Interpretação de análises de qualidade da água de propriedade pecuárias |
Embora percebida como um recurso fundamental para a produção, a água sempre foi deixada a margem nas discussões técnicas da cadeia produtiva ou mesmo nas salas de aula e, agora, o setor busca recuperar a água perdida.
O impacto, positivo ou negativo, que a água pode causar em cada sistema de produção não será conhecido sem que ela seja analisada e tenha seus resultados interpretados.
A presença de determinados contaminantes pode gerar prejuízos que nunca foram percebidos como tal pelo simples fato de que nunca foram analisados e avaliados, medidos, e, por isso, são entendidos e tratados como problemas comuns no dia a dia ou até mesmo tratados com medicamentos.
Sistemas pecuários que priorizam a alta performance e avaliam ganhos ou perdas em gramas e até miligramas não podem ignorar o impacto da água no desempenho, produção e produtividade.
A perda de um grama a cada quilo pode ser insignificante para um pequeno produtor, mas representar um alto impacto para a indústria.
O entendimento sobre o que é água de qualidade para a pecuária sempre causa confusões e interpretações controversas. A interpretação da qualidade da água na pecuária deve ser fundamentada na tolerância, necessidade e impactos que essa possa causar em toda cadeia produtiva.
A Instrução Normativa Nº 77, de 26 de novembro de 2018 no artigo 9 apenas menciona que o plano de qualificação deve contemplar a qualidade da água. Mas o guia do Plano de Qualificação e Fornecedores de Leite – PQFL, no item 4.5 “Qualidade a água” orienta que “Objetivando o suprimento de água de boa qualidade para os animais e para a higienização dos equipamentos, devem ser estabelecidos procedimentos que visem a adequada proteção e captação das fontes naturais e higienização dos reservatórios. Para a água destinada a higienização de equipamentos, procedimentos de cloração e monitoramento devem ser estabelecidos.” Reservatórios limpos e água clorada representam alto padrão de qualidade.
Num país continental como o Brasil, com cinco tipos de biomas tão diferentes, a variação da qualidade da água torna a definição de um padrão de qualidade para a pecuária um desafio monumental.
O primeiro passo para definição de um padrão de qualidade que contribua com o desempenho, produção e produtividade é conhecer a água. Para isso, torna-se necessário analisar periodicamente e compilar dados.
A interpretação dos resultados de uma análise de água são complicados. Não pela complexidade de entendimento e avaliação, mas porque, ao olhar para os dados, é necessário que alguns fatores sejam considerados antes de fazer uma recomendação específica.
Estabelecer um padrão, dentro de limites adequados à realidade econômica e geográfica, mas que contribuam com melhores resultados, deve ser uma busca incessante quando o tema é qualidade da água.
Cada água tem um DNA ou uma digital exclusiva. Mesmo propriedades vizinhas podem ter água muito diferentes. Por isso, combinar a nutrição animal com o que a água já oferece de minerais pode ser uma opção a ser considerada no que se refere aos impactos que se originam na composição química da água. Na questão microbiológica, conservar as fontes livres de contaminação externa, filtrar e clorar resolve mais de 80% das possíveis contaminações.
Produzir sem conhecer a água e os efeitos positivos ou negativos que ela oferece é o mesmo que tentar tirar leite no escuro. Não se trata apenas de águas ruins que tragam prejuízos, mas águas boas que podem ser aliadas na reposição mineral, por exemplo, e não estão sendo bem utilizadas.
Analisar e interpretar, além de conhecer a tolerância, necessidade e impactos que a água poda causar em toda cadeia de produção é essencial para o uso correto deste insumo que por tantos anos foi ignorado e agora pode ser o que fará a diferença nos lucros da produção pecuária.
Resumo o tema que será apresentado no VI Simpósio de Produção Animal e Recursos Hídricos – Há 10 anos promovendo o debate técnico e científico sobre a sustentabilidade dos recursos hídricos e produção animal.
JOÃO LUIS DOS SANTOS
Mestre em engenharia agrícola pela Unicamp/Feagri na área de concentração de águas e solo. Atua a mais de 15 anos no desenvolvimento de soluções e tecnologias para tratamento da água na produção animal. Diretor e fundador da Especializo.
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ECOSOLUTIONS MILKARAPOTI - PARANÁ - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA LATICÍNIOS EM 20/02/2020
Para o controle microbiológico você cita, o uso de cloro. O uso de radiacão ultra violeta pode ser utilizado com eficiência e substituindo o cloro?
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JOÃO LUIS DOS SANTOSCAMPINAS - SÃO PAULO - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 21/02/2020
Prezado(a), obrigado pela pergunta.
O que não pode ser medido não pode ser controlado. Processos de desinfecção requerem controle do produto dosado. O cloro, utilizado a mais de 100 anos no tratamento da água, é, indiscutivelmente, o melhor sanitizante no que tange a todas características necessárias para tal. A necessidade de manutenção de um residual do desinfetante ao longo de toda distribuição decorre da ocorrência da contaminação iminente de reservatórios e redes de distribuição. O uso da radiação ultra violeta só é eficaz em sistemas blindados, tubulações em aço inox e quando a água é imediatamente utilizada após sanitizada. Na pecuária leiteira talvez atendesse apenas a água de higienização, mas ainda assim a água deve ter uma turbidez muito baixa para ser eficaz o processo. Pro todos estes motivos e o custo dos dois processos, a cloração ainda é a mais segura e de menor custo e por isso é recomendada no Plano de Qualificação e Fornecedores de Leite - PQFL. Fico a disposição para outras dúvidas e esclarecimentos. Abraço e sucesso. |
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