O gado leiteiro, especialmente os animais de alta produção, apresentam dificuldades de adaptar a elevadas temperaturas. Nos dias mais quentes, vários mecanismos fisiológicos e celulares são ativados na tentativa de minimizar o efeito do calor.
O primeiro mecanismo fisiológico é o evaporativo, com isso o animal aumenta a frequência respiratória e produz suor para liberar o calor. O aumento da frequência respiratória é o primeiro sinal que o animal está sob condições de estresse por calor. A frequência cardíaca também irá aumentar para redistribuir o sangue para a superfície do corpo, liberando o calor para o ambiente.
Por outro lado, se tais mecanismos não forem suficientes, a temperatura corporal do animal aumentará acima dos níveis normais, gerando condições de estresse por calor severo (Figura 1). Nessas condições, o sistema imunológico do animal irá produzir e liberar as proteínas de choque térmico (HSP) que irão proteger as células contra danos e morte permitindo o funcionamento normal dos tecidos.
Figura 1. Vacas de mesma raça criadas em um mesmo ambiente apresentam temperaturas corporais diferentes.
Fonte: https://cgil.uoguelph.ca/features
A função imunológica está ligada com o estresse térmico?
No catálogo de leite do Canadá, os animais são classificados com base em seus valores genéticos, ou diferença esperada na progênie (DEP), para a resposta imunológica. Com isso, pesquisadores da Universidade de Guelph, avaliaram se as vacas que apresentam maiores DEP para a imunidade também toleram melhor as ondas de calor.
Nesse estudo, constataram que os animais que apresentam alta imunidade, também apresentam frequência respiratória mais baixa em dias quentes. Diante disso, interpretaram que os animais de alta resposta imunológica produzem uma maior concentração da HSP e consequentemente, uma maior proliferação celular.
Ou seja, se a vaca leiteira apresentar boa resposta imunológica, ela irá proteger efetivamente as células durante o estresse térmico e isso irá resultar em incremento na produção e saúde.
O que acontece na prática?
Para se proteger do aumento da temperatura corporal, o organismo do animal desvia a energia que seria usada para produção de leite e reprodução para proteger as células de danos e morte desencadeado pela condição de estresse térmico.
Por outro lado, os animais que possuem alta imunidade, mesmo em condições de estresse, são capazes de usar a energia da alimentação para a produção, enquanto as HSPs realizam o suporte de proteção celular. Dessa forma, as vacas leiteiras que apresentam alta imunidade além de serem mais resistentes às doenças, são mais tolerantes a altas temperaturas sem prejudicar sua produção e reprodução (figura 2).
E as raças mais usadas no Brasil?
Nesse sentido, pode ser fundamental incorporar animais de alta imunidade em um rebanho leiteiro para ajudar na prevenção de perdas econômicas tanto por doenças quanto por estresse térmico. Por meio de uma coleta de sangue e informações de pedigree é possível acrescentar essa informação nos sumários de leite de raças brasileiras.
Esse ajuste na composição genética dos animais, pode melhorar a produção, reprodução e o bem-estar animal mesmo sob elevadas temperaturas ambientais.
Figura 2. Vacas que apresentam alta resposta imunológica em condições de elevadas temperaturas
Fonte: Adaptada pelos autores
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Autores
Paola Perez Bóscollo – Zootecnista (FAZU-MG), Mestra em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ-USP), Doutoranda em Ciências Veterinárias (FAMEV-UFU);
André Madeira Silveira França – Médico Veterinário (FAMEV-UFU), Mestre em Ciências Veterinárias (FAMEV-UFU), Doutorando em Ciências Veterinárias (FAMEV-UFU);
Sara Adna Santos de Oliveira - Médica Veterinária (UPIS), Mestranda em Ciências Veterinárias (FAMEV-UFU);
Mara Regina Bueno de Mattos Nascimento - Médica Veterinária (FAMEV-UFU), Mestra e Doutora em Zootecnia, área de concentração: Produção animal (UNESP-Jaboticabal), Professora Titular da FAMEV-UFU.
Referência Bibliográfica
CARTWRIGHT, S.L. et al. Effect of In-vivo heat challenge on physiological parameters and function of peripheral blood mononuclear cells in immune phenotyped dairy cattle. Veterinary Immunology and Immunopathology, Ontario, Canadá, v. 246, p. 110405, march, 2022.
Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0165242722000253