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Quantos e quais permanecerão no leite?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 17/11/2000

4 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

Esta pergunta é cada vez mais abordada pela cadeia do leite, à medida que a competitividade cresce e o número de produtores de leite no Brasil ainda apresenta números estratosféricos: 1.810.041 estabelecimentos que produzem leite, sendo 818.031 produtores comerciais, segundo o Censo Agropecuário de 95/96

É consenso que os atuais módulos de produção tendem a não se sustentar, com margens cada vez mais reduzidas e empobrecimento gradativo de pequenos produtores. Em interessante trabalho conduzido pelo Prof. Adriano Provezano Gomes, da Universidade Federal de Viçosa (MG) e resumido na Revista Balde Branco de outubro de 2000, foram avaliados indicadores de produtividade e econômicos de 2 estratos de produtores de Minas Gerais e São Paulo, composto de 140 produtores considerados eficientes e 101 produtores ineficientes, através de técnica estatística denominada análise envoltória de dados.

Os dados da tabela 1 indicam que os produtores eficientes produzem mais litros por dia, com maior produtividade por vaca, menor custo operacional efetivo e menor custo operacional total em relação à receita bruta, com sobra de capital para remunerar terra, capital e empresário, o que não ocorre com o grupo dos ineficientes, indicando que, pelo andar da carruagem, ou estes mudam, ou desaparecerão mais cedo ou mais tarde do mercado. Este mais cedo ou mais tarde vai depender da relação entre preço do leite e custo variável: se o primeiro for maior do que o segundo, ele dura um pouco mais; caso contrário, desaparece m ais rapidamente visto que não consegue ao menos pagar o seu desembolso mensal.

Tabela 1. Indicadores selecionados para comparação dos produtores
Tabela 1


A partir destes dados, o autor simulou cenários para 2010, considerando apenas produtores eficientes no mercado e utilizando taxa de crescimento médio de 3,3% ao ano. Estes cenários contemplam 4 graus de intensidade de transformação, resumidos na tabela 2 na qual estão descritas a produção média diária, o número de produtores necessários, o número médio de trabalhadores previsto e a variação de capital necessária para que cada cenário se concretize. No cenário de modificações mais drásticas, em 10 anos teríamos apenas 107.748 produtores, com redução de 13,5% ao ano, 425.604 postos de trabalho (redução de 6,2% ao ano) e necessidade de aporte de capital da ordem de 52,4%.

Tabela 2. Resumo dos quatro cenários simulados para 2010
Tabela 2


Há várias considerações que podem ser feitas a partir dos interessantes dados levantados e simulados pelo trabalho. O ponto de partida é reconhecer que os atuais níveis de produção e produtividade não se sustentam "ad eternum" para quem vive de leite.

No entanto, vários aspectos podem contribuir para que a velocidade de redução no número de produtores não ocorra como previsto, como esperado ou até mesmo como desejado por muitos.

Em primeiro lugar, a realidade do país não abre muitas perspectivas para que produtor que possa ser alijado da atividade alcance postos de trabalho decentes no meio urbano, ou mesmo que altere as características e o escopo de sua exploração agropecuária de forma significativa, de forma que o apelo para mudar de atividade é, via de regra, baixo. Além disto, o grau de utilização de insumos é reduzido (estimado pela própria eficiência de produção) e o custo variável tende a ser baixo, ou seja, ainda que o resíduo não remunere a terra, o capital e o empresário, consegue-se ao menos honrar o desembolso mensal. Ainda, é possível especular que este produtor precise de bem menos dinheiro para viver do que se estivesse no meio urbano (geralmente produz vegetais, frango, tem água, etc). Por fim, exceto em relação ao cenário A do trabalho relatado, todos os demais envolvem aporte de capital, para o qual são necessários programas de acesso a crédito e extensão rural, cuja disponibilidade dependerá de inúmeros aspectos.

Há que se considerar, por outro lado, a importância da contrapartida social da eventual redução drástica do número de produtores de leite. A redução nos postos de trabalho é considerável. Analisando os potenciais efeitos negativos deste cenário, faz sentido se supor que o governo procure alternativas para fixação deste produtor no campo, como mencionou o Ministro Raul Jungmann em recente entrevista à Revista Veja. Estas alternativas podem vir na forma de crédito a juros subsidiados e programas de extensão e treinamento, por exemplo, certamente minimizando a redução do número de produtores de leite.

Em resumo, embora seja plausível especular que haverá redução do número de produtores de leite nos próximos 10 anos, quem apostar em uma redução maciça e drástica, com aumento significativo do módulo de produção, pode estar escolhendo o cavalo errado pelos motivos acima expostos. Pela atual circunstância e pela variável social que a produção de leite representa em países como o Brasil e Índia, e pode vir a representar em países como a China e Sudeste Asiático, todos estes com baixos indicadores sociais, a estratégia escolhida pode visar justamente manter o maior número de pessoas no campo, caso resulte em menor prejuízo para a sociedade.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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