Entretanto, segundo levantamento de pesquisadores e especialistas em comportamento animal, nem sempre o conforto humano se traduz em benefícios para vacas. Por este motivo que, muitas vezes, erros são cometidos e mantidos no manejo durante anos, afetando a lucratividade da atividade.
Na atividade leiteira, a palavra: "manejo" agrega uma amplitude enorme de conceitos e práticas que nem sempre requisitam investimento, mas que podem gerar resultados surpreendentes. Este é o tema deste artigo que irá abordar a importância do descanso dos animais durante a lactação, como forma de potencializar a produção de leite.
Vacas, realmente, são preguiçosas?
Costumamos dizer que a vaca é um animal preguiçoso e lento, pois só gosta de ficar deitada o tempo todo e só se levanta para comer e/ou beber. Esta é a avaliação mais comum e, por incrível que pareça, completamente precipitada. Ao contrário do que muitos pensam ou classificam, vacas leiteiras são verdadeiras máquinas de trabalho que nem sempre descansam o tempo necessário para manifestarem a máxima produção.
O quadro abaixo revela a distribuição do tempo na rotina diária de uma vaca em condições ideais (sem nenhuma pressão do manejo):
Ao somarmos o tempo em atividade, teremos o valor total de 20 a 23 horas ocupadas por dia. Logo, na melhor das hipóteses, para que a uma vaca possa cumprir suas obrigações sem problemas, em sua "agenda" a mesma terá um "tempo livre" de 4 horas/dia.
Vale a pena lembrar que algumas vacas podem necessitar um tempo maior para a realização de suas "atividades", principalmente vacas de alta produção, desta forma o tempo vago da mesma ao nosso dispor pode ser menor ainda (2 ou 3 horas/dia!!).
É necessário saber que, para uma vaca poder expressar seu máximo potencial de produção não basta fornecermos uma dieta bem formulada com disponibilidade e qualidade de alimentos ou alojarmos animais em instalações confortáveis. É necessário atender também seus requerimentos comportamentais.
De acordo com o quadro acima, cada hora "roubada" do tempo de descanso de uma vaca, teoricamente, faz com que seu "tempo livre" fique menor ainda e cada hora adicional consumida neste intervalo de tempo que o animal nos concede (ordenha e demais atividades de manejo) representa perda na produção.
De acordo com dados experimentais, a superlotação de free-stalls, por exemplo, em 25% pode reduzir o tempo de descanso em 2 horas por dia. A superlotação em 30%,por sua vez, faz com que a vaca que esteja em pé espera "vagar" uma cama para descansar (tamanha a importância do descanso) em detrimento ao consumo de alimento. Contrariando muitos pensamentos ("o bovino leiteiro é um bicho depravado"), entre a cama e a comida, a vaca prefere o descanso.
Ruminação
Além do trabalho físico de redução do bolo alimentar em partículas menores para que ocorra a passagem da digesta do rúmen para os demais compartimentos digestivos, a ruminação exerce importante função tamponante (controle de pH ruminal) ao estimular a produção de saliva.
Além disso, ao ruminar, a vaca concede ao seu organismo um verdadeiro "descanso fisiológico" muito importante, garantindo a sua saúde. Esta atividade pode ser comprometida em casos de desconforto como a superlotação, supra, mencionada, podendo reduzir em até 25% o tempo de ruminação.
De que forma o descanso adequado pode beneficiar vacas em produção?
O quadro abaixo apresenta os eventuais benefícios em termos de produção esperados com uma correção no tempo de descanso. Foram comparados 2 tratamentos: animais descansando de 7 horas/dia Xs animais descansando 12 a 14 horas/dia (recomendado/ideal). Vejamos os resultados:
As informações do quadro acima demonstram a importância do descanso e sua participação em termos de produção de leite. Em outras palavras, para cada hora adicional acima das 7 horas diárias de descanso/vaca/dia teremos condições de o volume de leite produzido em função de melhorias atreladas aos benefícios explicitados no quadro.
Nota: como dado ilustrativo da importância do descanso na produção de leite, Beecher Arlinda Ellen, primeira vaca a quebrar a barreira de 22.650 kg/leite numa lactação "descansava" pelo menos 14 horas por dia.
Conclusões:
Os conceitos mencionados no presente artigo atentam para a questão do tempo de descanso dos nossos animais. Seja num sistema de produção de leite a pasto ou confinado, percebemos que vacas especializadas são muito sensíveis e carentes quanto às possíveis horas disponíveis para uma boa e fundamental "soneca".
A presença de sombra e água fresca com boa oferta de forragem (lotação adequada) em sistema de pastejo, bem como camas (baias) de free-stalls confortáveis, limpas e em número adequado para a quantidade de vacas confinadas são itens que devem ser sempre checados e cumpridos, fazendo com que o manejo adequado se traduza em litros produzidos. Afinal, não somos apenas nós, humanos, merecedores de sonos justos. Vacas também precisam dormir!