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CPIs do leite: a parte difícil virá depois

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 09/11/2001

4 MIN DE LEITURA

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O leite nacional assiste à sua maior exposição política desde há muito tempo. Deputados de diversos estados se mobilizam para investigar como funciona o agronegócio do leite no Brasil, culminando com a organização de CPIs nos estados mais afetados e/ou cuja pecuária tem um peso político ou econômico mais significativo.

O setor acompanha de perto o desenrolar das investigações, incluindo desde os mais céticos (“os deputados não entendem nada no assunto e querem ganhar votos”) até os mais esperançosos (“vão resolver o problema do leite, tabelar o preço, etc.”).

O problema, na realidade, é de outra natureza e está ligado aos obstáculos estruturais da cadeia do leite. Sejamos contra ou a favor das CPIs, céticos ou esperançosos sobre sua atuação, o fato é que chegamos a esta situação porque a maneira pela qual o agronegócio do leite funciona no país atingiu um limite. Os problemas crônicos foram se agravando com o tempo e, nesta última entressafra, finalmente afloraram. Após a liberação do mercado, não se conseguiu (produtores e indústrias) chegar a um modelo minimamente profissional de relacionamento e, agora, nos resta aguardar o desfecho das investigações e – tarefa difícil – tirar disso tudo propostas que possam nos colocar no caminho de outras cadeias do agronegócio, e não na via oposta.

É evidente que há parcela de culpa em todos os elos. No âmbito do produtor, as cooperativas foram minguando e com elas ótimas chances de garantir ao produtor um lugar mais perto do consumidor. A prova desta culpa está no fato de que, agora, todos são “cooperativistas de carteirinha”. Embora seja uma crítica, por outro lado não deixa de ser uma esperança, valendo-me do ditado “antes tarde do que nunca”. Também, a falta de comunicação entre produtores (algo difícil, sem dúvida, em um setor tão heterogêneo), ao menos no passado, fragmentando a força embutida em milhões de empregos gerados e hectares ocupados, abriu uma lacuna importante para que se estabelecesse o cenário atual da pecuária de leite, com a evidente distinção de forças entre os elos. Aqui, novamente, a crítica é acompanhada de uma expectativa positiva, uma vez que nota-se claramente uma movimentação muito mais intensa de produtores que antes pouco olhavam para fora de suas porteiras. No MilkPoint, temos recebido inúmeros artigos extremamente interessantes, geralmente publicados na seção Espaço Aberto, além de Cartas do Leitor, que mostram que o setor está amadurecendo e discutindo idéias.

Porém, até pela própria estrutura econômica e administrativa, cabe às indústrias uma grande parcela de culpa na situação atual. Olhando de fora, dá a impressão que estas parecem gostar de viver sob fortes emoções, pilotando uma gangorra de expectativas, que nos fazem ir do céu ao inferno em questão de dias. Regras claras, planejamento da captação, contratos antecipados, monitoramento constante dos números envolvendo a produção e o mercado, tudo isto parece ainda distante do dia-a-dia das empresas. Neste ambiente, não é surpresa nenhuma que, de uma hora para outra, nos vemos afetados por um inusitado excesso de leite. Claro que, a não ser que exista uma forte e pouco provável intervenção estatal, não ficaremos livres das regras de mercado. No entanto, da forma como operamos, ficamos bem mais suscetíveis a elas, assim como quem está debilitado irá sofrer mais os efeitos de uma determinada doença.

E vejam que os resultados econômicos da própria indústria não têm sido tão bons quanto poderiam ser, ou quanto se supõe. Vários laticínios estão ampliando a linha de produtos (ver matérias sobre a Shefa e sobre a Itambé), visando não depender tanto do mercado de lácteos.

A resolução da situação momentânea de mercado é relativamente simples, ainda que dolorosa pelo tempo de recuperação. Exportações emergenciais, redução dos preços no varejo, inclusão do leite em programas sociais e o próprio desestímulo à produção de leite em diversas regiões voltarão a regular a oferta em algum momento, mas não resolverão o problema da cadeia do leite no país, que passa por grandes questões como a análise da viabilidade de intervenção do Estado (preços mínimos, etc.), a revitalização do cooperativismo, a padronização da matéria-prima, a educação do consumidor, o perfil dos produtos lácteos comercializados e as margens que propiciam aos diversos elos e outros pontos pouco confortáveis.

É evidente que os deputados não resolverão o problema da cadeia do leite no Brasil, nem é esta a sua função nas CPIs. Porém, podem prestar um bom serviço se conseguirem esclarecer e documentar várias das questões que envolvem a comercialização do leite e que nem sempre produtores e mesmo o Estado acompanham de perto. Em um setor carente de informações, trata-se de um avanço. Aos críticos contumazes, é preciso lembrar que chegamos a esta situação pela incapacidade do setor em resolver os seus problemas. De qualquer forma, sejamos realistas, este seria apenas o primeiro passo de um caminho bastante longo e incerto, cujo objetivo final é definir onde queremos chegar produzindo leite neste país.

O problema não está nas CPIs ou em suas conclusões (muitas das quais todos nós já conhecemos), mas sim o que virá depois delas. Tudo indica que o setor lácteo terá muito trabalho pela frente.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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JOSE RONALDO BORGES

CUIABÁ - MATO GROSSO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/11/2001

Os produtores também têm que trabalhar sob a ótica de mercado, procurando reduzir a oferta quando o preço está baixo. E não adianta pedir ao pequeno produtor que reduza a produção. A redução tem que ser feita pelos médios e grandes produtores através da redução de concentrado, que está muito caro, sem comprometer a mantença do animal.

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