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Substituto de colostro: estratégia para tratamento de doenças respiratórias

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E CRISTIANE TOMALUSKI

CARLA BITTAR

EM 04/05/2021

7 MIN DE LEITURA

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A ocorrência de doenças e a mortalidade neonatal são as principais causas de perdas econômicas na produção pecuária. Assim, compreender os fatores associados à morbidade, mortalidade e crescimento é essencial para melhoria das condições de saúde e desempenho das bezerras e consequentemente da cadeia produtiva de leite.

Diarreia (Figura 1) e problemas respiratórios (Figura 2) estão entre as principais enfermidades que acometem bezerros neonatos, sendo causa significativa da morbidade observada em bezerreiros. Os custos relacionados com Doença Respiratória Bovina (DRB) foram estimados em 42 dólares/animal, enquanto que o tratamento para diarreia foi estimado em 56 dólares/animal (Goodell et al., 2012; Dubrovsky et al., 2020).

Todavia, além dos custos diretos, a ocorrência dessas doenças acarreta em prejuízos relacionados com redução no ganho de peso, redução nas taxas de prenhes e na produção de leite futura. Além disso, reduzir a duração dessas doenças aumenta o bem-estar das bezerras porque são potencialmente dolorosas para os animais.

Da mesma forma, reduz as perdas em desempenho que ocorrem devido ao fato de serem metabolicamente onerosas para o animal, com alto gasto energético para seu combate.

Figura 1 - Bezerro em aleitamento acometido por diarreia

 

Figura 2 - Bezerro em aleitamento com doença respiratória

Atualmente a necessidade de tratamento dessas doenças tem esbarrado em uma pressão, cada vez maior, para a diminuição do uso de antibióticos. Assim, o uso de terapias alternativas tem sido investigado para sua adoção seja para o tratamento ou profilaxia destas doenças. Uma possível terapia alternativa é o uso de nutracêuticos, que são intervenções nutricionais com efeitos positivos sobre o estado fisiológico e de saúde dos animais.

O colostro vem se apresentado como uma alternativa de intervenção nutracêutica em bezerros. Além de seu alto conteúdo de nutrientes e imunoglobulinas, o colostro bovino contém grandes quantidades de substâncias não nutritivas, mas biologicamente ativas, como hormônios e fatores de crescimento que podem ter efeitos locais e sistêmicos no desenvolvimento pós-natal dos bezerros.

Curiosamente, o colostro bovino já vem sendo utilizado como nutracêutico na medicina humana e melhorias imunológicas com seu uso foram relatadas em outras espécies como camundongos, leitões, cães e cavalos. Todavia, até o momento, apenas um trabalho investigou a eficácia nutracêutica do colostro como estratégia de intervenção para bezerros leiteiros com risco de doença.

Existem evidências na literatura de que bezerros leiteiros saudáveis se beneficiam da alimentação preventiva, ou alimentação prolongada de colostro como nutracêutico. Porém, uma limitação para o fornecimento prolongado de colostro é sua baixa disponibilidade, devido a necessidade de fornecimento para os recém nascidos.

Quando se pensa no fornecimento de colostro em pó, a limitação passa a ser o alto custo. Com base nisso, Cantor et al. (2021) desenvolveram um estudo para avaliar se o fornecimento de uma dose de substituto de colostro, como nutracêutico, durante 3 dias a partir dos primeiros sinais de desenvolvimento de doença (alterações no comportamento alimentar) poderia reduzir a probabilidade de ocorrência dessas doenças no rebanho.

Através de um sistema automatizado de alimentação os pesquisadores conseguiam identificar quando os bezerros alteravam seu comportamento alimentar. Neste momento eles passavam a receber intervenções nutracêuticas durante três dias, que consistiam em uma dose de um substituto de colostro ou sucedâneo lácteo (placebo), ambos na proporção de 125 g/dia de produto diluído em 1 L de água e ofertado via mamadeira. Ao final dos três dias os animais deveriam ter consumido 375 g de substituto de colostro ou de sucedâneo lácteo.

Neste trabalho, bezerros que receberam sucedâneo lácteo (placebo) apresentaram 1,64 vezes maior chance de terem DRB nos 7 dias seguintes à intervenção em comparação com os bezerros que receberam colostro. A avaliação das intervenções com colostro ou sucedâneo foi feita avaliando-se a probabilidade de permanecer saudável nos 14 dias subsequentes, tanto para DRB (Figura 3A) como para diarreia (Figura 3B).

Figura 3 A. Estimativas de probabilidade de sobrevivência de Breslow (P <0,01) em indivíduos com risco de apresentarem DRB. O dia 0 representa quando o bezerro apresentou alteração no comportamento alimentar e foi tratado ou com colostro ou com placebo. Todos os bezerros receberam 125 g de sucedâneo lácteo (placebo) ou substituto de colostro diluído em 1 L de água durante 3 dias. O dia 15 representa os bezerros que permaneceram saudáveis

Figura 3 B. Estimativas de probabilidade de sobrevivência de Breslow (P <0,01) em indivíduos com risco de apresentarem diarreia. O dia 0 representa quando o bezerro apresentou alteração no comportamento alimentar e foi tratado ou com colostro ou com placebo. Todos os bezerros receberam 125 g de sucedâneo lácteo (placebo) ou substituto de colostro diluído em 1 L de água durante 3 dias. O dia 15 representa os bezerros que permaneceram saudáveis

 

Houveram efeitos dessas intervenções apenas para os casos de DRB, de maneira que, a probabilidade de os animais permanecerem saudáveis, 13 dias após receberem colostro foi quase o dobro que aquela observada para aqueles que receberam sucedâneo (0,60 versus 0,33).

Além disso, o tempo médio decorrido após a intervenção até a manifestação DRB foi de 7,5 dias para o grupo alimentado com sucedâneo e de 10,5 para os que receberam colostro. Com isso, ao final do experimento os autores concluíram que o substituto de colostro pode servir como nutracêutico para bezerros em aleitamento, pois reduziu o risco de doenças respiratórias e aumentou a probabilidade destes animais permanecerem saudáveis 15 dias após o fornecimento.

Nesse cenário, o fornecimento precoce de colostro como nutracêutico garante maior bem-estar para os bezerros, uma vez que DRB é uma das principais causas de mortalidade na fase de cria, além de apresentar custo elevado de tratamento e afetar negativamente o desempenho e a produtividade futura dos animais.

Em outros trabalhos, o fornecimento de colostro por longos períodos reduziu a probabilidade e a duração de DRB durante o primeiro ano de vida e aumentou a produção de leite na primeira lactação.

A grande vantagem observada nos dados de Cantor et al. (2021) foi a obtenção desses benefícios preventivos do uso de colostro como nutracêutico, alimentando os bezerros por um curto período de tempo, o que reduz os gastos e a mão-de-obra despendida com esse manejo.

Pesquisas recentes comprovaram que a alimentação prolongada de colostro por 14-21 dias reduz os riscos de diarreia, o número de dias com diarreia e o número de dias em tratamento com antibióticos.

Aparentemente, esses efeitos positivos só são observados quando o fornecimento de colostro se dá por longos períodos e durante a fase inicial de desenvolvimento, cobrindo principalmente, a segunda e terceira semanas de vida. Essa necessidade se deve ao fato de que nesse período ocorre o declínio da imunidade passiva e a imunidade ativa ainda é imatura contra patógenos entéricos, fazendo com que os bezerros estejam extremamente suscetíveis a apresentarem quadros de diarreia (Hulbert e Moisá, 2016).

Com relação aos efeitos da alimentação com colostro sobre o ganho de peso/desempenho de bezerros, a literatura ainda é muito limitada. Os trabalhos existentes indicam a necessidade de suplementação por períodos prolongados e com volumes elevados (Kargar et al., 2020). Assim, ainda é necessária uma avaliação da viabilidade, principalmente econômica, da adoção desse manejo.

Apesar de não terem encontrado efeitos do fornecimento de colostro sobre o desempenho dos bezerros, Cantor et al. (2021) relataram que o consumo de concentrado na semana seguinte à intervenção foi maior para os animais que receberam colostro (Placebo: 160 g/dia; Colostro: 280 g/dia). Da mesma forma, a ingestão de concentrado dos bezerros pós desaleitamento foi inferior naqueles que receberam placebo (Placebo: 3,52 kg/d; Colostro: 4,08 kg/d).

Em resumo, o colostro bovino vem se apresentando como uma alternativa interessante para uso nutracêutico em bezerros, visando reduzir as taxas de morbidade nessa categoria, atendendo as exigências do consumidor e de uma cadeia produtiva cada vez mais exigente.

Entretanto, vale ressaltar a necessidade de pesquisas futuras para isolar e identificar a influência de cada um dos fatores presentes no colostro, como imunoglobulinas, lactoferrina ou outros componentes, sobre as melhoras observadas na saúde de bezerros e avaliar seu uso em animais mais velhos.

De qualquer modo, este é mais uma importante aplicação do fornecimento de colostro no manejo alimentar de bezerras leiteiras, que pode auxiliar na manutenção da saúde, redução na ocorrência de DRB e efeitos no consumo de concentrado.

 

Referências

Cantor, M. C. et al. 2021. Nutraceutical intervention with colostrum replacer: Can we reduce disease hazard, ameliorate disease severity, and improve performance in preweaned dairy calves? Journal of Dairy Science.

Dubrovsky, S. A. et al. 2020. Preweaning cost of bovine respiratory disease (BRD) and cost-benefit of implementation of preventative measures in calves on California dairies: The BRD 10K study. Journal of dairy science, v. 103, n. 2, p. 1583-1597.

Goodell, G. M. et al. 2012. An alkalinizing oral rehydration solution containing lecithin-coated citrus fiber is superior to a nonalkalinizing solution in treating 360 calves with naturally acquired diarrhea. Journal of dairy science, v. 95, n. 11, p. 6677-6686.

Hulbert, L. E.; Moisá, S. J. 2016. Stress, immunity, and the management of calves. Journal of dairy science, v. 99, n. 4, p. 3199-3216.

Kargar, S. et al. 2020. Extended colostrum feeding for 2 weeks improves growth performance and reduces the susceptibility to diarrhea and pneumonia in neonatal Holstein dairy calves. Journal of Dairy Science, v. 103, n. 9, p. 8130-8142.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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JAIRO EDELSIO GONÇALVES PEREIRA

CAÇAPAVA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 18/05/2021

A silagem de colostro (como desenvolvido nos trabalhos de Saalfeld), poderia ser caracterizado como nutracêutico? Ou apenas o colostro in natura?

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