ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Goiás dá o exemplo

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 24/11/2000

4 MIN DE LEITURA

0
0

Marcelo Pereira de Carvalho

A grande mudança da década passada na geografia do leite, sem dúvida alguma, está no deslocamento de parte da produção de leite para o Centro-Oeste, especialmente para o estado de Goiás. De 1994 a 1998, a produção saltou de 1,409 bilhão de litros/ano para 2,489 bilhões, um aumento de 76,5%, a ponto do estado se tornar o 2º maior produtor do país. Em 1985, a produção foi de 1,05 bilhão, representando crescimento de 137% neste período, ou 10,5% ao ano.

Os números da evolução não param aí. O aumento da produção foi obtido mesmo ao se verificar que o número de vacas ordenhadas caiu, entre 1985 e 1999, de 1,578 milhão para 1,514 milhão, sendo o crescimento da produção fruto da elevação da produtividade por vaca de 669 litros para 1404 litros/ano. Ainda, o número de ordenhadeiras mecânicas instaladas subiu de 183 para 4272 e a granelização, de praticamente zero em 1985, passa hoje de 50% (dados obtidos em matéria de O Popular, https://www.milkpoint.com.br/giro/detalhe.asp?giroid=518).

Estes dados inequivocamente demonstram uma rápida evolução, ainda que os índices técnicos estejam muito aquém do ideal (como no restante do país) e que, nos últimos 2 anos, a produção tenha patinado, ficando abaixo de 2,12 bilhões em 1999 e com previsão de atingir 2,2 bilhões neste ano.

E porque isto ocorreu ? Os mais céticos dirão que a evolução ocorreu fundamentalmente em função dos financiamentos concedidos através do FCO, que permitiram a aquisição maciça de animais da metade da década passada até mais ou menos 1999. Com juros baixos e dinheiro relativamente fácil, produtores locais adquiriram animais em profusão, muitas vezes em situação sanitária no mínimo duvidosa e inadequados às condições de alimentação e manejo locais. O resultado teria sido um aumento momentâneo na produção e posterior queda, justamente coincidindo com o fechamento da torneira do crédito farto e com a necessidade de pagar os empréstimos contraídos.

Outros argumentarão que Goiás apresenta topografia favorável, baixo custo da terra, maior disponibilidade de grãos e subprodutos e um produtor com maior embasamento agrícola, facilitando a adoção de conceitos como a tecnificação de pastagens via adubação e irrigação e produção eficiente de milho. Tudo isto leva a menores custos de produção.

Ainda, poderia-se apontar a relativa falta de tradição do estado em pecuária de leite, fazendo que com os produtores ainda estejam (ou estivessem) em "lua-de-mel" com a atividade, carregados de esperanças que produtores paulistas e mineiros, por exemplo, já não têm com tanta veemência.

Esta conjuntura favorável, aliada evidentemente ao crescimento vertiginoso do leite Longa Vida, permitindo o transporte de leite fluido por distâncias maiores, ocasionou o "boom" da produção em Goiás, atraindo simultaneamente laticínios e empresas do setor, fazendo com que, hoje, Goiás seja a "Nova Zelândia" do Brasil, exportando 90% da produção para outros estados.

No entanto, um dos fatores mais importantes na ascensão de Goiás tem sido menos analisado do que merecesse. Trata-se da organização e engajamento dos produtores, materializados nas ações da FAEG (Federação da Agricultura de Goiás). Conduzida por lideranças quase que unânimes e que parecem compreender bem a inserção do produtor de leite no cenário socio-econômico atual no Brasil e no mundo, a FAEG tem conseguido criar um discurso unificado, raro de se ver entre produtores de leite.

Se os números não bastam, são vários os indícios do sucesso desta empreitada na defesa da produção goiana, sendo o principal deles a ascensão de um produtor de leite - Leonardo Vilela - à Secretaria da Agricultura de Goiás, tornando-se hoje uma das principais vozes do setor leiteiro no Brasil e colocando a atividade na pauta de prioridades do governador de Goiás, como tem sido noticiado.

A articulação política e a agilidade da FAEG tem sido demonstrada em diversas ocasiões, sendo a mais recente a denúncia de cartelização dos laticínios, forçando os preços do leite para baixo, embora possam ser apontados muitos outros exemplos, como a realização de eventos com milhares de produtores.

A organização das bases gera ambiente favorável a ações como a relatada em 17/10, quando então os produtores da Centro-Leite, cooperativa que reúne outras 9 cooperativas, decidiram assumir a administração da fábrica da Paulista em Itumbiara.

Em artigo anterior, comentei que da categoria mais indefesa (produtores) não se pode esperar outra postura que não aquela que envolve atenção máxima a tudo o que ocorre no setor, além de rapidez, agressividade (no bom sentido) e coesão em suas ações. Esta postura tem sido a regra em Goiás.

Há que se fazer justiça ao bom trabalho realizado em outros estados (Minas Gerais e Paraná são os que me vêm à mente em primeiro lugar). De qualquer forma, é inegável que a atuação dos goianos têm sido destacada, mostrando que não é só de crédito farto e baixos custos de produção que se faz uma pecuária leiteira de sucesso. Coesão da classe e ações efetivas são também fundamentais. E nisso Goiás dá o exemplo.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures