Você já percebeu que o verbo “inovar” se transformou em um dos mais pronunciados quando se debate o crescimento das empresas? Mas como inovar, isto custa caro?
Recentemente, em conversa com um grupo de empresários de pequenas empresas familiares, ouvi que se sentem pressionados, quase que torturados em colocar em prática o processo de inovação. Buscam em diferentes fontes na web, visitam feiras pelo país, percorrem lojas dos canais que são atendidos por suas empresas, na louca tentativa de ter aquela ideia incrível que poderá mudar o rumo de suas empresas. Muitas vezes recebem fornecedores com ótimas ideias, tendências, exemplos de projetos que foram sucesso em outros países, mas na maior parte das vezes, será necessário investir altos valores para obter o tal resultado.
Mas a verdade é que a inovação verdadeira não acontece com frequência e dá margem para muitas outras dúvidas além da maior, “faço isso agora?”.
Façamos um experimento. Separe alguns minutos e faça uma lista das inovações reais do setor lácteo nos últimos anos. Me refiro a fatos realmente relevante para o mercado. Obteve uma lista longa?
Faça o mesmo com outros setores correlatos. Compare-as. Fala-se tanto em “unicórnios”, empresas com valor de mercado acima de US$ 1 bi, mas quantas delas passam perto da sua fábrica ou fazenda? Normalmente, estão ligadas a startups incríveis de tecnologia, mobilidade urbana, comércio eletrônico.
Agora, novamente, por favor, faça outra lista. Dessa vez com empresas do seu setor que crescem, destacam-se, gerando sua admiração. Depois, responda-me: o que essas empresas fizeram para que alcançassem sua admiração? De que tipo de inovação estamos falando? Produtos, processos, pessoas...
Certo que, para quem está do lado de fora, criamos nossas opiniões por meio do que conseguimos enxergar daquelas empresas, do resultado de imagem de mercado, embalagens, produtos, campanhas, balanços publicados, conversas ou entrevistas com os principais executivos ou analistas de mercado. E não sabemos os detalhes internos da operação que desembocaram em todo esse sucesso. Quais foram os acertos, os erros, quantas vezes ocorreram e quais foram as tais reais inovações. Nos cobram novos produtos, mas é isso que tem mudado a vida da maior parte das empresas?
Posso garantir que não foi apenas uma ação ou o lançamento de um novo produto isoladamente que gerou tanto barulho. Foram necessárias várias atitudes gerenciais que contribuíram para tal momento e a inovação deve ter se expandido por toda a empresa, para os processos produtivos, operação e logística, estrutura de vendas e marketing, relacionamento com os clientes, consumidores e colaboradores.
Então, como a inovação poderá trazer o resultado de que tanto precisamos?
Pode ser que a solução não esteja nos lugares que está procurando. Pode ser que seu olhar esteja por demais direcionado para as consequências, para os seus atuais problemas e não para as causas. Saber identificar as causas é um diferencial estratégico que poderá gerar competências que poucas empresas que concorrem com a sua possuem. Mas saiba decifrar e realmente definir quem são seus verdadeiros concorrentes, o que os diferencia, o que faz com que tenham melhores resultados que a sua, antes de sair fazendo análises de qualquer empresa.
Quer um exemplo? Trabalho com mercado lácteo há pouco mais de 30 anos e sempre procurei trazer o novo para as empresas por onde passei. Desses tempos, ficava frustrado por não dispormos, naquela época, de tecnologia capaz de detectar o quanto de vitaminas era perdido por conta dos efeitos da luz sobre as embalagens. Não me conformava com a falta de competência ou de tecnologia capaz de detectar as perdas organolépticas dos produtos frescos em pouquíssimos dias. Mas isso não era problema para a marca, pois como havia mais oferta do que procura e poucos concorrentes, esse tipo de inovação não era tão valorizado. O discurso da qualidade era obtido com muito investimento em publicidade. Mas sobre a falta de comprometimento e a entrega de um produto que perdia qualidade durante sua validade, ninguém falava disso.
O consumidor mudou, exige outros padrões de qualidade e busca alimentos saudáveis, marcas que entreguem o que prometem em suas embalagens. Por sorte, hoje o mercado dispõe de tecnologia capaz de não só orientar as empresas como resolver essa questão, como inclusive contribuir para o aumento da validade.
Assim, em épocas de ditadura da inovação, garantir que os produtos lácteos estejam protegidos em suas embalagens, desde o envase até o momento do consumo, também é um modo de inovar. Informar aos seus consumidores os cuidados que você tem com seus produtos, a preocupação com a qualidade, muito além de seus concorrentes, pode ser um processo de inovação capaz de gerar um novo momento para sua empresa.
Novamente, pensar em inovar significa abrir ouvidos e olhos, frequentar varejos, feiras de negócios, mas aquelas a que normalmente você não iria, por não ter nada a ver com sua atividade. É buscar no mercado farma, bebidas, cosméticos e outros, inspirações para entender aqueles que demandam tanta inovação. Os consumidores.
Eles mudaram, sofisticaram-se, vivem com a alternância de crise, empregabilidade, crédito, acesso a fontes internacionais de informação, não querem mais ver TV aberta, ler jornais e revistas impressos, passam o dia todo ligados com o que ocorre ao redor do mundo em uma telinha com pouco mais de alguns centímetros. Compram alimentos pela internet, mas ainda continuam frequentando supermercados tradicionais, queijarias, feiras, bares e restaurantes, e cada vez mais buscando lojas diferenciadas para viver uma experiência única.
Inovar não significa apenas lançar novos produtos, mas atualizar seus processos de vendas, distribuição, novos canais, inovar em sua comunicação, em suas embalagens, na garantia da qualidade de seus produtos, criar novos modelos de negócios, abrir espaço para o novo real e não apenas andar de lado, como a maioria faz. Não que seja tão ruim, mas pode não trazer o resultado que você tanto espera.
Pense nisso!