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Cooperativas: fusões e confusões

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 08/12/2000

6 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

O ano 2000 foi um ano movimentado na pecuária de leite do Brasil. Foi o ano em que o Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite foi de fato debatido em todas as esferas ligadas ao setor. Foi o ano em que os preços pagos ao produtor, pelo menos durante o inverno, vislumbraram alguma recuperação, ainda que tenha durado pouco tempo. Foi o ano em que as importações deram uma folga, a Itambé se tornou S.A. e, finalmente, foi o ano em que a New Zealand Dairy Board fincou o pé no país, com reflexos até então não claramente percebidos para o setor.

Há, por outro lado, setores em que se esperava muita movimentação, mas quase nada de novo ocorreu. Por exemplo, dava-se como certo que algumas cooperativas de porte não chegariam ao final do ano sem anunciar uma parceria com um sócio-capitalista de peso no mercado. Leite Paulista e Itambé, por exemplo, anunciaram ao longo do ano que estariam em busca de parceiros estratégicos, mas quem de fato anunciou a "parceria" foi a Vigor, com a entrada da New Zealand Dairy Board.

Mas qual a real importância, para as cooperativas, de parcerias com empresas capitalizadas ? Não é possível competir sem este aporte de capital? As várias notícias que publicamos neste ano envolvendo fusões e aquisições de cooperativas em outros países, indicam que quem quiser entrar com peso no mercado internacional ou mesmo no mercado nacional precisa ter bala na agulha. Veja algumas delas:

Kiwi compra outra companhia na Nova Zelândia

Em 24/11, noticiamos que a Kiwi Cooperative Dairies, uma das maiores processadoras da Nova Zelândia, comprou a Kaikoura Cooperative Dairy Co., uma outra cooperativa, com aprovação de 97,1% dos cooperados da Kaikoura.

Cooperativa de leite e organização de produtores juntam forças nos EUA

Em 23/11, publicamos que dois importantes grupos do setor leiteiro dos EUA uniram suas forças através de um acordo que deverá beneficiar todos os seus membros. A Dairy Farmers of America, Inc. (DFA) e a National Farmers Organization (NFO) assinaram um acordo que determinou a formação de uma agência comum de comercialização do leite. O acordo foi designado para aumentar a eficiência e diminuir os custos de operação para os membros de ambas as organizações.

União da Sancor e Milkaut à vista na Argentina

Dois dias antes, em 21/11, publicamos que depois de firmarem um acordo para baixar os custos e ganhar novos mercados, as empresas argentinas Sancor (cooperativa) e Milkaut estão com intenção de unir suas estruturas comerciais, objetivando o começo formal de suas operações em maio de 2001. A sociedade Sancor Milkaut SA pretende comercializar seus produtos não somente no mercado interno, mas também no mercado externo.

Aquisições na Nova Zelândia continuam a consolidar a produção industrial de lácteos

Em 31/10, anunciamos que a indústria de lácteos da Nova Zelândia continua trabalhando no sentido de se consolidar mundialmente. Além da aquisição da Vigor, pela New Zealand Dairy Board, foi anunciado no mês passado a aquisição da Peters and Brownes, na Austrália, pela Kiwi Dairies. Essas aquisições demonstram a extensão pela qual a agricultura está se consolidando ao redor do mundo e o avanço de um cenário global altamente competitivo. A Kiwi pode comprar de 50 a 100% da Peters e Brownes, que é o quarto maior processador de alimentos lácteos da Austrália e o segundo maior produtor de sorvetes do país. A Kiwi, que comprou também a Kaikoura Co-op Dairy, que era a menor cooperativa da Nova Zelândia, é a segunda maior cooperativa de lácteos do país, com cerca de 40% do fornecimento de leite. Suas vendas totalizam US$1,4 bilhão.

Cooperativas de leite entram entre as 100 mais ricas dos EUA

Em 27/10, reportamos que o National Cooperative Bank relacionou as 100 cooperativas mais ricas dos EUA, fazendo uma lista denominada de Top 100. A avaliação foi baseada no rendimento das empresas. Os primeiros lugares da lista apresentaram 4 empresas do ramo agropecuário, sendo 2 delas cooperativas de leite. Da lista final constavam 43 cooperativas, com seu rendimento combinado alcançando quase 50% do valor total agregado de todas 100 empresas. Dessas 43 empresas, 15 são cooperativas de leite.

Maior cooperativa de lácteos do Canadá adquire concorrente

Em 16/10, noticiamos que a Agropur, maior cooperativa de lácteos do Canadá comprou a empresa Lactel Group, a quinta maior cooperativa do país. Os detalhes sobre o acordo não foram divulgados.

Land O´Lakes e Farmland anunciam joint venture no setor de rações

Em 20/07, a união entre cooperativas envolveu a produção de ração. As companhias norte americanas Land O´Lakes e Farmland Industries anunciaram um acordo para fazer uma joint venture, com a formação de uma companhia denominada de Land O´Lakes Farmland Feed LLC, a fim de consolidar todos os aspectos dos negócios na área de rações de ambas as empresas. Essa sociedade formará a maior companhia de rações da América do Norte.

Land O´Lakes e Alto Cooperative estudam sociedade em fábrica de queijos

28/06/00: duas grandes cooperativas dos EUA, Alto Dairy Cooperative e Land O´Lakes Inc., estão discutindo projeto que envolve construir uma grande fábrica de queijos em Wisconsin, com expectativa de produção em escala mundial.

Maior cooperativa dos EUA e Nova Zelândia tornam-se parceiros

22/05/00: a New Zealand Dairy Board (NZDB), da Nova Zelândia, assinou um contrato de sociedade com a cooperativa norte-americana Dairy Farmers of America (DFA), constituindo uma empresa chamada DairiConcepts, a qual irá produzir e vender queijo e ingredientes lácteos, atuando no mercado americano, que reúne uma dos maiores e mais sofisticadas facções da indústria de processamento de alimentos. A nova companhia irá combinar os recursos de tecnologia para queijos da NZDB e ingredientes lácteos neo-zelandesa NZMP Key Ingredients, com os recursos de produção e marketing da empresa americana.

Cooperativa australiana estuda aliança com Danone

12/05/00: tudo indica que a Parmalat Finanziaria (Itália) realmente perdeu a chance de associar-se a cooperativa australiana Dairy Farmers, cujas atenções agora estão voltadas para a firma francesa Danone S/A. A cooperativa, a qual tem 38% do mercado de iogurte da Austrália, conseguiu a licença para produzir iogurte Danone para o continente. O diretor da Dairy Farmers, Alan Tooth, disse que a relação entre as duas empresas tem se mostrado bastante positiva, devendo ocorrer uma aliança futuramente.

Note que pesos pesados como a Dairy Farmers of América e a Land O´ Lakes, nos EUA, estão buscando associações nacionais e internacionais para melhor se posicionarem na briga por um mercado cada vez mais competitivo. O mesmo ocorre com a New Zealand Dairy Board ou com nossos vizinhos argentinos da SanCor. Estas associações assumem forma variável: há fusões, há aquisições de empresas S.A por cooperativas e vice-versa, há joint-ventures.

No Brasil, a história parece ser diferente. Apesar do país ser considerado um dos que apresenta maior potencial de crescimento em relação a consumo de leite, um dos custos de produção mais competitivos do mundo e marcas fortes de cooperativas, as parcerias, fusões e aquisições ainda não aconteceram, ao menos entre os grandes do setor. Restaram apenas as confusões, como a briga da Paulista com suas filiadas, ficando a dúvida se esta situação não é um prenúncio de uma desintegração gradativa da cooperativa mais importante do estado (pelo menos a notícia da provável venda de duas unidades da cooperativa para a Danone sugerem esta possibilidade).

O fato é que a maior parte das cooperativas não acompanhou as rápidas mudanças no cenário nacional e internacional ocorridas desde 1990 e, daqui em diante, dificilmente serão competitivas, ainda mais se contabilizados o agigantamento de multinacionais como a Parmalat, que adquiriu grande número de empresas na década, e a própria NZDB, que continua uma incógnita. Porém, carregam marcas fortes e desfrutam em geral do apoio dos produtores, ou seja, tem presença no mercado e força na captação da matéria prima. Contudo, para que, no futuro, as cooperativas de leite possam manter ou, de forma mais realista, recuperar o papel de destaque que já tiveram no setor, será necessário deixar diferenças de lado e alinhavar acordos que visem garantir maior competitividade, como tem ocorrido com cooperativas de outros países em diversos setores do agronegócio. Antes que seja tarde.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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