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Depois da guerra fria, a guerra comercial

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 04/08/2000

3 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

Nas últimas semanas, acompanhamos o noticiário da guerra comercial travada entre Brasil e Canadá, tendo como pivô o caso das empresas de aviação Embraer, brasileira, e sua maior competidora, a Bombardier, canadense. Para refrescar a memória de todos, a disputa resume-se à alegação canadense de que a empresa brasileira teria sido favorecida por incentivos creditícios oferecidos pelo programa Proex, destinado aos exportadores nacionais e que teriam prejudicado as vendas da rival do hemisfério norte. Estes incentivos ocorrem na forma de descontos oferecidos pelo Brasil nos juros de financiamentos disponibilizados aos clientes internacionais da Embraer.

O caso foi parar nas salas da OMC, podendo ter como conseqüência represálias comerciais por parte do Canadá, afetando, por exemplo, as taxas de importação de produtos brasileiros neste país. Além disto, os canadenses querem ser recompensados por negócios perdidos e prejuízos decorrentes destes incentivos brasileiros.

Trata-se de uma feroz "guerra de terno e gravata", como bem definiu Benjamin Steinbruch em sua coluna de 1º de agosto na Folha de SP, onde cada lado está defendendo bem mais do que a contenda Embraer x Bombardier. Em jogo, está a geração de empregos, o crescimento da economia e a competitividade dos países no cenário internacional, que aliás apresenta uma dualidade aparentemente contraditória: se, por um lado, os mercados são cada vez mais abertos (a globalização, em teoria), por outro a guerra de bastidores se intensifica e se sofistica (barreiras sanitárias, barreiras ecológicas, barreiras relativas à exploração de mão-de-obra infantil, etc), a ponto de exigir destes "soldados" conhecimento, estratégia e agressividade não necessários à época da reserva de mercado.

Mais ainda, a luta pelo mercado vale (e muito) para todos os participantes, independentemente do status econômico. O Canadá, que no episódio Embraer/Bombardier mostrou ao que veio, foi recentemente eleito o melhor país do mundo para se viver. Nem por isto nosso rico oponente nos alivia nesta contenda. O Canadá quer reaver seu prejuízo, não interessa quem está do outro lado. Mais do que isto, em última análise, quer garantir a prosperidade de sua economia e sua sociedade, esta mesma prosperidade que, hoje, coloca o país no primeiro lugar do ranking mundial de qualidade de vida. Por tudo isto, citando novamente Steinbruch, é que "não há lugar para anjos no mercado internacional".

E quais as lições que nós, envolvidos com a produção agrícola, em especial pecuária de leite, podemos tomar deste episódio ? A primeira - e que serve de base para as demais - creio já ter passado nas linhas acima. Trata-se da sofisticação e da importância cada vez maior que as discussões comerciais de âmbito internacional exercem no nosso futuro. Em segundo lugar, é pertinente notar que, na briga acima, um país desenvolvido vem protestar veementemente na OMC, contra subsídios oferecidos por um país em desenvolvimento. Qualquer pessoa sabe que, via de regra, convivemos com o oposto: os países mais pobres são os que mais sofrem com taxações, barreiras e subsídios impostos pelos países mais ricos, especialmente em relação aos produtos agrícolas. A cadeia do leite é rica em exemplos nesta linha: leite fortemente subsidiado na Comunidade Européia e subsídios à exportação dos EUA, entre outros. O próprio Canadá está sendo acusado pelos EUA de subsidiar a produção de leite e, com isto, prejudicar as exportações.

É possível ir além nesta análise. A visibilidade da agricultura tem sido cada vez menor junto ao grosso da sociedade que, cada vez mais, é urbana e pouco identificada com o campo. Com isto, o conhecimento e a sensibilização deste público - formador de opinião e com peso político considerável - no que se refere à situação dos produtores rurais vai minguando, contribuindo para o enfraquecimento desta importante facção da economia junto aos nossos líderes, incluindo aí os "soldados de terno e gravata", que podem acabar ficando desarmados para defender os interesses de quem está no campo.

Somando-se todas estas ponderações, o que realmente fica de lição é a necessidade permanente de articulação, de embasamento e agressividade comercial de todos aqueles envolvidos com agricultura, sob o risco de sermos passados para trás nesta batalha, na qual estamos do lado mais fraco e vulnerável.

Para quem não estiver convencido desta constatação, pense que o país mais privilegiado do mundo está com seus melhores soldados, no momento, defendendo com unhas e dentes junto à OMC uma empresa de aviação local, prejudicada pelo subsídio brasileiro. Será que não é por esta e muitas outras que o Canadá é o Canadá?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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