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Dominância social de vacas e seus efeitos na produção de animais em pastejo (parte-1)

POR JOÃO PAULO V. ALVES DOS SANTOS

COWTECH

EM 04/07/2003

5 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 26/01/2024

É bastante comum, entre produtores, técnicos e demais envolvidos diretamente com a produção diária de leite, atentar para novidades associadas à nutrição, sanidade, conforto e manejo do rebanho. Entretanto, muito pouco se sabe a respeito da questão comportamental (dominância) dos animais e seus possíveis efeitos na produção, principalmente em sistemas de produção de leite a pasto.

Vacas são animais gregários, ou seja, acostumados a viver "em bando", de acordo com a definição do nosso dicionário. A hierarquia entre elas está associada ao princípio de disputa por espaço e alimento. No pastejo, a prioridade no acesso a melhor forragem pode firmar a base e estrutura hierárquica de um determinado grupamento de animais.

Nos últimos anos, o número de trabalhos envolvendo este tema (comportamento animal) tem aumentado significativamente, entretanto, muitos abordando sistemas confinados. O foco deste artigo é a apresentação e discussão de dados obtidos em experimento publicado, envolvendo o comportamento de animais dominantes Xs animais submissos, em pastejo, e o possível reflexo do mesmo, na produção de leite.

Num experimento realizado por pesquisadores da Universidade de Cambridge (Inglaterra), 66 vacas Friesian, paridas durante a primavera foram submetidas a pastejo (Ryegrass - Lolium perenne L. cv S23), entre 19 de abril e 29 de outubro de 2002. Os animais foram separados de acordo com os seguintes critérios:

  • produção de leite

  • peso vivo

  • dias em lactação
Uma vez separados os lotes quanto aos critérios acima, os mesmos foram distribuídos aleatoriamente em 2 tratamentos:


Na média, a lotação empregada no Tratamento 1 foi de 4,1 UA/ha e no Tratamento 2 (lote suplementado) de 7,5 UA/ha. Semanalmente os animais foram pesados e avaliados quanto ao escore de condição corporal (0 a 5), segundo o método de Mulvaney (1977) e também submetidos a controle leiteiro. O período de pastejo e consumo de silagem foi avaliado através de observação mensal de 24 horas de duração com anotações efetuadas por observadores treinados com freqüência de 10 em 10 minutos durante o dia e de 15 em 15 minutos no período noturno.

A avaliação foi feita através da atribuição de um valor de dominância (dominance value - DV) com a manifestação de no mínimo uma interação comportamental de uma vaca (dominância ou submissão) em relação a um grupo mínimo de 10 outras (Beilharz & Mylrea, 1963). Um dado interessante a ser considerado refere-se ao fato de que as interações comportamentais não puderam ser associadas à presença de novos animais em cada lote, uma vez que os animais selecionados já estavam familiarizados uns com os outros antes do início do experimento. A interação agressiva foi caracterizada como um "comportamento anormal", cuja vaca dominante "investiu" com a sua cabeça contra outros animais (subordinados), empurrando-os.

A taxa de "vitórias" sobre "derrotas", ou seja, a dominância em si, foi transformada numa distribuição normal através da seguinte equação:

DV = seno-1 x (soma das vitórias/número de vitórias + derrotas)½

onde:

DV = valor de dominância (dominance value)


Segundo a pesquisa, não houve correlação da dominância com a produção de leite ou ECC. Não houve diferenças significativas também entre o tempo de pastejo e dominância. No entanto, foi possível encontrar uma correlação positiva entre o peso vivo e o número da lactação quando ambos os tratamentos foram associados.

De acordo com os dados experimentais, a ausência de correlação positiva entre produção de leite e dominância, neste experimento também pôde ser encontrada em outros trabalhos científicos sobre o tema (Beilharz et al., 1996; Dickson et al., 1967, 1970; Soffie et al., 1976). No entanto, uma outra gama de trabalhos apresentou resultados contrários (interação positiva entre produção e dominância - Reinhardt, 1973; Sambraus et al., 1979; Schein and Fohrman, 1995). Assim como os trabalhos citados acima, foi possível associar a dominância com o peso vivo dos animais, no entanto, a ausência de associação do ECC com a dominância mostrou que o fator "volume corporal" é muito mais relevante do que a reserva adiposa do animal quando abordamos a questão hierárquica dos animais (dominância xs submissão). De acordo com Brantas (1968), a dominância está especificamente associada com a capacidade toráxica do animal e seu comprimento, características cruciais que influenciam o comportamento (dominante xs submisso).

A ausência de diferenças significativas envolvendo o tempo de pastejo e dominância pode ser associada à curta duração do mesmo, ou seja, numa situação competitiva de busca por alimento. Os animais tendem a se "esforçar e se preocupar" em apenas manter suas posições na "escala hierárquica" de um determinado grupamento ao invés de tentar exercer um comportamento dominante em relação a outros animais.

Posteriormente, na Parte-2 complementar deste artigo, abordaremos outro experimento deste mesmo trabalho publicado, cujas vacas foram avaliadas quanto ao DV (valor de dominância) com a mesma metodologia aplicada no experimento mencionado neste artigo. Neste experimento os animais foram também subdivididos em dois tratamentos: vacas dominantes mantidas ao longo do dia com vacas submissas e a situação contrária, ou seja, dominantes separadas das submissas. Estes dois tratamentos foram submetidos ainda a duas situações: ausência de suplementação e fornecimento de feno.

Comentário do autor: a questão da dominância entre vacas leiteiras ainda é um assunto pouco discutido, mediante outras prioridades envolvendo o manejo de rebanhos. De acordo com o número de trabalhos publicados e do grande número de resultados controversos, ainda não conseguimos mensurar de forma clara os efeitos negativos de um comportamento submisso (vaca que apanha de outra) na produção de leite, principalmente em sistemas de produção a pasto. Entretanto não deixa de ser uma questão técnica importante que deve ser considerada em sistemas intensivos de produção. Em sistemas confinados, a recomendação técnica de separar vacas de novilhas é bastante empregada, no entanto, nem sempre praticada pelos produtores e criadores, por diversos motivos, dentre os quais destacamos a qualidade, disponibilidade e praticidade das instalações. Quando abordamos o pastejo e lotações, podemos perguntar: até que ponto vacas e novilhas podem pastejar em conjunto sem que as primeiras afetem o desempenho das segundas quanto à manifestação de um comportamento dominante? Desta forma, num país como o nosso, cujo potencial de produção de leite a pasto é significativo em relação às demais potências leiteiras internacionais (Oceania, América do Norte e Europa), todo estudo que possibilite a ampliação de conceitos envolvendo tal sistema de produção é muito importante. Sendo assim, a iniciativa do uso da literatura estrangeira, neste caso, torna-se importante para chamar atenção sobre mais um detalhe técnico a ser estudado pelas nossas instituições de pesquisa.

Fonte: Journal of Dairy Science 85:51-59 (2002)

JOÃO PAULO V. ALVES DOS SANTOS

Espaço para artigos e debates técnicos expostos por especialistas e equipe de consultores.

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