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Inovação tecnológica da indústria de lácteos frente as demandas da cadeia de produção leiteira e as necessidades de consumidores

POR ANA CAROLINA VISCARDI PLEFH

E FERENC ISTVAN BÁNKUTI

INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 03/08/2023

8 MIN DE LEITURA

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Introdução

O movimento de migração dos produtores rurais para os centros urbanos é notado desde 2010, em especial na região Sul e Sudeste do Brasil (Hein e Silva, 2019). Estima-se que 5 mil produtores deixaram a atividade leiteira a cada ano (Cintra, 2022).Contudo, dados da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) demonstram que a demanda por commodities agrícolas e produtos de origem animal e seus derivados, apresentaram crescimento de 2% ao ano na última década. (FAO, 2022).

O Brasil é o terceiro maior produtor de leite mundial (FAO, 2017). A atividade leiteira nacional, proporciona mão de obra – das técnicas mais artesanais ou manuais às técnicas robóticas ou automatizadas (Alvim e Martins, 2004; Ferro et al., 2017). A produção mundial de leite aumentou de mais de 50% (FAO, 2019) nas últimas décadas, sendo mais de 800 milhões de toneladas produzidas.

Devido ao arranjo econômico entre governo e produção rural, que levou a liberação do preço do leite em 1991 e as políticas de transição de moeda anteriormente implantadas (Gomes, 2001; Alvim e Martins, 2004), o perfil de produção e consumo de lácteos no Brasil, sofreu alterações. Desde ganhos de produtividade, especialização, capacitação técnica, elevação dos padrões de qualidade, ideias de sustentabilidade e conhecimento dos consumidores, quanto aos benefícios do consumo de leite e derivados aliado ao poder de compra (Bastian, 2022).

Em conjunto com essas transformações na cadeia de produção de leite, outros fatores como: maior competitividade, diminuição da sucessão familiar (Boscardin et al., 2017) e aumento do padrão de qualidade do leite requerido pelas indústrias, refletiu na saída de produtores rurais provenientes da agricultura familiar.

Em resposta à essas alterações no mercado lácteo, as indústrias de leite se viram em busca de alternativas para suprir o mercado interno sem que houvesse prejuízo nos padrões de qualidade dos produtos. Desta forma, esse estudo avaliou a atitude das indústrias para atender os consumidores quanto a produção e comercialização de produtos lácteos que, por sua vez, possuem valor agregado alto frente aos produtos de origem vegetal.

Pesquisa e desenvolvimento na indústria de lácteos

A tecnologia tem sido amplamente aplicada na indústria de lácteos, até mesmo antes das demais indústrias de alimentos em geral. O leite, é um alimento completo, sendo esse um elemento “perfeito” para alcançar ao máximo a satisfação e desejo do consumidor – sendo assim, aplicável aos processos tecnológicos devido a versatilidade de criação de novos produtos (Steele, 1989).

Os centros de pesquisas das indústrias de alimentos ou, até mesmo, de instituições de ensino e pesquisa ligados às indústrias, não inovam sozinhos (Christensen, 2000), unem-se ao conhecimento técnico e científico inerentes ao processo de geração e difusão de inovações (Pinho et al., 2002) além de outras demandas encontradas dentro da cadeia de produção do alimento ou, até mesmo, dos desejos e necessidades do consumidor.

Para que o processo de inovação e criação de um produto aconteça, faz-se necessário uma motivação de toda a cadeia produtiva (Maslow, 2005), desde a cobrança do produtor quanto a melhores indicadores de qualidade do leite na produção (Brasil, 2018), quanto a elaboração de produtos que atendam os requisitos de qualidade – fazendo juízo à dedicação do produtor, e abrangendo todos os perfis de consumidores brasileiros.

A tecnologia aplicada na criação, visa também o outro lado da cadeia de produção – o consumidor, sendo das classes mais elevadas economicamente até aquelas que desejam consumir o produto lácteo, mas não possuem poder aquisitivo para compra de um produto “puro” (sem mistura de ingredientes vegetais na composição).

Já, a motivação está ligada diretamente à produtividade, porém vem dos interesses da indústria e centros de pesquisa, detentoras do conhecimento e poder de implantação (Maslow, 2005).

Figura 1 – Diagrama de modelo de conceitualização da motivação para novos projetos na indústria.

Diagrama de modelo de conceitualização da motivação para novos projetos na indústria

Adaptado de Maslow, A. (2005). Motivational Theories and Their Application.

A motivação e a ideia inovadora precedem o planejamento da tecnologia a ser desenvolvida (Maslow, 2005). A tecnologia é associada ao conceito de fabricação do produto, que parte do planejamento de produto, o qual identifica as necessidades e as características de aplicabilidade do produto (gera o dinamismo entre preço e qualidade); seguido da engenharia do produto, que vem desde o conhecimento até o modo de fabricação; a engenharia de aplicação, que por sua vez busca dados de aplicabilidade no mercado e incentiva o consumo; por fim, a engenharia pós-venda, que consiste no cuidado com a comercialização e atendimento ao consumidor (Steele, 1989).

Novos produtos lácteos e a relação com a legislação

A principal legislação que regulamenta os princípios de fabricação industrial e inspeção sanitária de produtos de origem animal no Brasil, é o RIISPOA (Regulamento de inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal), MAPA (Brasil, 2017).

Além do RISPOA, a Portaria n° 146 de 1996 (Regulamento técnico de identidade e qualidade de leite e produtos lácteos – RTIQ – MAPA) traz os requisitos de qualidade, sensoriais, de produção e fabricação de leite e produtos lácteos. Essa Portaria permite o uso de ingredientes – de origem não animal, como o caso de amidos, farinhas e óleos vegetais e ingredientes de origem animal (Brasil, 1996; Brasil, 2017), com o próprio soro de leite e o leitelho, considerados coprodutos da indústria de leite.

Essa alternativa, que permite a criação das misturas e dos compostos lácteos, não só traz inovação para o mercado – com a criação de novos alimentos, mas ajuda a suprir a demanda, de tal forma que haja equilíbrio entre o leite produzido para atender o mercado interno e atingir o consumidor que busca consumir produtos lácteos. Como exemplo desse cenário, conseguimos observar a inovação por trás do “leite condensado”, que por sua vez deve apresentar como ingredientes obrigatórios: o leite fluido ou o leite concentrado ou ambos e sacarose, segundo o definido pela Instrução Normativa n° 47 de 2018 do MAPA (IN 47).

Embora o § 4º do Art. 5° da IN 47/18 não permita o uso de gordura ou óleo vegetal, maltodextrina e amidos no leite condensado, é permitido pelo RIISPOA a criação de compostos e misturas lácteas, que por sua vez podem ser vistas no mercado como “mistura de leite condensado com amido”. Nesse caso, o produto lácteo não é o leite condensado propriamente dito, mas uma mistura, que em níveis sensoriais atende ao desejo do consumidor ao mesmo tempo que consegue manter o preço até 35% mais barato que o leite condensado “puro”.

Em resumo, a tecnologia avança na criação de novos produtos ou alteração de fórmulas já existentes de forma que o mercado seja suprido. É intuitivo que essa necessidade nasceu, primeiramente para “corrigir” a demanda industrial de leite nas épocas de escassez, de forma que mantivessem as condições de negociação e fixação dos preços na relação comercial entre produtor e indústria, além de presar pelo baixo custo das adequações na sua produção (Bánkuti et al., 2008), o qual seria reflexo na mesa do consumidor.

Considerações finais

O desenvolvimento de novos produtos pela indústria de lácteos, parte dos requisitos dados à qualidade, resguardando três princípios: garantia de qualidade do produto pelos Serviços de Inspeção, garantia de qualidade pelo controle de produção e a garantia de qualidade dada pelo consumidor final. A garantia aprovada pelo consumidor final é caracterizada pelos requisitos de qualidade e complementada pela relação custo e benefício.

Sendo assim, a indústria de lácteos no Brasil, busca alternativas para estar presente na mesa do consumidor, mesmos nos momentos de escassez da matéria prima (leite) e de forma que atenda tanto o público de alto padrão econômico quanto aos padrões mais inferiores, contudo, a indústria e a legislação cobram por produtos de qualidade e que assegurem a saúde do consumidor.

 

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Referências

ALVIM, R. S; MARTINS, M. C. (2004). Desafios nacionais da cadeia produtiva do leite.In: ZOCCAL, R., AROEIRA, L. J. M., MARTINS, P. C., MOREIRA, M. S. P., & ARCURI, P. V. (Ed.). Leite: uma cadeia produtiva em transformação. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 11-24

BÁNKUTI, F. I; SOUZA FILHO, H. M; BÁNKUTI, S. M. S. (2008). Mensuração e análise de custos de transação arcados por produtores de leite nos mercados formal e informal da região de São Carlos, SP. Organizações Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 10, n.3, 343-358.

BASTIAN, A; SHNEIDER, M. B. (2022). Um mercado sem contrato: produtores familiares de leite do oeste do Paraná. Revista Orbis Latina – ISSN 2237-6976 –  Disponível em <websitehttps://revistas.unila.edu.br/index.php/orbis>

BOSCARDIN, M.; CONTERATO, M. A. As mudanças nos padrões sucessórios e suas implicações no destino das propriedades entre agricultores familiares no norte do Rio Grande do Sul. Estudos, Sociedade e Agricultura, 2017, v. 25, n. 3, p. 671-695.

BRASIL. Ministério Da Agricultura, Pecuária E Abastecimento (1996). Regulamento técnico de identidade e qualidade de leite e produtos lácteos - RTIQ. Diário Oficial da União.

BRASIL. Ministério Da Agricultura, Pecuária E Abastecimento (2017). Regulamento de inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal – RIISPOA. Diário Oficial da União.

BRASIL. Ministério Da Agricultura, Pecuária E Abastecimento (2018a). Instrução normativa n°76, de 26 de novembro de 2018. Diário Oficial da União, edição 230, seção 1, p. 9.

BRASIL. Ministério Da Agricultura, Pecuária E Abastecimento (2018b). Instrução normativa n 47 de 2018 que dispõe sobre o padrão de qualidade e identidade do leite condensado. Diário Oficial da União.

CHRISTENSEN, C. (2000). The Innovator´s Dilemma. Boston: Harvard Business School Press

CINTRA, L.A. (2022) Leite caro: altos custos levam fazendeiros a desistir do ramo. Newsletter. Folha de S. Paulo. Ano 103 - N° 34.459.

FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations (2019). FAOSTAT:commodities by country. [S. I.]. https://www.scielo.br/pdf/resr/v45n3/a03v45n3.pdf.

FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations (2022) Milk production. [S. I.]. https://www.fao.org/dairy-production-products/production/en/.

FERRO, A. B; CARVALHO, M. P; MARTINS, P. C; SPERS, R. G; ROCHELLE, T. C. P. (2007). Contextualização da cadeia produtiva do leite no Brasil. In: CARVALHO, M. P., MARTINS, P. C., WRIGHT, J. T. C., & SPERS, R. G. Cenários para o leite no Brasil em 2020. Embrapa Gado de Leite. Juiz de Fora, 190 p

GOMES, S. T. (2001). Diagnóstico e perspectivas da produção de leite no Brasil. In: VILELA, D., BRESSAN, M., & CUNHA, A. S. (Ed.). Cadeia de lácteos no Brasil: restrições ao seu desenvolvimento. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 21-38.

MASLOW, A. (2005). Motivational Theories and Their Application in Construction. Morgantown, vol 47, p14.

PINHO, M.; Côrtes, M.R.; Fernandes, A. (2002). Redes de firmas, inovação e o desenvolvimento regional. projeto de pesquisa “Potencialidades e Limites para o Desenvolvimento de Empresas de Base Tecnológica no Brasil: contribuições para uma política industrial”. (UFScar)

ANA CAROLINA VISCARDI PLEFH

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