A rentabilidade dos rebanhos leiteiros depende do desempenho reprodutivo das vacas, devido aos efeitos da reprodução na produção de leite/vaca/dia e nas taxas de descarte voluntário (produção de leite, idade e excedente do rebanho) e involuntário (doença, lesão, infertilidade, morte) (Plaizier et al., 1997).
Problemas de saúde e reprodutivos, como o aborto, também levam a perdas econômicas das fazendas leiteiras.
O aborto resulta em perdas econômicas consideráveis para os produtores, especialmente aqueles abortos que ocorrem durante a fase tardia da gestação. O aborto, durante a gestação precoce normalmente leva a um aumento do intervalo de parto, enquanto nos estágios finais da gestação, o aborto leva ao descarte prematuro das vacas, resultando em aumento do custo de reposição (Thurmond et al., 2005).
Além do descarte precoce das vacas (Thurmond e Hietala, 1996), a produção de leite (Bartels et al., 2006; ElTarabany, 2015), dias não-gestante (DNG) (El-Tarabany, 2015), intervalo de parto (Ouweltjes et al., 1996; El-Tarabany, 2015), e incidência de metrite (Kaneene e Miller, 1995) são outros fatores identificados como sendo afetados pelo aborto. Existem também relatos de que as vacas que abortam precisam de mais serviços por concepção (Ouweltjes et al., 1996; ElTarabany, 2015) em comparação com aquelas sem aborto.
Em geral, o aborto é definido como morte fetal entre 42 e 260 dias de gestação (Pedro, 2000). Os custos econômicos do aborto variam de acordo com o estágio da gestação em que ocorrem, com uma média geral de U$555,00 dólares (De Vries, 2006). Dependendo de quando o aborto ocorre durante a gestação as consequências econômicas podem ser diferentes.
Na maioria dos estudos anteriores, houve investigação das consequências do aborto relacionados a causas infecciosas específicas e há uma falta de estudos mais gerais sobre as consequências do aborto. Portanto a hipótese desse estudo é que o desempenho das vacas em termos de produção e reprodução pode diferir dependendo da fase da gestação em que o aborto acontece.
Neste estudo, os diagnósticos de gestação foram realizados entre 35 e 55 dias após a inseminação. A incidência do aborto, foi categorizada em dois grupos:
- Incidência ao aborto entre 60 e 260 dias de gestação sem alteração no número de lactação (aborto/re-inseminação);
- Incidência de aborto entre 60 e 260 dias de gestação que resultou em uma nova lactação (aborto/ nova lactação).
Para distinguir entre os dois tipos de aborto, para a coleta de dados em diferentes fazendas, foi criado a campo para inclusão da informação: mudança de lactação = sim ou não.
Vacas descartadas do rebanho por razões que não fossem baixa produção de leite, idade e excedente de animais para reposição foram definidos como descarte involuntário. Descarte de vacas devido a problemas reprodutivos como aborto, natimortos, cistos ovarianos, distocia, retenção de placenta, metrite e infertilidade foram consideradas descarte por razões reprodutivas.
Figura 1. Diagrama de dois tipos de aborto, bem como parto normal. a) Vaca com parto normal e que iniciaram a lactação; b) Vacas que abortaram e iniciaram uma nova lactação c) Vacas que abortaram, foram re-inseminadas e não iniciaram uma nova lactação.
Os resultados do presente estudo corroboram a hipótese de que o desempenho subsequente das vacas leiteiras difere com base na fase da gestação quando o aborto ocorre.
Em geral, os produtores são capazes de determinar as perdas diretas resultantes do aborto, que é a perda da gestação. Porém as perdas econômicas devido ao aborto vão além da perda gestação, especialmente para rebanhos com grandes taxas de aborto. Estes custos são:
- Redução na produção de leite 19% para vacas que abortaram e iniciaram uma nova lactação e 7% que abortaram, foram re-inseminadas e não iniciaram uma nova lactação em comparação com vacas com parto normal.
- Aumento 1,6 serviços/concepção e 132 dias não gestantes para as que abortaram, foram re-inseminadas e não iniciaram uma nova lactação em comparação com vacas com parto normal;
- Probabilidade aumentada de abate prematuro 34% para vacas que abortaram e iniciaram uma nova lactação em comparação com 20% para vacas com parto normal.
Com esses efeitos prejudiciais do aborto no desempenho das vacas quantificados a partir de dados analisados no presente estudo, bem como a alta taxa de aborto (13%) nos rebanhos dos quais os dados foram coletados, pode-se concluir que o conhecimento sobre os efeitos do aborto é importante para melhorar o desempenho reprodutivo e a rentabilidade dos rebanhos.
Mais estudos são recomendados para o desenvolvimento de um modelo econômico para estimar com mais precisão as perdas econômicas resultantes do aborto, e a tomada de decisão de manejo ideais para lidar com vacas em risco de aborto.
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Referências
Esse texto é parte do artigo publicado por Keshavarzi e colaboradores na revista Animal Reproduction Science em 2020 (https://doi.org/10.1016/j.anireprosci.2020.106458)