos técnicos.

A vida do produtor rural também é difícil. As pressões também existem, as dificuldades são muitas e a sensação de fragilidade perante ao mercado é uma realidade. Pensem no produtor de leite, cuja possibilidade de controlar o preço de seu produto é muito baixa. Não tem como estocar sua produção e precisa vendê-la a compradores de leite cada vez em menor número, porém mais fortes. Seu poder de barganha é reduzido e não conta com a proteção governamental como ocorre com produtores de outros países. Aliado às dificuldades da própria atividade, sua motivação vai sendo colocada à prova cada vez mais.

Com tudo isto, é possível que a peça faltante para que se consiga criar um ambiente propício ao progresso na produção de leite esteja justamente no resgate da motivação do produtor, gradativamente destruída ao longo desta última década. E isto não vale apenas para o produtor, mas também para os funcionários envolvidos na atividade leiteira.

A própria repercussão da notícia, refletida nas inúmeras solicitações de maiores informações que recebemos por parte de pessoas e entidades ligadas à extensão rural é uma prova disto. Serviços de extensão e consultores devem prestar atenção à esta sinalização. Pode estar justamente nela a chave para tornar seu trabalho mais eficaz.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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