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Simental leiteiro e Holandês: características e produção

VÁRIOS AUTORES

ANDRÉ THALER NETO

EM 10/06/2021

7 MIN DE LEITURA

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Em diversos artigos nesta coluna temos escrito sobre o cruzamento entre Holandês e Jersey como uma alternativa para a produção de leite.

Entretanto, diversas outras raças leiteiras especializadas de origem europeia têm sido utilizadas em sistemas de cruzamento, tanto em cruzamento somente com Holandês, como entrando com uma terceira raça em sistemas de cruzamento com mais raças.

Dentre estas raças se destacam Simental Leiteiro ou Fleckvieh, Montbéliarde, Suíco Leiteiro, Normando, Sueca Vermelha e Norueguesa Vermelha (KAPPES et al., 2020)

Uma alternativa que tem se destacado neste contexto de utilização de cruzamentos é a utilização da raça de dupla aptidão Simental em programas de cruzamento com Holandês (Figura 1).

A raça Simental é originaria da Suíça, na região montanhosa do vale do rio Simen, e atualmente é bastante difundida na Europa, estando presente também em todos os demais continentes, se tornado a segunda raça de maior importância na Europa, considerado o número de animais para produção de leite e carne, ficando atrás apenas da raça Holandês e mestiças com maior grau de sangue Holandês.

De acordo com os relatórios das associações da raça Simental de alguns países europeus a Alemanha concentra o maior número de animais, com cerca de 3.500.000 cabeças de Simental, representando um pouco menos de 30% do total. Na Áustria e na Sérvia a raça representa 80% do total de bovinos no país (Bogdanovic, 2009).

Figura 1: vaca Holandês1 (esquerda) e vaca Simental2 (direita).

Da mesma forma que a utilização da raça Simental tem sido crescente no mundo todo, a sua utilização em programas de cruzamento tem se intensificado, inclusive no Brasil. Nos estados do Sul do país e em São Paulo vários produtores passaram a utilizar este cruzamento em seus rebanhos.

No ano de 2013 os produtores iniciaram junto ao MAPA o processo de reconhecimento desta nova raça, denominada Simlandês, formada a partir do cruzamento das raças Simental e Holandês (veja aqui).

A utilização deste cruzamento já está bem estabelecida em países europeus, nos quais diversos trabalhos têm mostrado bom desempenho produtivo e reprodutivo. No Brasil, os primeiros trabalhos apresentando resultados produtivos deste sistema de cruzamento são bastante recentes (KNOB et al., 2016, 2018).

Neste artigo, vamos inicialmente abordar aspectos relacionados à produção e composição do leite, contagem de células somáticas (CCS), consumo de matéria seca (CMS) e eficiência alimentar, de vacas mestiças Holandês x Simental em relação às puras Holandês. Traremos os principais resultados das nossas pesquisas realizadas no Sul do Brasil e trabalhos realizados em outros países.

Em uma série de trabalhos realizados por nosso grupo de pesquisa na UDESC/CAV observamos bom desempenho produtivo das vacas mestiças F1 ½ Holandês x Simental (Figura 2) quando comparadas as vacas puras Holandês.

Em um trabalho em sistema de semi-confinamento em Santa Catarina, as vacas mestiças produziram 1,4 litros/ dia a mais em relação as puras Holandês, sem diferir nos teores de gordura (KNOB et al., 2018).

Neste contexto, fatores como maior CCS das vacas Holandês podem ter contribuído para a maior produção de leite das vacas mestiças. Em sistema de confinamento do tipo Compost Barn, avaliando o mesmo sistema de cruzamento no inverno e no verão, não foi observada diferença na produção de leite entre as mestiças e puras Holandês, com produção de 44 litros/dia na média dos dois períodos experimentais, com uma produção variando de 38,2 litros no verão (dias em lactação médio 144 ± 75,8) a 50,1 no inverno (dias em lactação médio 96 ± 50), demostrando grande potencial produtivo das vacas mestiças (KNOB, 2020) (Tabela 1).

Tabela 1 - Produção, composição e escore de células somáticas (ECS) do leite de vacas Holandês e mestiças ½ Holandês x Simental.

Figura 2: Vacas mestiças F1 ½ Holandês x Simental em sistema se semiconfinamento1 (esquerda) e sistema de confinamento do tipo Compost Barn3 (direita).

Estes resultados são similares aos encontrados por outras pesquisas ao redor do mundo, o que indica uma boa capacidade de adaptação das vacas mestiças em diferentes sistemas de produção e a capacidade das mestiças Simental serem competitivas em comparação às vacas Holandês.

De maneira geral, a produção de leite das vacas mestiças de primeira geração (F1) Holandês x Simental ou Montbéliarde variam de 90 a 100% da produção de uma vaca pura Holandês, produção, sendo que a produção de mestiças Holandês x Jersey chega em média a 93% da produção de vacas Holandês (KAPPES et al., 2020).

Em sistemas de cruzamento rotacionado entre duas raças, um dos grandes questionamentos é como proceder na geração subsequente a F1, quando a heterose tem seu menor valor e a variação de desempenho entre vacas é maior. Mesmo assim, a utilização alternada da raça paterna e materna nas gerações após a F1 ainda parece a melhor opção.

No caso do cruzamento entre Holandês e Simental, a variação entre animais entre gerações não é tão acentuada por se tratar de duas raças de tamanho similar. Em avaliações de desempenho da segunda geração oriunda do cruzamento entre Holandês x Simental, tanto com a utilização de Holandês após a F1 (¾ Holandês) quanto com a utilização de Simental (¾ Simental) (Figura 3) não foi observada diferença para a produção de leite em rebanhos no Sul do Brasil, sendo que apenas mestiças ¾ Simental tiveram menor produção (27,02, 26,47, 26,49 e 24,56 litros/dia, respectivamente).

Os teores de gordura e proteína foram menores para vacas Holandês, enquanto a CCS foi similar em todos os grupamentos (KNOB et al., 2019). Em um trabalho recente realizado na Alemanha, incluindo vacas puras Simental, não observamos diferenças para produção de leite e teores de gordura entre os grupamentos genéticos, variando de 33,8 a 37,8 litros/vaca/dia e 3,52 a 3,72%, respectivamente, nos primeiros 100 dias da lactação. Os teores de proteína foram maiores para vacas Simental e mestiças meio sangue, as quais não diferiram dos demais grupamentos genéticos (KNOB et al., 2021).

Figura 3: Vaca mestiça ¾ Holandês ¼ Simental1 (esquerda) e vaca ¾ Simental ¼ Holandês2 (direita). 

 

Outro aspecto importante dentro da atividade leiteira é a eficiência alimentar, já que o custo de alimentação é o de maior impacto na produção de leite.

Nos dados apresentados a seguir esta avaliação está representada por quantos litros de leite a vaca produziu por kg de MS consumida (Leite/KG de matéria seca).

Nestes experimentos o consumo foi similar nas vacas Holandês e mestiças ½ Holandês x Simental (24,4 e 24,1 kg de MS/vaca/dia) ou 3,21 e 3,11% do peso vivo ao dia em condições de confinamento, assim como a eficiência alimentar, sendo que vacas Holandês produziram 1,75 e vacas mestiças 1,81 litros de leite por kg de MS consumida (KNOB, 2020).

O fato de as vacas mestiças apresentarem eficiência alimentar similar às puras é importante, pois vacas mestiças apresentam melhor escore de condição corporal ao longo de toda a lactação (KNOB et al., 2016), porém sem implicar em maior consumo nas vacas mestiças para atender as demandas de energia.

Os resultados apresentados demonstram que vacas oriundas do cruzamento entre Holandês e Simental conseguem ser competitivas em termos de produção e composição do leite e eficiência alimentar em relação as vacas Holandês.

No próximo artigo iremos abordar o desempenho reprodutivo e aspectos relacionados ao metabolismo das vacas nesse sistema de cruzamento.

 

Fonte das imagens:
1 Fazenda Agro Pecuária Gato do Mato Ltda, Bom Retiro, SC.
2 Faculdade de Medicina Veterinária da Ludwig-Maximilians-Universität (LMU) Munique, Alemanha.
3 Produtor: Andre Fernando Zezak, Guatambu, SC

Referências
BOGDANOVIC, V. Simmental cattle breed in different production systems. Biotechnology in Animal Husbandry 25 (5-6), p 315-326, 2009.

KAPPES, R.; KNOB, D. A.; ALESSIO, D.R.M.; THALER NETO, A. Melhoramento animal por meio de cruzamentos entre raças leiteiras especializadas: heterose e complementariedade. Investigação Científica e Técnica em Medicina Veterinária. 1ed. Ponta Grossa: Atena Editora, 2020, p. 31-54.

KNOB, D. A.; ALESSIO, D. R. M.; THALER NETO, A.; MOZZAQUATRO, F. D.. Reproductive performance and survival of Holstein and Holstein × Simmental crossbred cows. Tropical Animal Health and Production, v. s v, p. 0049-4747, 2016.

KNOB, D. A.; ALESSIO, D. R. M.; THALER NETO, A.; MOZZAQUATRO, F. D.. Growth, productive performance, and udder health of crossbred Holstein x Simmental cows and purebred Holstein cows. Semina. Ciências Agrárias (ONLINE), v. 39, p. 2597, 2018.

KNOB, D. A.; SCHOLZ, A. M.; ALESSIO, D. R. M.; MENDES, B. P. B.; PERAZZOLI, L.; KAPPES, R.; THALER NETO, A.. Reproductive and productive performance, udder health, and conformation traits of purebred Holstein, F1, and R1 crossbred Holstein × Simmental cows. Tropical Animal Health and Production, p. online, 2019.

KNOB, D. A. Evaluation of feed efficiency, biochemical parameters and mammary gland health of crossbred Holstein x Simmental cows in comparison with purebred Holstein cows during lactation and transition periods. Tese de Doutorado, UDESC, Lages, SC, 2020.

KNOB, D. A.; THALER NETO, ANDRE; SCHWEIZER, H.; C. WEIGAND, ANNA; KAPPES, R.; SCHOLZ, ARMIN M.. Energy Balance Indicators during the Transition Period and Early Lactation of Purebred Holstein and Simmental Cows and Their Crosses. Animals, v. 11, p. 309, 2021.

DEISE ALINE KNOB

Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal (CAV/UDESC)

ANDRÉ THALER NETO

Médico veterinário, doutor em melhoramento genético de bovinos de leite. Professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), no Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV) em Lages, SC

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FERNANDO CERÊSA NETO

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/06/2021

Muito bom. Gostaria de receber informação sobre o estudo se, no cruzamento, foram utilizados:
a) touro holandês e matriz simental, ou
b) touro simental e matriz holandês e, por último, se há diferença em termos de produção ao se direcionar o cruzamento obedecida uma das alternativas;
Fernando Ceresa Neto
ANDRÉ THALER NETO

LAGES - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 17/06/2021

Prezado Fernando

O cruzamento adotado dos trabalhos realizados no Brasil é com a inseminação de vacas Holandês com sêmen de touros da raça Simental importados da Alemanha. Esse sistema é o mais utilizado no Brasil pois são poucos os rebanhos com matriz Simental, e quando há, o inverso também é feito.
Nos rebanhos alemães é comum a inseminação de vacas Simental com touros Holandês, porém nos resultados apresentados nesse artigo não há uma separação desses dois sistemas de cruzamento. Um dos únicos trabalhos que avaliou os dois tipos de cruzamento é o de Schichtl 2007. Quando cruzado touros Holandês com vaca Simental a produção de leite foi de 7934 litros em 305 dias de lactação, ao cruzar touros Simental com vacas Holandês a produção foi de 7673, o que representa 96,8 e 93,6% da produção das vacas Holandês deste estudo. Quando avaliado a produção de leite corrigido para energia a diferença fica ainda menor, sendo de 7934 e 7969 litros em 305 dias, respectivamente. Para nenhuma das duas variáveis houve diferença estatística significativa.

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