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Criticar Goiás não é o caminho

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 03/08/2001

4 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

Que o mercado de leite passa por um momento difícil, todo mundo sabe. Aumento na produção e queda no consumo são fenômenos complicados em qualquer atividade, quanto mais quando se produz um alimento perecível e quando quem o produz dispõe de poucos meios para proteção. Esta situação fica pior ainda quando existem apenas alguns grandes compradores de leite e milhares de vendedores para fornecer o produto.

A novidade é que, além do problema de oferta e de demanda e da oligopolização do setor laticinista, produtores apontam um outro vilão: os próprios produtores! Trata-se do Estado de Goiás e, mais especificamente, da Centroleite, cooperativa que hoje recebe 40% da produção do Estado, mas que não tem fábrica própria, negociando o leite diretamente com as compradoras de leite, especialmente Parmalat e Nestlé.

Ao que consta, o grande volume de leite captado pela cooperativa (a produção em Goiás cresceu 20% neste ano) revela-se, na verdade, uma faca de dois gumes: quando falta leite, trata-se de um eficaz instrumento para elevação do poder de barganha do produtor. Porém, quando sobra leite, como agora, a situação se reverte, ficando a cooperativa com a incumbência nada simples de desovar quantidades cada vez maiores de leite. A oferta é represada até certo ponto, mas logo rompe-se o dique e a inundação de produto barato ocorre, levando junto quem está na frente (no caso, o sudeste do País). Frente a esta situação, a Centroleite está buscando recursos para a construção de uma fábrica própria, deixando de ficar à mercê do mercado.

Independentemente se esta decisão é ou não correta e oportuna, gostaria de me ater à análise das críticas feitas a Goiás e sua principal cooperativa de produtores de leite. Se existiu alguma coisa de positivo nos últimos 10 anos em relação à organização de produtores, foi a mobilização feita em Goiás, materializada em pequenas associações locais, nos sindicatos e na sua Federação da Agricultura. Se há um local no País onde a pecuária de leite tem voz política, este local é Goiás. E os resultados destas ações já são do conhecimento de todos, sendo sempre interessante dizer que Goiás pulou para a segunda colocação na produção de leite nacional e apresenta os maiores índices de crescimento do País quando se fala em leite.

Mais importante ainda é que, ao mesmo em tempo que as bacias tradicionais assistem ao fechamento, venda ou encolhimento das cooperativas, em Goiás ocorria o oposto: produtores se mobilizavam para constituir uma nova cooperativa, justamente a atual "vilã" do mercado, a Centroleite. E isto não é pouco: em reunião realizada nesta semana em Piracicaba, cujo objetivo era justamente discutir mobilização de produtores, um dos únicos consensos foi que se existe um caminho para dar sustentabilidade ao produtor rural, este caminho passa pelas cooperativas, que são a única forma do produtor alcançar o varejo. Aqui, aliás, vai um dado importante: de acordo com dados passados pelo Prof. Sigismundo Bialoskorski Neto, do Pensa/USP - Ribeirão Preto, hoje a produção primária representa 20% da agregação de valor no agribusiness mundial, contra 71% do processamento e da distribuição. A má notícia é que a precisão para 2028 sugere cenário ainda pior: 14% para a produção primária e 77% para o processamento e distribuição. É neste ramo que estará o dinheiro. Daí a significância da Centroleite (e de outras cooperativas que estão se reestruturando): representam uma possibilidade do produtor receber uma fatia maior do bolo.

Posto isto, tem me surpreendido o fato de muitos produtores das regiões tradicionais, mais afetadas pelo preço de Goiás, depositarem a culpa do atual momento no crescimento da produção e na "ousadia" goiana ao tornar sua cooperativa um "player" de peso no mercado, indo "contra a tendência". Parece até que torcem pelo seu fracasso... O que todos esquecem é que por não conseguir passar por cima de diferenças pessoais e regionais, o setor produtivo se enfraqueceu, perdeu e vem perdendo representatividade em relação ao restante da cadeia. Esquecem também que o principal beneficiado por esta desunião, desinformação e desorganização dos produtores é justamente aqueles que querem ver o produtor desunido, desinformado e desorganizado...

É evidente que, neste momento, a Centroleite e seus produtores vivem dificuldades principalmente em função do seu porte atual, da ausência de fábrica e da caracterização do mercado, com poucos e grandes compradores de leite. É também evidente que seu leite afeta o preço do leite nas bacias tradicionais, ainda mais nestas condições. Mais além: é perfeitamente plausível que se questione o seu modelo de negócio.

Mas as críticas e preocupações devem parar por aí, não se tranformando em uma competição dissimulada entre estados ou regiões, cujos perdedores serão os próprios produtores brasileiros. Nesta discussão sobre o futuro do leite em São Paulo, Rio de Janeiro e Sul de Minas, talvez estivéssemos em melhor situação se prestássemos mais atenção ao que ocorre e vem ocorrendo em Goiás no que se refere à mobilização de produtores, em vez de simplesmente culpá-los pelo mau momento do mercado. Por acaso fazemos melhor?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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